A resposta ao Estado racista e seu genocídio é organizar a Rebelião Negra e Popular

“Quanto a aqueles massacres locais, periódicos, malditos a qual todos vocês estão sempre vulneráveis, vocês precisam se vingar deles do seu próprio jeito. […] Esse é o começo do respeito! Vocês não são, de forma alguma, indefesos. Pois a tocha do incendiário, que se sabe ser capaz de mostrar a assassinos e tiranos a linha do perigo, a qual eles não podem atravessar com impunidade, não pode ser tirada de vocês.” Lucy Parsons, histórica dirigente operária e revolucionária afro-indígena dos EUA. Vivemos uma situação de massacre permanente contra o povo. Por um lado as milhares de mortes diárias por Covid-19, com a intenção deliberada dos governos e dos capitalistas, especialmente do governo fascista e genocida Bolsonaro/Mourão. Por outro, prosseguem as matanças e chacinas contra o povo negro e pobre nas favelas e periferias do país, que se somam ao avanço da situação de miséria e fome, ao maior nível de desemprego da história, aos despejos desumanos e a violência contra camponeses pobres e os povos indígenas, em uma guerra aberta e permanente do Estado brasileiro a serviço dos ricos contra o povo pobre e a classe trabalhadora no país. A Chacina do Jacarezinho é um episódio brutal dessa guerra contra o povo pobre e do genocídio negro no Brasil. Uma operação ilegal, a serviço das milícias e dos corruptos e fascistas que estão no poder. O terrorismo de Estado que deixou 29 mortos no Jacarezinho é extermínio programado, os governos de Bolsonaro e Cláudio Castro dão seguimento as políticas genocidas dos governos do PT/PMDB, com o encerramento em massa e as UPPs, que transformaram o Rio de Janeiro em um laboratório da guerra racial e neoliberal contra negros e pobres, com uma política inédita de ocupação militar de territórios racializados que nem mesmo a ditadura militar-empresarial fez. O massacre no Jacarezinho não pode ser visto de forma isolada, pois faz parte da dinâmica da dominação capitalista e racista no Brasil, onde a brutalidade policial, o extermínio, os massacres e o genocídio negro são políticas de Estado e não apenas decisões de governos, variando sua intensidade de acordo com as gestões de turno, mas que permanecem inalteradas em sua essência. Os massacres nas favelas brasileiras são também parte do genocídio transnacional contra os povos. Com tropas treinadas nos massacres da famigerada Minustah no Haiti, utilizando a tecnologia sionista-israelense do apartheid palestino e as táticas de guerra suja do Estado militarizado da Colômbia, tudo obviamente sob coordenação do principal inimigo da humanidade, o imperialismo estadunidense. Bolsonaro e Cláudio Castro, são dois facínoras, que tem obviamente interesses diretos na Chacina do Jacarezinho, para fortalecer as milícias e rivalizar com a decisão do STF que regulamenta as operações em favelas, mas os massacres têm uma lógica mais profunda que unifica toda a cadeia de dominação burguesa. As polícias matam, a grande mídia justifica, o poder executivo legitima e o judiciário é cúmplice. Racismo e capitalismo são duas faces da mesma moeda, como nos avisou Steve Biko, por isso o capitalismo brasileiro, estruturado pela escravidão e pelo ódio antinegro se entrelaça com a lógica do programa neoliberal e a necessidade em queimar capital variável e aumentar os níveis de exploração, reduzir o exército de reserva de desempregados, ao mesmo tempo em que controla através da brutalidade policial e do terror institucional o proletariado marginal e a revolta contra a situação de miséria, fome e desemprego que o governo fascista Bolsonaro/Mourão vem aprofundando. Construir a Greve Geral e organizar a rebelião negra e popular precisa ser a nossa resposta ao Estado brasileiro e aos governos genocidas. Nesse 13 de maio, Dia Nacional de Denúncia Contra o Racismo reafirmamos a necessidade da construção da autodefesa comunitária como nosso caminho para enfrentar a brutalidade policial e pôr fim aos massacres de nosso povo. Exigimos o fim da polícia assassina e das operações e massacres nas favelas, da violência no campo e dos despejos, nos solidarizamos com os povos em luta contra o genocídio transnacional também na Colômbia, no Haiti e na Palestina. Campanha Nacional pela Greve GeralBrasil, 13 de maio de 2021. Baixe em formato de panfleto para impressão A4, aqui.

