Lições curdas sobre a libertação das mulheres

Recentemente, as mulheres curdas foram incluídas nas manchetes da mídia ocidental por seu papel no combate ao autointitulado Estado Islâmico (EI), especialmente na ocasião das operações de retomada de Raqqa, na Síria. As guerrilheiras curdas foram retratadas deste lado do mundo como heroínas da democracia e do combate ao terrorismo islâmico, a partir de uma narrativa orientalista que busca enquadrar sua agência política no universo dos valores liberais da contemporaneidade ocidental. Entretanto, essa abordagem não compreende os processos protagonizados por essas guerrilheiras, visto que as unidades de autodefesa feminina são apenas uma pequena parte da batalha dessas mulheres por sua vida e liberdade. Nas últimas décadas, a experiência do movimento radical de mulheres curdas produziu um projeto de libertação que é, em grande medida, crítico e até mesmo antagônico a elementos constitutivos do feminismo ocidental, tais como a democratização das instituições, o empoderamento feminino individual e a sororidade. Para compreender essas críticas e as alternativas teóricas e práticas propostas por elas, é necessário entender o contexto em que essas mulheres lutam: a revolução no noroeste do Curdistão. LIBERTANDO A DEMOCRACIA DO ESTADO Desde tempos imemoriais, os curdos resistem à exploração, guerras e genocídios. Trata-se de um povo cujo território foi retalhado e usurpado pela imposição das fronteiras de quatro Estados nacionais: Turquia, que ocupa o norte do Curdistão (Bakur), Síria à oeste (Rojava), Iraque ao sul (Basûr) e Irã ao leste (Rojhilat). Esses Estados têm promovido esforços de limpeza étnica visando a destruição da identidade curda, como deslocamentos forçados, proibição da língua, rituais e celebrações, perseguição às organizações e lideranças, confisco de terras e monumentos, renomeação de seus marcos históricos e geográficos tradicionais, além do genocídio que tem exterminado fisicamente milhares de curdos. Na primeira metade do século XX, os movimentos nacionalistas curdos travaram um profundo combate contra o colonialismo, reivindicando a criação de um Estado nacional para seu povo, demanda negada pelos tratados internacionais do Pós-Primeira Guerra Mundial. O fracasso da luta independentista e a perseguição imposta pelos Estados, estimularam a reorientação estratégica de uma das organizações políticas que atuava na luta armada pela libertação nacional do Curdistão, o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), fundado em 1978 na Turquia. Seu novo projeto político e social, elaborado teoricamente por Abdullah Öcalan (encarcerado em isolamento na Turquia desde 1999), foi denominado confederalismo democrático e tem a libertação das mulheres como um de seus eixos fundamentais. O confederalismo democrático se tornou o paradigma adotado pelos movimentos curdos radicais nas regiões de Bakur e Rojava [1], que deixaram de promover uma luta de libertação nacional com o objetivo de criação de um Estado independente, e passaram a se dedicar à construção de uma nação democrática que se autogoverna. Nessa perspectiva, o sistema estatal é substituído por um sistema democrático do povo sem Estado. Ao rejeitar o nacionalismo e o poder estatal, o confederalismo democrático curdo promove uma experiência anticapitalista, antiestatista e antipatriarcal.No contexto da Guerra Civil na Síria, o enfraquecimento das tropas de Assad no norte do país ofereceu a oportunidade para que a população do Curdistão sírio efetivasse seu projeto de autodeterminação, iniciando sua revolução em 2012. Na época, 2 milhões e meio de pessoas vivam na região. Em 2014, é publicada a constituição federativa e autônoma de Rojava. Rojava é composta por 3 cantões autônomos e confederados, Cizîri, Kobanî e Afrin. A organização nesses territórios ocorre a partir de um sistema de conselhos populares, cuja unidade mais fundamental são as comunas, instâncias deliberativas de bairros ou vilas de até 400 famílias, que funcionam em um sistema assembleário em regime de democracia direta, em que todos tem direito à voz e voto. As comunas deliberam e executam medidas políticas, econômicas, educacionais e de segurança relativas ao seu local de moradia. As comunas enviam representantes para os conselhos de bairros e aldeias, que representam até 30 comunas e elegem representantes para os conselhos distritais, que tem jurisdição sobre cidades inteiras. O conselho superior da região de Rojava é o Conselho Popular do Curdistão (MGRK), em que participam delegados dos três cantões. Ao lado das instâncias deliberativas, existem as instâncias executivas, algo parecido com um parlamento, as Administrações Autônomas Democráticas. Estruturas análogas existem em Bakur (norte do Curdistão, região atualmente ocupada pela Turquia). Nessa organização, o poder é descentralizado e emana da esfera local. Cada cantão estabelece suas instituições e milícias com completa autonomia e os princípios para sua confederação são a livre associação e a solidariedade. As escolhas de representação nas instâncias respeitam critérios de proporcionalidade de etnia (10% para minorias étnicas e religiosas) e gênero (40% de mulheres). A coexistência pacífica e colaborativa entre diferentes etnias e religiões é baseada no princípio do pluralismo radical, que garante a autonomia organizativa e representação a todos. Há ainda o critério de coliderança – todas as reuniões, comitês e órgãos são presididos conjuntamente por um homem e uma mulher. Em todos os níveis, existem as instâncias exclusivamente femininas, que tem poder de veto sobre as deliberações das instâncias gerais. Nas regiões autônomas, a população local é incentivada a se dedicar à agricultura e pecuária, atividades historicamente reprimidas pelos regimes estatais para forçar a dependência e vulnerabilidade dos curdos. O sistema de economia popular se baseia no trabalho coletivo e cooperativado, na abolição da propriedade privada da terra e infraestruturas, na gestão dos trabalhadores e no manejo ecológico. Existem diversas cooperativas de trabalhadoras, com a perspectiva de restaurar a capacidade produtiva das mulheres e garantir sua independência econômica a partir do controle sobre os produtos do trabalho. AUTODEFESA NA SOCIEDADE CONFEDERALISTA DEMOCRÁTICA Não se pode ignorar que esse projeto luta para se afirmar em um cenário de guerra. Como resultado da retirada parcial das tropas dos EUA/Coalização e da operação Fonte de Paz, quando tropas turcas avançaram sobre território sírio e conseguiram romper a continuidade territorial de Rojava (em 06 e 09 de outubro, respectivamente), se intensificaram os ataques das chamadas células “dormentes” do Estado Islâmico. Agora, seus atentados são especificamente direcionados à membros da Administração Autônoma ou das forças de defesa curdas. Os

