Nota de pesar pelo falecimento do companheiro Antônio Eduardo

Com muita tristeza e consternação fomos surpreendidos com a notícia da morte do querido professor e companheiro Antônio Eduardo, no último domingo, dia 27 de dezembro, aos 50 anos de idade, após problemas cardíacos e suspeita de Covid-19. Professor da UFRB e pesquisador da área de Ciências Sociais, Antônio Eduardo de Oliveira, foi um lutador incansável por cerca de três décadas. Atualmente, além de diretor da Associação dos Professores Universitários do Recôncavo (APUR), escritor e cientista social, também publicava com frequência artigos em jornais de esquerda e promovia cursos de formação política. Desde os anos 1990, identificado com o trotskismo, participou da fundação do Partido da Causa Operária (PCO). Entre diferenças e convergências, mas sempre com muito respeito, a geração de militantes que fundou a Casa da Resistência teve o primeiro contato com o companheiro Antônio Eduardo nas grandes lutas sociais que sacudiram Feira de Santana no início dos anos 2000. Socialista e revolucionário militante, foi preso e processado pelo então governo do PFL, de ACM na Bahia (1991-1994). Sua partida, além da tristeza, deixa para nós o sentimento do exemplo, das boas lembranças de um professor extraordinário, que combinava a seriedade e o bom humor, com sincera dedicação às lutas populares. Deixamos, desde a Casa da Resistência, Centro Popular George Américo e Comitê de Solidariedade Popular, nossos sentimentos aos familiares e aos companheiros e companheiras do Partido da Causa Operária de Feira de Santana, nesse momento de dor. Duda vive, a luta segue. ANTÔNIO EDUARDO, PRESENTE!

