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A Sala Popular de Cinema Olney São Paulo é um dos projetos autogestionários da Casa da Resistência, um cineclube comunitário que realiza exibições gratuitas e debates abertos em nosso espaço ou em comunidades pobres de Feira de Santana. 

A Sala Popular de Cinema Olney São Paulo é um projeto que se relaciona com a dinâmica permanente de cultura, formação e educação popular que a Casa da Resistência promove desde a sua fundação em 2009. Mantemos também uma videoteca online em plataformas virtuais como Youtube, Telegram e Facebook, com o objetivo de socializar importantes obras do audiovisual para a formação política de lutadores e lutadoras do povo.

Nossa sala carrega orgulhosamente o nome do cineasta sertanejo Olney Alberto São Paulo, ícone muitas vezes esquecido do audiovisual militante brasileiro. Nascido em Riachão do Jacuípe, no sertão baiano, em 7 de agosto de 1936, Olney se mudou com a família ainda adolescente para Feira de Santana, se destacando como estudante no Colégio Santanópolis, onde participou do grêmio estudantil, escreveu para o jornal da escola e foi orador de sua turma. Em 1954, acompanhando as filmagens de um episódio do longa-metragem com produção alemã “A Rosa-dos-Ventos” (Die Windrose, 1957) que ocorreram em Feira de Santana, Olney decidiu-se pelo mundo do cinema. Muito ativo em sua militância cultural, se envolveu com teatro amador, foi redator do jornal “O Coruja”, criou o programa de rádio “Cinerama” e se tornou cineasta autodidata, enquanto dava aulas de contabilidade e foi aprovado em concurso do Banco do Brasil.

Em 1955 dirigiu “Um crime na rua”, seu primeiro curta-metragem produzido de forma amadora. Nesse período, Olney também participou da Associação Cultural Filinto Bastos, criou a Sociedade Cultural e Artística de Feira de Santana (SCAFS) e o Teatro de Amadores de Feira de Santana (TAFS). Escrevendo contos, muito influenciado por Jorge Amado, conquistou prêmios nacionais com “Festim à meia-noite” e “A última História”. Escreveu também o roteiro do documentário “O Bandido Negro”, sobre o escravo rebelde Lucas de Feira (1804-1849), líder do bando que aterrorizou senhores e comerciantes na região de Feira de Santana.

No início dos anos 1960, Olney entra em contato com Nelson Pereira dos Santos e o Cinema Novo, participando de produções como Mandacaru Vermelho e O caipora, começa também a escrever e dirigir a revista literária Sertão (1961-63). Em 1964, dirigiu seu primeiro longa-metragem, O Grito da Terra, baseado no romance Caatinga, de Ciro de Carvalho Leite, um filme de ficção que trata de temas como a alfabetização do povo sertanejo e a reforma agrária, com ele participou de importante festivais e sofreu censura por uma menção feita ao “Cavaleiro da Esperança”, Luiz Carlos Prestes.

Em 1969, Olney lança “Manhã Cinzenta”, ambientado em um país fictício da América Latina, o curta-metragem retrata um casal de estudantes presos e torturados após uma passeata, sofrendo um inquérito absurdo dirigido por um robô e um cérebro eletrônico. O filme que lhe rendeu reconhecimento internacional, foi censurado no Brasil e distribuído clandestinamente no país e no exterior, foi também o motivo da sua prisão e tortura pela ditadura militar fascista. “Manhã Cinzenta” teria sido exibido durante o sequestro do avião Caravelle PP-PDX da Cruzeiro do Sul, que foi tomado por militantes do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (o segundo MR-8) quando voava de Belém para Manaus e teve sua rota desviada para Cuba. Falsamente acusado de ligações com o sequestro, Olney foi torturado por 12 dias, saindo da prisão muito debilitado e sendo internado com problemas de saúde que viriam a causar sua morte em 15 de fevereiro de 1978.

Com uma formação fortemente influenciada pelo neorrealismo italiano e o western norte-americano, o cinema marginal de Olney São Paulo lhe rendeu a alcunha de “cineasta maldito do sertão”, por seus temas subversivos e os questionamentos da realidade social brasileira. Como um dos representantes da Segunda Fase do Cinema Novo (1964–1968), entre curtas, médias e longas, Olney São Paulo dirigiu 14 filmes, trabalhando mesmo debilitado até o fim de sua vida. Segundo Glauber Rocha, em seu livro Revolução do Cinema Novo (1981): “Olney é a Metáfora de uma Alegorya. Retirante dos sertões para o litoral – o cineasta foi perseguido, preso e torturado. (…) ‘Manhã Cinzenta’ é o grande filmexplosão de 1968. Panfleto bárbaro e sofisticado, revolucionário a ponto de provocar prisão, tortura e iniciativa mortal no corpo do Artysta.”