Roda de Conversa sobre a Insurreição do Povo Chileno

Nesse sábado, dia 18 de janeiro, às 15h na Casa da Resistência, recebemos camaradas do Chile para uma Roda de Conversa sobre a Insurreição do Povo Chileno e a Resistência Popular na América Latina.  #FueraPiñera#ChileDespertó Leia nossa análise “Greve e Rebelião: a nova via chilena” e também o artigo “Retrato de um clã da Primera Línea”, com tradução da Editora Terra sem Amos.

GREVE GERAL E REBELIÃO: A NOVA VIA CHILENA

Mais de um mês de rebelião no Chile. Uma legítima insurreição popular, onde a ação direta, as barricadas, a Greve Geral e a luta combativa nas ruas são os principais elementos. O incansável povo chileno rejeita a tutela, a conciliação e a traição da esquerda institucional e enfrenta de forma heroica a repressão brutal do governo assassino e neoliberal de Sebastián Piñera. Centenas de pessoas cegas, um incontável número de presos políticos, estupros, torturas e dezenas de desaparecidos e mártires assassinados por carabineiros. Cortes de estradas por todo o país, barricadas e enfrentamentos heroicos, a beleza da música rebelde como elemento da memória histórica contra a ditadura, as expressões visuais da rebelião pintadas e coladas em todos os lugares, escudos, molotovs, muitos molotovs, lasers contra blindados e cachorros militantes enfrentando a polícia. É uma situação pré-revolucionária, com um governo reacionário e pró-imperialista derrotado e acuado que aumenta a brutalidade da repressão e tem como resposta o crescimento da radicalização e da resistência do povo rebelado nas ruas. A classe trabalhadora chilena e a juventude combatente, com uma decisiva participação das mulheres do povo, além da agenda contra o neoliberalismo, tomou para si a pauta anticolonial, atacando os símbolos do colonialismo e o povo Mapuche avança para um autogoverno autônomo. A dualidade de poder também se expressa nas assembleias populares autoconvocadas, baseadas na auto-organização territorial do povo trabalhador. Parlamentares da esquerda institucional são expulsos das praças por manifestantes, após tentarem salvar o governo com um acordo para uma Constituinte tutelada pelo regime reacionário. O povo chileno faz sua própria história, após viver anos de uma brutal ditadura e de farsa democrática. A coragem e a incansável resistência popular foi precedida de anos de organização de base e trabalho militante de diversos movimentos populares combativos e organizações revolucionárias. A unidade popular que envolve mais de 140 organizações do povo garante a rejeição aos acordos entre as frações de poder para salvar o regime e a convocação unitária de uma sequência de paralisações da Greve Geral é outra chave do processo insurgente. A rebelião também devolveu ao povo chileno a vontade de viver, a esperança na luta coletiva zerou os suicídios e são diversos os relatos de pessoas que superaram quadros de depressão participando das mobilizações, num país privatizado e vendido como modelo neoliberal na América Latina. A crise capitalista se aprofunda no mundo, a rebelião que sacudiu o Equador, prossegue com o heroico povo haitiano e agora vai tomando forma na Greve Geral da Colômbia e se iniciando no Panamá, tendo no Chile o seu maior bastião. A América Latina será a tumba do capitalismo. O povo é e sempre será o segredo da vitória. ABAIXO A REPRESSÃO E O GOVERNO PIÑERA!VIAVA A INSURGÊNCIA DO POVO CHILENO E A REBELIÃO NA AMÉRICA LATINA!TODO PODER AO POVO! PELO SOCIALISMO E AUTOGOVERNO POPULAR! 