5 anos da ocupação combativa contra a farsa do BRT

As obras do BRT que desde o início foram denunciadas como uma fraude pelo Movimento Unificado Contra o BRT voltaram a ser pauta nessas eleições municipais. O BRT (que é a sigla em inglês para Bus Rapid Transit) se comprovou como uma grande farsa, com plataformas inservíveis expostas para quem quiser ver em todo o centro da cidade e uma tentativa tão ridícula quanto mentirosa de ser colocado em funcionamento agora nas eleições pela Prefeitura. O projeto inicial aprovado com ônibus articulados e via exclusiva que ligaria as partes norte e sul da cidade (UEFS-Tomba) teve sua finalidade desviada para a construção das trincheiras, e mesmo com os recursos sendo suspensos pela Caixa pelas comprovadas ilegalidades a obra acabou sendo liberada após negociatas espúrias do então prefeito José Ronaldo. Esse BRT de mentira é mais um dos crimes contra o dinheiro público e o povo de Feira de Santana cometido pelo grupo político do ex-prefeito José Ronaldo e seu atual candidato Colbert Martins Filho. Apresentado como solução mágica para a mobilidade urbana, assim como foi feito com a mentira do SIT (Sistema de Transporte Integrado), a quadrilha que domina nossa cidade associada as máfias empresariais, fez do transporte coletivo de Feira de Santana algo deplorável e um dos piores e mais caros serviços do país, que vive em uma permanente crise e entre um colapso e outro, negando para grande parte da população feirense que não consegue pagar a tarifa absurda, ou nem mesmo as poucas linhas chegam em seus bairros e distritos, o direito fundamental de ir e vir e de ter um transporte verdadeiramente público e de qualidade. Ocupamos e resistimos nos canteiros das obras do BRT em 2015 por cerca de 2 meses seguidos, mais de 50 dias enfrentando as ameaças da Prefeitura e de capangas, sendo boicotados pelos partidos da esquerda institucional e sofrendo com tentativas de sabotagem, infiltração, chantagem e cooptação, além de diversas ameaças de morte às lideranças, agressões e pôr fim a desocupação violenta e covarde com a invasão ilegal da ocupação à mando de José Ronaldo. Foram 2 meses de ação direta popular e luta combativa, de uma ocupação criativa e solidária com intensas movimentações culturais, debates sobre o direito à cidade, sobre o transporte público, formação política, música, poesia, arte e muita solidariedade e apoio mútuo. Lutamos e vencemos, ainda que parcialmente, impedindo que esse BRT mentiroso destruísse todo o canteiro central da Av. Getúlio Vargas e retirasse as centenas de árvores e os pequenos comércios e pontos que funcionam ao longo da avenida. Hoje fazem exatos 5 anos, que no dia 26 de outubro de 2015 por volta das 4h da manhã, capangas armados e a guarda municipal arrombaram um dos portões e invadiram pelos fundos o canteiro de obras da trincheira na Av. Maria Quitéria com a Av. Getúlio Vargas ocupado pelo Movimento Unificado Contra o BRT, agredindo e prendendo os cerca de 30 militantes independentes que dormiam no local naquela noite (como relatamos com mais detalhes num texto da época “Feira de Santana: construir resistência popular e enfrentar a barbárie ronaldista”). A mesma violência que depois foi usada contra os artesãos do Centro de Abastecimento e agora é usada contra os ambulantes do Centro. Os capangas, já naquela época, como denunciando recentemente pelo jornal A Tarde, eram contratados através de um esquema ilegal de terceirizados fantasmas pelas Escolas Municipais, prática comum do governo José Ronaldo para aparelhar o Estado e que continua no governo de Colbert Martins Filho. O BRT, assim como as próprias trincheiras, nunca tiveram viabilidade técnica. Foram obras eleitoreiras para tornar a cidade cada vez mais excludente, onde mais de 100 milhões de reais do povo feirense foram jogados fora. Agora, Colbert, o criminoso que se negou a prestar qualquer assistência ao povo pobre durante a pandemia e segue atacando trabalhadores, como os ambulantes e professores, na sua sanha oportunista para tentar se eleger prefeito acha que pode enganar toda a cidade colocando em funcionando um BRT que não existe, não liga lugar nenhum à qualquer outro e nem mesmo tem uma faixa exclusiva. A mentira e o crime contra o dinheiro público é a marca dessa quadrilha que governa Feira de Santana há cerca de 20 anos e fez da nossa cidade, a terra de Lucas da Feira, Maria Quitéria, Chico Pinto e tantos outros, um lugar atrasado e retrógrado que vive um verdadeiro apartheid onde os direitos mais básicos como saúde, educação, saneamento e transporte público são negados ao povo trabalhador e à maioria afroindígena e sertaneja das periferias. José Ronaldo e Colbert devem pagar pelos seus crimes. O povo feirense sofrido merece e tem direito à um transporte público digno, sem as empresas mafiosas interessadas apenas nos lucros, com a municipalização do transporte e o controle popular através de um conselho de trabalhadores/as, integração de modais como a bicicleta e e outros, e Tarifa Zero, como deve ser um serviço público essencial. VIVA OS 5 ANOS DA LUTA COMBATIVA CONTRA O BRT!CADEIA PARA COLBERT E JOSÉ RONALDO, INIMIGOS DO POVO!SOMOS RESISTÊNCIA!

Joselito Amorim queima no inferno

Joselito Falcão de Amorim, prefeito imposto pela ditadura empresarial-militar após o golpe fascista de 1964 que derrubou Chico Pinto da prefeitura, morreu ontem, dia 4 de outubro. O criminoso Joselito Amorim, interventor local e artífice da ditadura que torturou, sequestrou, estuprou, perseguiu e assassinou milhares de pessoas no país, inclusive diversos/as feirenses, gozou de impunidade por toda sua vida, sem nunca ter pagado por seus crimes e sendo diversas vezes homenageado por seus iguais, como agora pelo prefeito Colbert Martins Filho após morrer neste domingo em decorrência da Covid-19, aos 101 anos. Ex-militar, o udenista Joselito Amorim governou Feira de Santana entre 1964 e 1967, sendo um articulador do golpe empresarial-militar e partícipe dos crimes contra a humanidade cometidos pela ditadura. Justiça popular aos criminosos do regime empresarial-militar fascista. Honra e glória à memória de todos os mártires, mortos e desaparecidos que ousaram enfrentar a ditadura fascista. Que Joselito Amorim queime no inferno. Na imagem, foto da visita do general fascista Castelo Branco, em 1966, a Feira de Santana, acompanhado de Joselito Amorim, Ernesto Geisel, Lomanto Júnior e outros criminosos, e abaixo registros de companheiros/as torturados/as e assassinados/as pelo regime.