Lima Barreto: 140 anos de um intelectual do povo negro e trabalhador

No dia 13 de maio de 1881, há 140 anos, nasceu Afonso Henriques de Lima Barreto, mais conhecido como Lima Barreto. Lima Barreto escreveu importantes obras da literatura brasileira, e também diversas cartas, crônicas e artigos. Veio a falecer no ano de 1922. O seu engajamento político muitas vezes é desconhecido ou apresentado de forma superficial. Lima Barreto sempre foi próximo a importantes figuras do sindicalismo revolucionário desde a sua juventude. Conheceu José Oiticica, Edgard Leuenroth, dentre outros. Escreveu um artigo para o primeiro número do jornal A Voz do Trabalhador, órgão oficial da Confederação Operária Brasileira (COB) e colaborou com outros jornais anarquistas e sindicalistas. Apoiou publicamente a grande Greve Geral de 1917, a Greve Geral e a Insurreição Popular no Rio de Janeiro em 1918, defendeu a Revolução Russa de 1917, criticou duramente a escravidão, a opressão sobre o povo negro, os imigrantes pobres e o povo trabalhador de forma geral. Em homenagem a esse importante intelectual e trabalhador brasileiro publicamos aqui o texto “Sobre a Carestia” publicado, não por acaso, em 1917, ano da grande Greve Geral. Nesse artigo Lima Barreto faz uma dura crítica aos capitalistas e ao Estado e defende o uso da violência pelos oprimidos para lutar contra a carestia de vida. O artigo foi retirado do livro “Antologia de artigos, cartas e crônicas sobre trabalhadores”. *** SOBRE A CARESTIA As várias partes do nosso complicadíssimo governo se têm movido para estudar e debelar as causas da crescente carestia dos gêneros de primeira necessidade à nossa vida. As greves que têm estalado em vários pontos do país muito têm concorrido para esses passos do Estado. Entretanto, a vida continua a encarecer e as providências não aparecem. Não há necessidade de ser muito enfronhado nos mistérios das patifarias comerciais e industriais, para ver logo qual a causa de semelhante encarecimento das utilidades primordiais à nossa existência. Nunca o Brasil as produziu tanto e nunca elas foram tão caras. O plantador, o operário agrícola continua a ganhar o mesmo; mas o consumidor as está pagando pelo dobro. Quem ganha? O capitalista. Ele e unicamente ele, porquanto o fisco mesmo continua a receber o mesmo ou quase o mesmo que antigamente. O açúcar, por exemplo, que descera de preço nestes últimos anos, é um caso típico da ladroeira capitalista, da mais nojenta. Os usineiros e os seus comparsas, comissários, etc. no intuito de esfolarem a população nacional ou residente no Brasil, descobriram que o melhor meio de o fazerem era vender grandes partidas, para o estrangeiro, pela metade do preço porque as vendem aqui. Semelhantes patifes, com umas teorias econômicas da Escola do Pinhal de Azambuja, dizem que, se não fizessem tal coisa, seria a débâcle do seu negócio. Isto veio escrito nos jornais, com aquela arrogância peculiar a fazendeiros, especialmente os de cana, e fabricantes de açúcar. É o que eles chamam o “alívio”. Nada mais absurdo e mais besta. Todo o fito do aperfeiçoamento das nossas máquinas, dos nossos processos industriais (é o caso do açúcar), tem sido produzir muito, rapidamente, para vender barato, de modo que o lucro, por mais insignificante que seja em um quilo, somado nas toneladas, dê, por fim, um lucro fabuloso. O Portela, aí da Casa Colombo, sabe bem disso, no tocante ao seu comércio, pois afirma que a sua divisa é “vender muito, para vender barato”. Se o açúcar que eles vendem à República Argentina fosse lançado nos nossos mercados, o pequeno lucro que desse, junto ao lucro obtido com nossos mercados, o pequeno lucro que desse, junto ao lucro obtido com aquele que até agora fica aqui, seria suficiente para remunerar o capital mais judeu deste mundo. Não é necessário ir buscar autoridades em finanças e economia política, para demonstrar coisa tão evidente. Entretanto, a ganância, o cinismo, a desfaçatez, a alma de piratas dos caciques do açúcar não querem ver isto e esfomeiam os seus patrícios. Por falar em pátria… A pátria é um laço moral, dizem; mas, quando os Zés Bezerras, os Pereiras Limas e outros rompem esses laços, de forma tão bucaneira, como acabo de mostrar no caso do açúcar, de que modo posso mais respeitá-los, a eles, nas suas vidas e nos seus haveres? Creio que me acho desobrigado de toda e qualquer prisão moral com semelhantes patifes. Em presença deles, devo proceder como em presença do salteador que me toma os passos, em lugar ermo, e me exige os níqueis que tenho no bolso. Só há um remédio, se não quero ficar sem os magros cobres: é matá-lo. Não há necessidade, entretanto, de o fazer, na parte relativa a esses cínicos do açúcar e outros. Semelhante gente não se incomoda em morrer: incomoda-se em perder dinheiro ou em deixar de ganhá-lo. É tocar-lhes na bolsa, que eles choram que nem bezerros desmamados. O povo até agora tem esperado por leis repressivas de tão escandaloso estanco, que é presidido por um ministro de Estado. Elas não virão, fique certo; mas há ainda um remédio: é a violência. Só com a violência os oprimidos têm podido se libertar de uma minoria opressora, ávida e cínica; e, ainda, infelizmente, não se fechou o ciclo das violências. Quando um ministro de Estado, como o Rufino o é, cuja missão, na especialidade do seu departamento, é prover às necessidades gerais da população, atender aos seus clamores, impedir a opressão de uma classe sobre as demais, regular o equilíbrio das forças sociais, se faz caixeiro ou chefe de trust, para esfomear um país, não há mais para onde apelar senão para a violência, para a brutalidade da força! Não há outra esperança, pois eles dominam todo o mecanismo legal – o Congresso, os juízes, os tribunais – e tudo isto só fará o que eles quiserem, e seria vão socorrermo-nos desse aparelho. É doloroso chegar a semelhante conclusão; é doloroso ver tanto sangue generoso derramado, tanta lágrima chorada, tanto estudo, tanta abnegação, tanto sacrifício, tanta dor de grandes homens e daqueles que os amaram e apoiaram, é doloroso,