Rojava resiste: solidariedade ao povo curdo e ao PKK contra a invasão turca

Segundo o Partido dos Trabalhadores do Curdistão – PKK, organização revolucionária do povo curdo, “a agressão turca tem o claro objetivo de derrotar a Revolução Libertária de Rojava, invadindo as terras do norte e leste de Síria para eliminar a administração autônoma democrática e perpetrar um genocídio contra os curdos de Rojava, como no caso de Afrin, reduzindo à escravidão os demais povos destas terras, e assim, dividindo a Síria.” […] “Este ataque se dirige contra a existência e a liberdade curdas, a unidade democrática e a fraternidade entre os povos da Síria, contra a democracia na própria Turquia e no Oriente Médio, assim como, contra toda a humanidade. Seu objetivo é dar sobrevida aos mercenários do Isis/Daesh que foram derrotados pelas forças curdas das YPG, YPJ e FDS, e novamente voltar ameaçar o mundo inteiro com estas forças mercenárias.” […] “As forças genocidas de ocupação do exército turco estão atacando os povos curdos, árabe, assírio, sírio, armênio, turcomano e circassiano que vivem no norte e leste da Síria com as armas da OTAN e com as armas compradas dos Estados Unidos, Alemanha, Rússia e China. Essas são as armas utilizadas na agressão, massacre e invasão iniciada pela Turquia contra os povos do norte e leste da Síria em 9 de outubro. Por esta mesma razão, principalmente os Estados Unidos e a Rússia, mas também as Nações Unidas e todos os estados que apoiam a Turquia, são responsáveis pela invasão do norte e leste de Síria e de qualquer massacre e genocídio que se cometa neste território. Com o apoio de todas estas forças, o Estado turco está perpetrando de forma explícita um massacre contra os curdos em pleno século XXI, um crime contra a humanidade e os demais Estados se convertem em seus cumplices”. […] Mas, “uma luta pela sobrevivência começou entre as forças mais tirânicas e as mais justas da história. Os curdos de Rojava, os povos do nordeste da Síria e nosso povo nas quatro partes do Curdistão e no exterior devem saber que a história nos confiou mais uma vez a tarefa de representar a honra, a humanidade e a liberdade. Embora seja extremamente desafiador e tenha um alto custo, é nossa obrigação cumprir esta missão histórica e honrada, que empreenderemos no espírito de Agit e Zilan, seguindo o caminho do líder Apo (Öcalan) e dos mártires, assim como fizemos no passado sacrificando dezenas de milhares de mártires. Não podemos deixar de fazê-lo. Para nós, é a única maneira de existir e viver livremente como povo. Não esqueceremos que apenas a resistência levará à vitória.” […] “Acreditamos que curdos, árabes e todos os demais povos e forças de defesa do nordeste da Síria empreenderão a defesa da humanidade livre, nos baseando no chamado para a mobilização da Administração Autônoma Democrática; qualquer homem e mulher que possa pegar em armas deve converter cada casa em um quartel general e cada rua em um campo de batalha para erguer uma gloriosa resistência contra os bárbaros fascistas partidários de Recep Tayyip Erdoğan, do AKP e MHP, e para enterrar a mentalidade e a política colonialista e genocida da Turquia nas terras de Rojava”.

EQUADOR EM REBELIÃO

O povo do Equador se ergue, poderoso. Povos indígenas, trabalhadores/as, camponeses/as e estudantes ocupam as ruas, fecham estradas, cercam os prédios dos governos e autoridades locais, enfrentam a polícia e o exército, tomam cidades e liberam territórios do controle estatal-capitalista. A insurreição que toma conta do país tem um forte caráter autônomo e espontâneo, não se submetendo as tentativas de tutela do correísmo (corrente ligada ao ex-presidente Rafael Correa) e foi iniciada pela mobilização espontânea de motoristas contra o aumento de 120% dos combustíveis e pelo “paro provincial” em Carchi, antecipando o chamado da CONAIE (Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador) para o dia 15 de outubro. É uma resposta do povo ao pacote neoliberal do governo Lenín Moreno e do FMI, que também ataca os serviços públicos e os direitos dos trabalhadores. Em represália, o governo de direita de Lenín Moreno, eleito pelo Alianza País com apoio do agora seu ex-aliado e auto exiliado Rafael Correa, decretou “Estado de Exceção” e acendeu de uma vez a chama da rebelião. A Greve Geral, ou Paro Nacional de 3 de outubro, tomou proporções de um gigantesco levante popular em todas as partes do país. Povos indígenas decretaram seu próprio “Estado de Exceção” em seus territórios ancestrais. Há saques em grandes lojas nas cidades, militares presos pelos manifestantes, sublevações da costa do pacífico à região amazônica, passando pela região andina, confrontos de grandes proporções com a repressão, tanques de guerra nas ruas, jornalistas espancados, milhares de lutadores presos e alguns mortos. Manifestantes também desligaram os sinais das TVs vendidas ao governo neoliberal que mentiam sobre à justa e legítima rebelião do povo equatoriano, tendo em sua vanguarda os povos indígenas e sua organização, a CONAIE. Mais de 20 mil indígenas em marcha acabaram de chegar nesta noite de 7 de outubro na capital, Quito, com o objetivo de derrubar Lenín Moreno e todo seu governo, denunciam também a repressão ordenada pelo governo e o alto comando do exército equatoriano pelas detenções arbitrárias, centenas de feridos e lutadores assassinados nas manifestações e bloqueios. Outra Greve Geral foi convocada pelas organizações populares, de trabalhadores/as, mulheres, estudantes e indígenas para próxima quarta-feira, dia 9 de outubro. O povo insurgente do Equador mostra o caminho para os demais povos da América Latina: a greve geral, a luta popular revolucionária, as barricadas e a ação direta, a insurreição popular para derrotar os governos, os patrões, o imperialismo e a agenda neoliberal. SOLIDARIEDADE AO LEVANTE DO POVO EQUATORIANO, CONTRA O PACOTE NEOLIBERAL E A REPRESSÃO DO GOVERNO LENÍN MORENO! VIVA A INSURREIÇÃO POPULAR!