HELENIRA PRETA, PRESENTE!

Hoje, 29 de setembro, fazemos memória da lutadora povo, guerrilheira do Araguaia e heroína da luta contra a ditadura empresarial-militar, Helenira Preta, assassinada brutalmente há 48 anos. Helenira Resende de Souza Nazareth, nascida em Cerqueira César, interior de São Paulo, em 19 de janeiro de 1944, filha do médico negro e comunista baiano Dr. Adalberto de Assis Nazareth, o “médico dos pobres”. Foi líder estudantil secundarista em Assis (SP), para onde sua família se mudou, e jogadora de basquete na cidade. Participou da JUC (Juventude Universitária Católica), depois da Ação Popular (AP) e posteriormente ingressou no Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Preta, como era conhecida por seus amigos e familiares, foi uma destacada oradora e importante liderança do Movimento Estudantil no país, presidente do Centro Acadêmico de Letras da USP e vice-presidente da UNE. Helenira conheceu o gosto amargo da repressão a partir de 1967 sendo fichada como “ativa fanática em subversão e filha de um ativo comunista” pelo DOPS, foi novamente presa durante o 30º Congresso clandestino da UNE de 1968, em Ibiúna, e jurada de morte pelo sádico delegado Sérgio Fleury, figura máxima da repressão policial à resistência contra ditadura fascista. Entrou na clandestinidade, vivendo em várias partes do país até ir para o Araguaia. Usando o codinome Fátima, integrou do Destacamento A das Forças Guerrilheiras do Araguaia, as FOGUERA. Helenira fazia parte do grupo de guerrilheiros que foi emboscado pelas forças repressivas em 29 de setembro de 1972. Ferida no tiroteio e metralhada nas pernas, recusou-se a entregar a localização dos companheiros aos militares, foi torturada e morta a golpes de baioneta. Guerrilheira, alegre e destemida, até hoje não foram localizados seus restos mortais. 

Lucio Urtubia, internacionalista e revolucionário incansável

Lucio Urtubia Jiménez incansável revolucionário internacionalista nos deixou hoje, dia 18 de julho, aos 89 anos. Lucio, espanhol nascido em 1931 em Cascante (Navarra), foi militante da CNT e anarquista de larga trajetória revolucionária, um autêntico homem de ação. Pedreiro de profissão, anarquista expropriador e o melhor falsificador de sua época, que que colocou o Citibank de joelhos, desviando mais de 20 milhões de dólares para as lutas dos povos e organizações revolucionárias. Participou e apoiou ativamente muitas lutas revolucionárias. Com uma história de vida incrível e dedicada à revolução social e à anarquia, que vai desde o auxílio à luta armada na América Latina ao justiçamento de nazistas. Apoiou o Partido dos Panteras Negras, a RAF (Fração do Exército Vermelho), os Tupamaros e Montoneros, a Revolução Cubana, o Movimento Ibérico de Libertação (MIL) e os GARI (Grupos de Ação Revolucionária Internacionalista) na luta anti-franquista e diversas outras. Nosso adeus, camarada Lucio. Agradecemos por sua vida de generosidade e dedicação pela libertação dos povos e pelo triunfo da classe trabalhadora.