Nota de solidariedade à VII Marcha Internacional Contra o Genocídio do Povo Negro

Saudamos as e os combatentes e participantes da Marcha Internacional contra o Genocídio do Povo Negro, que chega a sua 7ª edição mantendo acesa a chama da tradição radical negra na Bahia, saudamos também a iniciativa da Reaja Organização Política e da Escola Winnie Mandela em permanecer na vanguarda da defesa da vida, da liberdade e da justiça para o Povo Negro, e não se dobrar diante da lama da prostituição política e do mar do oportunismo racial de quem se rendeu e se vendeu ao governo genocida de Rui Costa, em troca das migalhas da supremacia branca e da institucionalidade colonial e burguesa. É necessário dizer o que enfrentamos. Os governos petistas na Bahia anteciparam o bolsonarismo com a ampliação do Estado policial, do genocídio negro, do terrorismo de Estado e gestão da barbárie neoliberal. Enquanto Rui Costa, sua base de apoio e linha-auxiliar blefam contra aspectos do governo neonazista de Jair Bolsonaro para efeitos de propaganda, seu governo organiza um holocausto negro na Bahia, ampliando a brutalidade e a letalidade policial, o encarceramento em massa, intensificando as matanças de pretos e pobres nas periferias e favelas da capital e do interior, e de forma descarada esse governo antecipou o genocida Pacote Anti-Crime que torna as execuções extrajudiciais e os crimes cometidos por policiais uma política de Estado, através da Instrução Normativa Conjunta Nº 01, de 8 de julho de 2019. A Polícia Militar da Bahia assume contra a maioria negra e favelada a função de uma tropa neocolonial, covarde e nazista que aterroriza, violenta e assassina um povo desarmado e traído, na capital e no interior. Rui Costa, como um bolsonarista de vermelho ou sua versão caricata, carioca e assumidamente neonazista, Wilson Witzel, governador do Rio de Janeiro, também comemora a morte de pessoas negras e autoriza ataques aéreos contra comunidades pobres. O governo petista-bolsonarista da Bahia também ataca os direitos da maioria negra e pobre, a educação pública e o direito de greve dos/as trabalhadores/as, privatiza serviços, favorece os grandes capitalistas, o agronegócio e os ataques ao meio ambiente, além de antecipar a política de militarização de escolas e organizar um famigerado e camuflado apoio à Reforma da Previdência que vai colocar milhões de trabalhadores/as na miséria, afetando principalmente o povo negro e as mulheres do povo, enquanto enriquece ainda mais os bancos e os patrões. Acreditamos, defendemos e propormos à Reaja, aos grupos e coletivos autônomos, às organizações negras e populares combativas, aos lutadores e lutadoras sinceros da capital e do interior a construção de uma unidade real e revolucionária entre os que não se renderam ao oportunismo e as mentiras da esquerda institucional. Para erguer uma Frente contra o Genocídio do Povo Negro e o Terrorismo de Estado na Bahia que impulsione de forma permanente a mobilização, a ação e a denúncia dos crimes do Estado racista e neocolonial, tendo como caminho a construção de organismos comunitários de proteção e autodefesa negra e popular, para enfrentar a supremacia branca, o Estado genocida e os governos de turno da direta fascista ou da esquerda traidora. REAJA OU SERÁ MORTO, REAJA OU SERÁ MORTA!ABAIXO O TERRORISMO DE ESTADO, O FASCISMO INSTITUCIONAL E O GENOCÍDIO DO POVO NEGRO!ORGANIZAR A AUTODEFESA NEGRA E POPULAR!JUSTIÇA PARA PEDRO HENRIQUE!LIBERDADE PARA DARK MC! Casa da Resistência – FOB – Centro Popular George Américo – Coletivo Carranca – Rede Estudantil Classista e Combativa (RECC) 22 de agosto, Bahia.

Lucy Parsons e o 1º de Maio: Eu sou uma Anarquista

Eu sou uma anarquista. Suponho que vocês tenham vindo aqui, a maioria de vocês, para ver como é uma anarquista de verdade ao vivo. Suponho que alguns de vocês esperavam me ver com uma bomba em uma das mãos e uma tocha em chamas na outra, mas estão desapontados por não ver nem uma coisa nem outra. Se tais têm sido suas ideias sobre anarquistas, vocês mereceram estar desapontados. Anarquistas são pessoas pacíficas, cumpridoras da lei. O que anarquistas querem dizer quando falam em anarquia? Webster [1] dá ao termo duas definições: caos e o estado de existir sem norma política. Nós nos atemos à última definição. Nossos inimigos sustentam que acreditamos apenas na primeira. Você se pergunta por que existem anarquistas neste país, nesta grande terra da liberdade, como vocês amam chamá-la? Vá a Nova York. Ande pelas vielas e becos dessa grande cidade. Conte as miríades [2] famintas; conte os ainda mais numerosos milhares que estão sem teto; numere aqueles que trabalham mais duro do que escravos e vivem com menos e têm menos conforto que o escravo mais humilde. Você ficará perplexo com suas descobertas, você que não prestou nenhuma atenção a esses pobres, salvo como objetos de caridade e comiseração. Eles não são objetos de caridade, eles são vítimas da injustiça de classe que permeia o sistema de governo, e da política econômica que domina do Atlântico ao Pacífico. Sua opressão, a miséria que ela causa, a desgraça a qual dá origem, são encontradas em maior extensão em Nova York do que em qualquer outro lugar. Em Nova York, onde não muitos dias atrás dois governos se uniram para desvelar uma estátua da liberdade, onde uma centena de bandas tocou aquele hino de liberdade, ‘A Marselhesa’ [3]. Mas praticamente a mesma situação é encontrada entre os mineiros do Oeste, que vivem na miséria e vestem trapos, para que os capitalistas, que controlam a terra que deveria ser livre para todos, possam adicionar ainda mais aos seus milhões! Ah, existem muitas razões para a existência de anarquistas. Mas em Chicago eles acham que anarquistas não têm qualquer direito de existir, de forma alguma. Querem enforcá-los lá, legalmente ou ilegalmente. Vocês ouviram sobre um certo encontro do Haymarket. Vocês ouviram sobre uma bomba. Vocês ouviram sobre prisões e mais prisões feitas pelos detetives. Aqueles detetives! Há um bando de homens, pior ainda, bestas! Detetives de Pinkerton! Eles fariam qualquer coisa. Tenho certeza que capitalistas queriam que um homem jogasse aquela bomba no encontro do Haymarket para culpar os anarquistas por isso. Pinkerton poderia ter feito isso para ele. Vocês ouviram bastante sobre bombas. Vocês ouviram que os anarquistas disseram muito sobre dinamite. Lhes disseram que Lingg fazia bombas. Ele não violou nenhuma lei. Bombas de dinamite podem matar, podem assassinar, assim como as metralhadoras. Suponham que aquela bomba tenha sido jogada por um anarquista. A constituição diz que existem certos direitos inalienáveis, dentre os quais estão a liberdade de imprensa, de expressão e de reunião. Aos cidadãos desta grande terra é dado pela constituição o direito de repelir a invasão ilegal destes direitos. O encontro na praça do Haymarket foi um encontro pacífico. Suponham que, quando um anarquista viu a polícia chegar em cena, com um olhar assassino, determinada a dissolver aquele encontro, suponha que ele tenha jogado aquela bomba; ele não teria violado nenhuma lei. Esse será o veredicto de seus filhos. Se eu estivesse lá, se tivesse visto aquela abordagem policial assassina, se tivesse ouvido aquele insolente comando para dispersar, se tivesse ouvido Fielden dizer, ‘Capitão, este é um encontro pacífico,’ se tivesse visto as liberdades de meus compatriotas serem esmagadas, eu mesma teria jogado aquela bomba. Eu não teria violado nenhuma lei, apenas cumprido a constituição. Se os anarquistas tivessem planejado destruir a cidade Chicago e massacrar a polícia, por que teriam apenas duas ou três bombas em mãos? Tal não era a intenção. Foi um encontro pacífico. Carter Harrison, o prefeito de Chicago, estava lá. Ele disse que foi um encontro tranqüilo. Ele disse a Bonfield [Capitão John Bonfield, Comandante da Delegacia Policial de Des Plaines] para colocar a polícia a postos. Eu não me posiciono aqui para me regojizar com a morte daqueles policiais. Eu desprezo o assassinato. Mas quando a bala do revólver de um policial mata é tão assassinato quanto a morte que resulta de uma bomba. A polícia partiu pra cima do encontro quando ele estava por dispersar. O Sr. Simonson falou com Bonfield sobre o encontro. Parsons foi ao encontro. Ele levou sua esposa, duas moças e seus dois filhos [4] junto. Perto do fim do encontro, ele disse, ‘Acho que vai chover. Vamos continuar no Zeph’s hall.’ Fielden disse que já estava terminando sua fala e encerraria por ali. As pessoas estavam começando a se dispersar, mil dos mais entusiastas ainda persistiam apesar da chuva. Parsons e aqueles que o acompanhavam tomaram o rumo de casa. Eles haviam chegado até a delegacia de Desplaines quando viram a movimentação repentina da polícia. Parsons parou para ver qual era o problema. Aqueles 200 policiais partiram para pegar os anarquistas. E então nós continuamos nosso caminho. Eu estava no Zeph’s hall quando ouvi aquela terrível detonação. Seu estrondo correu o mundo. Tiranos estremeceram e sentiram que havia algo errado. A descoberta da dinamite e seu uso por anarquistas é uma repetição da história. Quando a pólvora foi descoberta, o sistema feudal estava no auge de seu poder. Sua descoberta e uso criaram as classes médias. Seu primeiro disparo anunciou a sentença de morte do sistema feudal. A bomba em Chicago anunciou a queda do sistema salarial do século dezenove. Por quê? Porque eu sei que nenhum povo inteligente se submeterá ao despotismo. O primeiro significa a difusão de poder. Digo que nenhum homem o use. Mas foi uma conquista da ciência, não do anarquismo, e serviria para as massas. Eu suponho que a imprensa dirá que eu sou uma traidora. Se eu violei qualquer lei, me prendam, me dêem um