Osvaldão: o guerrilheiro invencível

Em 4 de fevereiro de 1974, Osvaldão, herói do povo brasileiro e lendário comandante das Forças Guerrilheiras do Araguaia (FOGUERA), impulsionadas pelo então partido de orientação maoísta PCdoB, foi assassinado pela ditatura fascista militar-empresarial, aos 35 anos de idade, e para servir de exemplo e tentar acabar de vez com o mito do guerrilheiro invencível, teve sua cabeça decepada por militares e exposta em público. Osvaldo Orlando da Costa, nasceu em 27 de abril de 1938, em Passa Quatro, Minas Gerais. Entre 1952 e 1954 morou em São Paulo, onde fez o Curso Industrial Básico de Cerâmica, o que lhe assegurou a condição de artífice em cerâmica. Mudou-se para o Rio de Janeiro, onde diplomou-se em técnico de construção de máquinas e motores pela Escola Técnica Federal no ano de 1958. Nesse período, participou ativamente das lutas estudantis. Osvaldo Orlando, do alto de seus 1,98 metros de altura, pesando cem quilos e com seus sapatos número 48 fazia parte da equipe de boxe do Botafogo, e foi campeão competindo pelo time. Também tornou-se oficial da reserva do exército brasileiro, após servir no CPOR/RJ. Ingressou no Partido Comunista do Brasil – PCdoB. Em Praga, Checoslováquia, formou-se em engenharia de minas. Osvaldão foi um dos primeiros militantes do PCdoB a chegar à região do Araguaia, por volta dos anos de 1966-67 e tinha a tarefa de criar condições para a chegada de novos militantes e mapear a área. Embrenhou-se nas matas e percorreu os rios se apresentando como garimpeiro e mariscador. Tornou-se rapidamente conhecido e amigo dos camponeses, participou de caçadas e pescarias, trabalhou na roça, tornou-se grande conhecedor das matas. Em 1969, passou a viver na margem do rio Gameleira. Foi comandante do destacamento B e dirigiu vários combates, ao lado de Dina (Dinalva Conceição Oliveira), se tornou o mais conhecido e respeitado guerrilheiro entre a população do Araguaia. Ele fazia parte do contingente guerrilheiro que rompeu exitosamente o cerco militar quando atacado por um grande número de tropas do exército em 25 de dezembro de 1973. Osvaldão, o guerrilheiro invencível que desafiou a ditatura militar-empresarial, o gigante negro que despistava os militares com botas viradas que faziam pegadas ao contrário nas marchas pelas matas, virou um encantando, uma entidade do Terecô ou Tambor da Mata, religião afro-brasileira praticada em regiões do Maranhão, Piauí e outros estados. Eternizado como herói do nosso povo. Leia os documentos produzidos durante a luta guerrilheira do Araguaia. Documentário “Araguaia, Presente!”, com depoimentos de ex-guerrilheiros e militantes políticos.

Chacina do Cabula: 5 anos do Massacre da Vila Moisés

Em 6 de fevereiro de 2015, 12 jovens homens negros entre 16 e 27 anos foram executados por PMs em uma operação das Rondas Especiais (Rondesp) na Vila Moisés, Cabula, em Salvador. Segundo as investigações, a motivação dos policiais para os assassinatos seria um tipo de vingança. A Chacina do Cabula foi comemorada pelo governador genocida Rui Costa, responsável político pelos assassinatos. Foram 500 disparos dos quais 88 perfuraram os corpos dos jovens, e segundo o laudo, atingiram mãos e antebraços, indicando posição de defesa, com disparos realizados a curta distância, de cima para baixo. Após 5 anos do massacre, os policiais envolvidos na chacina ainda não foram responsabilizados pela matança. Em 2018, chegaram a ser julgados, mas foram absolvidos pelas mortes por manobras do governo do estado da Bahia em uma setença-relâmpago e sem nenhuma audiência dada pela juíza corrupta Marivalda Almeida Moutinho. Entretanto, após recurso a sentença foi anulada, e espera-se que um novo júri. O Massacre da Vila Moisés segue em segredo de justiça e já foi denunciado na ONU e na OEA, incluindo ameaças frequentes sofridas por familiares das vítimas e integrantes da Organização Reaja ou Será Morta/o, que acompanha o caso. Por nossos mortos, nosso luto e nossa luta: Evson Pereira dos Santos, 27 anos, Ricardo Vilas Boas Silvia, 27 anos, Jeferson Pereira dos Santos, 22 anos, João Luis Pereira Rodrigues, 21 anos, Adriano de Souza Guimarães, 21 anos, Vitor Amorim de Araujo, 19 anos, Agenor Vitalino dos Santos Neto, 19 anos, Bruno Pires do Nascimento, 19 anos, Tiago Gomes das Virgens, 18 anos, Natanael de Jesus Costa, 17 anos, Rodrigo Martins de Oliveira, 17 anos, e Caique Bastos dos Santos, 16 anos. ABAIXO O TERRORISMO DE ESTADO E O GENOCÍDIO DO POVO NEGRO! ORGANIZAR A AUTODEFESA POPULAR!