Declaração Internacional sobre o encontro Trump/Bolsonaro na Casa Branca

DERROTAR O NEOFASCISMO E O IMPERIALISMO COM A LUTA POPULAR REVOLUCIONÁRIA, ANTICAPITALISTA E INTERNACIONALISTA Neste dia 19 de março acontece na Casa Branca, em Washington (DC), acontece a cúpula reacionária entre os presidentes dos EUA e do Brasil, Donald Trump e Jair Bolsonaro são representantes da escalada global do neofascismo, produtos da apodrecida democracia burguesa e da ofensiva imperialista e supremacista branca sobre os povos do mundo, para aprofundar a dominação, exploração e subjugação da classe trabalhadora e dos povos oprimidos. O objetivo desse encontro entre as bestas racistas das Américas do Norte e do Sul é ampliar a subserviência do Brasil aos EUA e a ingerência imperialista sobre a América Latina, no contexto da guerra comercial com a China e da ameaça de invasão militar sobre a Venezuela. O governo Bolsonaro institucionalizou no Brasil um Estado policial, genocida e ultraliberal que avança contra os direitos básicos da classe trabalhadora brasileira e promove massacres contra o povo negro nas favelas, ataca camponeses pobres e povos indígenas, mulheres e LGBT’s. Assim como o governo Trump, a gestão desastrosa e patética de Jair Bolsonaro se sustenta em setores neofascistas, corruptos e criminosos, no supremacismo branco e em um discurso conservador, reacionário e neonazista. Como organizações populares revolucionárias dos EUA e do Brasil, repudiamos a cúpula reacionária entre Donald Trump e Jair Bolsonaro, que submete o Brasil ainda mais ao papel de capacho dos EUA na América Latina para fazer avançar os objetivos da guerra imperialista do governo Trump contra os povos do mundo. Acreditamos que apenas a auto-organização popular, a luta internacionalista e o enfrentamento revolucionário contra os governos reacionários podem derrotar o neofascismo e o imperialismo. Convocamos revolucionários/as de todo mundo para repudiar e realizar ações contra as visitas da agenda internacional de Jair Bolsonaro também no Chile (22 e 23 de março) e em Israel (31 de março). DEFEAT NEOFASCISM AND IMPERIALISM WITH THE REVOLUTIONARY, ANTICAPITALIST, AND INTERNATIONALIST FIGHT On March 19, the reactionary leadership of the US and Brazil, led by presidents Donald Trump and Jair Bolsonaro, are meeting in Washington, D.C. As representatives of the global escalation of neofascism, these products of the rotten bourgeois democracy, the imperialist offensive, and white supremacist ideology seek to deepen the domination, exploitation and subjugation of the working class and the oppressed peoples of the world. The objective of this meeting between the racist beasts of North and South America is to expand Brazil’s subservience to the US and its imperialist interference with Latin America in the context of the trade war with China and the threat of military invasion of Venezuela. As we have seen in the past, when far right governments conspire it is always the poor, and the socially maligned who suffer most. The Bolsonaro government has institutionalized a genocidal and ultraliberal police state in Brazil that advances against the basic rights of the Brazilian working class, promotes massacres against the black people in the favelas, and attacks peasants and indigenous peoples, women and LGBT+ people. Like the Trump government, Jair Bolsonaro’s disastrous and pathetic management relies on neo-fascist, corrupt and criminal sectors; white supremacism; and conservative, reactionary, neo-Nazi discourse. As popular revolutionary organizations in the US and Brazil, we repudiate the reactionary leadership between Donald Trump and Jair Bolsonaro, which subjects Brazil even more to the role of US doormat in Latin America in advancing the objectives of the Trump government’s imperialist war against the peoples of the world. We believe that only popular self-organization, internationalist struggle, and revolutionary resistance against reactionary governments can defeat neofascism and imperialism. We call on revolutionaries from all over the world to repudiate and take action against Jair Bolsonaro’s international agenda visits also in Chile (March 22-23) and Israel (March 31). Revolutionary Abolitionist Movement (RAM)Casa da Resistência – FOB Março de 2019, Brasil-EUA.

O assassinato de Malcolm X e o nascimento dos Panteras Negras

Em 21 de fevereiro de 1965, domingo, Malcolm X se dirigiu para ao Audubon Ballroom, em Manhattan, para um evento promovido pela Organização para a Unidade AfroAmericana (Organization of Afro-American Unity – OAAU), um dos grupos que fundara recentemente, após deixar a Nação do Islã (Nation of Islam – NOI). O rompimento fora hostil: ao descobrir o comportamento hipócrita do líder da NOI, Elijah Muhammad, que mantivera relações adúlteras com várias jovens mulheres da organização, Malcolm o confrontara; isso havia acentuado uma tensão que já se arrastava há tempos, devido ao comportamento cada vez mais independente de Malcolm. Desde que deixara a organização, ele admitira publicamente que vinha recebendo ameaças de morte. Uma semana antes do evento, sua casa fora atingida por bombas, no meio da noite. O evento no Audubon Ballroom estava planejado para começar às duas da tarde, mas só havia cerca de 40 pessoas presentes nesse horário – inclusive um homem identificado como pertencente à NOI, sentado na primeira fila, que ostentava na lapela um pin da organização. Um dos seguranças da OAAU tentou persuadi-lo a ir para o fundo do salão; o homem reclamou e, após retirar o pin, sentou-se no mesmo lugar. Por insistência de Malcolm X, que não quisera incomodar o público, ninguém naquela noite seria revistado, e seus próprios seguranças não deveriam portar armas, à exceção do chefe da equipe. Às duas e meia, o público estava impaciente. O ministro-assistente de Malcolm na Muslim Mosque, Inc. – o outro grupo fundado por ele após deixar a NOI, de orientação religiosa – fez uma fala introdutória; quando já havia mais de duzentas pessoas presentes, perto das 3 horas, Malcolm finalmente subiu ao palco. Ele apenas proferira a saudação islâmica – “Assalamu alaikum” –, prontamente respondida pela plateia, quando houve uma confusão na sexta ou sétima fileira de cadeiras: alguém gritou “Tire suas mãos dos meus bolsos!”, e dois homens começaram a brigar. A equipe de seguranças da OAAU avançou para conter a briga, e o próprio Malcolm, deixado sozinho no palco, tentou restaurar a normalidade, gritando do palco. Nesse momento, o homem da primeira fileira se levantou, caminhou em direção ao palco, pegou uma escopeta de cano serrado escondida sob seu casaco e a descarregou na direção do líder negro. Uma quantidade imensurável de pretos estadunidenses sentiu a morte de Malcolm X como uma perda pessoal. Entre eles, estava um jovem negro que nascera em uma família pobre, no Texas, filho de um carpinteiro e de uma dona de casa, que agora estudava no Merritt College; seu nome era Robert George Seale, alcunhado “Bobby”. Para Bobby Seale, não havia dúvida: Malcolm fora assassinado pela CIA, por ordem do presidente Lyndon Johnson. Embora até hoje não haja provas nesse sentido, sabe-se que tanto a CIA quanto o FBI monitoraram por anos a vida de Malcolm X, estudando estratégias para prendê-lo e alimentando seus conflitos com a NOI; e há relatos segundo os quais Malcolm temia, de fato, que a CIA tentasse matá-lo. Revoltado, Seale reagiu da forma como era possível a um jovem preto em sua situação: saiu pelas ruas, arremessando tijolos em carros dirigidos por homens brancos. Todavia, não tardou a perceber que essa revolta solitária não passava de um gesto emocional, e se recolheu por uma semana, a fim de se recompor. Ao longo desse período, tomou uma decisão: embora também visse Martin Luther King Jr., líder na luta pelos Direitos Civis, como um herói, Seale faria de si mesmo um novo Malcolm X. Com isso em mente – e com uma cópia de Os Condenados da Terra, de Frantz Fanon, em mãos –, procurou um outro jovem negro, também estudante do Merritt College, que considerava articulado e conhecedor da história dos negros, a fim de fundar uma nova organização; seu nome era Huey Percy Newton. Nascido em Monroe, Louisiana, Huey era o mais jovem dos sete filhos de um agricultor ligado à igreja Batista. Aos 3 anos, a família se mudara para Oakland, na Califórnia, onde Newton vivera uma infância conflituosa: fora expulso de diversas escolas públicas – às vezes, de propósito, para ocultar suas próprias dificuldades de aprendizado; segundo David Hilliard, que o conheceu na adolescência, Huey conviveria com o estigma de ser considerado um analfabeto, com QI 79. Quando foi para o Merritt College, Huey finalmente começou a desenvolver confiança intelectual, tornando-se um ávido leitor de obras filosóficas e literárias – de W. E. B. DuBois a James Baldwin; de Frantz Fanon a Søren Kierkegaard. Huey também desenvolveria uma notável capacidade para decorar a localização de passagens em páginas e parágrafos de livros. Bobby Seale encontrara Huey pela primeira vez no início dos anos 1960, em uma das manifestações de rua contra o embargo dos Estados Unidos a Cuba, e ficara impressionado com sua capacidade de argumentar a partir de questões básicas e práticas, não deixando ao interlocutor outra escolha que não encarar os fatos. Nesse primeiro momento, contudo, Newton rejeitou a ideia de fundar uma nova organização; a seu ver, a tarefa seria impossibilitada pelo fato de que os pretos não conheciam suficientemente bem a sua própria história. Não se deixando abalar pela recusa, Bobby Seale decidiu agir por conta própria. Criou um grupo de estudos africanos e afroamericanos no Merritt College, inicialmente denominado Black History Fact Group, depois rebatizado Soul Students Advisory Council, que conseguiu incluir a história dos negros no currículo da instituição. Em 1966, Seale organizou um evento no Merritt College que incluía um protesto contra a Guerra do Vietnã; 700 pessoas compareceram, lotando o auditório. Huey chegou no final do evento e, impressionado com a quantidade de pessoas que Seale conseguira mobilizar, decidiu unir-se ao grupo. Não demorou muito a ressurgir a ideia de fundar uma nova organização. Em setembro de 1966, considerando que chegara o momento de fazê-lo, Bobby Seale e Huey Newton se entregaram a essa tarefa no Centro de Serviços de North Oakland, onde trabalhavam. No escritório de assistência jurídica, Huey encontrou a legislação da Suprema Corte da Califórnia, que determinava