Insurreição Operária de 1918 e tentativa de criação de um Autogoverno Popular no Brasil

José Oiticica foi designado líder do “conselho diretor” da insurreição, sendo nesta tarefa auxiliado por Agripino Nazaré, advogado da Bahia, e Astrogildo Pereira, cujas cartas à imprensa lhe custaram o emprego no Ministério da Agricultura. Outros que estiveram ligados ao conselho insurrecional foram Manuel Campos, o anarquista espanhol que dirigiu Na Barricada em 1915-1916, Alvaro Palmeira, um professor de certo prestígio entre os operários da construção civil, e Carlos Dias, o operário gráfico que por mais de 10 anos vinha trabalhando na publicação de jornais anarquistas. Os líderes dos trabalhadores das fábricas de tecidos, Manuel Castro e Joaquim Morais, assim como José Elias da Silva, João da Costa Pimenta e o jornalista José Romero estavam cientes da conspiração. Enquanto o conselho orientava os operários, prestes a se declararem em greve pela melhoria das condições de trabalho, as atenções da população brasileira se voltavam para a terrível epidemia de “gripe espanhola” e para os planos da tomada de posse do presidente eleito Francisco de Paula Rodrigues Alva, que deveria suceder a Venceslau Brás no dia 15 de novembro de 1918. A epidemia de gripe espanhola, catastrófica em São Paulo, alastrou-se de maneira ainda mais grave na Capital da República. Os relatórios indicam que, em meados de novembro de 1918, 401.950 cariocas foram, ou já haviam sido, acometidos pela gripe, numa população de 914.292 habitantes, e que àquela altura 14.459 pessoas haviam sucumbido à doença. Anunciou-se que o presidente-eleito Rodrigues Alva contraíra a gripe e que seu estado não lhe permitia assumir o poder. O vice-presidente eleito Delfim Moreira assumiu a presidência, logo após o falecimento de Rodrigues Alves. Para infelicidade de Oiticica e dos demais conspiradores, Ricardo Correia Perpétuo, o membro do conselho que fora encarregado de distribuir boletins sediciosos entre os soldados aquartelados na Vila Militar, convidou o tenente do Exército Jorge Elias Ajus à participar do movimento. Ajus, expressando-se a favor da implantação no Brasil de uma forma de governo “inteiramente popular”, à semelhança da Rússia, foi avidamente acolhido no movimento, devido as suas conexões militares, sendo nomeado, juntamente com Oiticica, chefe do movimento. Mas Ajus era um espião. Na noite de 14 de novembro Ajus participou de uma reunião, na residência de Oiticica, em que tudo era falado em voz baixa, por solicitação do professor. Ele temia que sua esposa, que ocupava um cômodo contíguo e não sabia de nada, fosse capaz de denunciar a insurreição. Anunciou-se, então, que todos os operários em tecidos estavam prontos para a ação. Os operários que partissem de Botafogo deveriam invadir o palácio presidencial, onde hasteariam uma bandeira vermelha; os operários reunidos em São Cristóvão se apossariam dos depósitos de armas e munições da Intendência da Guerra; os tecelões de Bangu tomariam posse da fábrica de cartuchos de Realengo; o pessoal da Saúde, fiel a Manuel Campos, ajudaria no ataque ao quartel de polícia ali existente. Oiticica observou que a deflagração deveria ser combinada para coincidir com as sessões da Câmara e do Senado, a fim de se prenderem todos os seus membros. Ajus se encarregaria do Exército. Uma reunião mais concorrida, de que participaram cerca de 40 conspiradores, realizou-se no dia 15 de novembro, numa sala do curso do professor Oiticica. Depois de aberta a sessão por João da Costa Pimenta, o tenente Ajus propôs que a insurreição começasse com uma concentração geral no Campo de São Cristóvão para o posterior ataque à Intendência da Guerra e aos quartéis de polícia. Oiticica concordou e ordenou que, após declarada a greve, mareada para as 15:30 horas do dia 18 de novembro, os grevistas, calculados em 15 mil, se dirigissem para o Campo de São Cristóvão. Na noite de 17 de novembro, em reunião de uns 8 ou 10 membros do conselho na casa de Oiticica, Ajus alegou que não poderia cooperar efetivamente com o movimento, por não estar de serviço no quartel naquele dia 18, e pediu que a insurreição fosse adiada para o dia 20. Mas Agripino Nazaré opôs-se a esta proposta, lembrando que os tecelões, prontos para iniciar a greve no dia seguinte, não poderiam ser persuadidos à voltar atrás. Em seguida, Oiticica enumerou algumas das medidas tomadas: havia “quatro mil operários dispostos a tudo”, e “1.600 bombas” já tinham sido distribuídas. Segundo Oiticica, seria fácil tomar o depósito de armas e munições do Campo de São Cristóvão e explicou ainda a maneira como os metalúrgicos cortariam as linhas telefônicas e dinamitariam uma das torres de iluminação da Light, deixando às escuras a cidade. Quarenta tambores de petróleo e gasolina — acrescentou — seriam usados para incendiar o edifício da prefeitura, o quartel-general do Exército e o quartel central da polícia. Nas primeiras horas da tarde de 18 de novembro, Oiticica se reuniu com alguns membros do conselho em um prédio da Rua da Alfândega, para rever os últimos detalhes do levante. As autoridades, informadas de tudo o que se passava, interromperam subitamente a reunião, prendendo Oiticica, Manuel Campos, Ricardo Perpétuo, Astrogildo Pereira, Augusto Leite e Carlos Dias. Júlio Rodrigues, o comissário destacado pelo chefe de polícia Aurelino Leal para efetuar as prisões, informou mais tarde que havia feito todos os esforços para conseguir a prisão de João da Costa Pimenta, Manuel Castro, Joaquim Morais e Raimundo Martins. Mas todos estes conseguiram fugir e permanecer escondidos. Às quatro horas da tarde do dia 18 de novembro, os tecelões do Distrito Federal se declararam em greve; seis mil operários deixaram seus empregos em Bangu, onde o movimento “irrompeu com grande clamor”. Os metalúrgicos e os operários em construção civil aderiram à greve logo em seguida. As fábricas estavam repletas de boletins que conclamavam à “insubmissão” e à “reação violenta contra a prepotência dos patrões”. Os boletins distribuídos nos quartéis do Exército concitavam os militares, “irmãos dos trabalhadores”, a se unirem à classe operária na formação dos comitês de soldados e operários com o fim de assumir a direção de todos os serviços públicos. Às cinco horas da tarde umas poucas centenas de insurretos se reuniram no Campo de São Cristóvão.