10 years of Vermelho e Negro and the recapture of our revolutionary libertarian and anticolonial political line

In 2005, we began the mission of constructing an anarchist organization in Bahia. We started as a work space – a small study group in Feira de Santana, where militants involved in the student movement, the Black movement, community organizing and counterculture gathered. We took part in the national construction of the FAO (Forum do Anaquismo Organizado) and gave ourselves the name of our group, “Vermelho e Negro” (Red and Black). Red and Black makes reference to the traditional colors of anarchism and Exu, the Black rebellion against slavery, the rage and anticolonial uprising. Within the foundation of the study group, the organizational leap to an organized anarchist group was in 2006, as with the start of the construction of networks in other cities for the formalization of a state organization, until we lost consistency and decided to stop the activities of the Red and Black in 2011. Our activists were involved with militant struggles for the youth and working class students, women workers, those on the outskirts of town, for LGBT rights and against homophobia, for public transportation, for the right to the city, workplace organizing, struggles for Black people and against racism, in rural and urban occupations, popular education, struggles for indigenous people and dozens of solidarity activities and mutual aid. A quote from Bakunin in one of the documents from Red and Black really encapsulate the first phase of our organization, the Russian Anarchist in our first references, from “Tactics and discipline of the revolutionary party”, said that “we have for better or worse built a small party: small, in the number of men who joined it with full knowledge of what we stand for; immense, if we take into account those who instinctively relate to us, if we take into account the popular masses, whose needs and aspirations we reflect more truly than does any other group.” The experience of Red and Black has also had a fundamental importance in breaking the Eurocentric block of Brazilian anarchism, a pioneering role in the country to merge libertarian ideology with anti-colonial thought, recognizing our ancestral values and affirming the role of black people in the process of revolutionary social transformation, re-vindicating anarchism as an ensemble of forged methods in the struggle for liberation of the people and dreams of emancipation. In these 10 years since the founding, and with only a period without functioning in our organic instinct, we resumed our political line as the core founder of the Red and Black, we reaffirmed our strategy and we continue improving our methods. We do not recognize the necessity of anarchist organization with a public face like before. We see the need to promote a libertarian and anti-colonial current; in which we propose to call “quilombismo”, as synonymous to the militant anarchism that we defend, a revolutionary and libertarian concept that breaks statist logic and the pacifism of “quilombismo reformism” and the white and Eurocentric hegemony within anarchism the same time; and it fuses elements of Pan -Africanism and of “Panterismo”. [Black Panther Party tradition in the US] We continue our task, to bring down our capitalist civilization, to defeat white supremacy, the state and capital, constructing the struggles of our people on the way to liberation. Estrategia Libertaria, February 2016, Bahia, Brazil. Special Edition, 10 years of Red and Black. * Tradução do texto em inglês publicada originalmente no caderno Black Anarchism: A Reader, da Black Rose Anarchist Federation / Federación Anarquista Rosa Negra.