MESTRE MOA VIVE!

Romualdo Rosário da Costa, o Mestre Moa do Katendê, referência da cultura negra na Bahia, mestre de capoeira, fundador dos afoxés Badauê e Amigos de Katendê, compositor, percussionista, artesão, dançarino e educador foi covardemente assassinato no dia 08 de outubro do ano passado com doze facadas pelas costas pelo bolsonarista Paulo Sérgio Ferreira de Santana, após uma discussão sobre as eleições presidenciais de 2018 em um bar de Salvador (BA). Mestre Moa do Katendê foi um patrimônio do povo negro e da cultura da Bahia, vítima da violência reacionária promovida pelo bolsonarismo, que foi alçado ao poder pela farsa eleitoral de democracia dos ricos, síntese da escravidão e da ditadura. A melhor forma de homenagear o Mestre Moa é seguir na luta por justiça e liberdade, contra o fascismo institucional e o Estado Policial, avançar no enfrentamento ao racismo, construindo organização de base e autodefesa popular. Ontem, infelizmente uma irmã do Mestre Moa, após sofrer um infarto, morreu a caminho de uma missa em homenagem ao irmão. Nos solidarizamos com o toda a família do Mestre Moa nesse momento difícil. O documentário Mestre Moa do Katendê – A primeira vítima (2018, 46 min.), do cineasta Carlos Pronzato.

100 anos da Greve Geral na Bahia

Entre 2 e 12 de junho de 1919 as organizações operárias baianas protagonizaram o episódio mais espetacular vivido pela a classe trabalhadora na Bahia durante o período da Primeira República. A grande Greve Geral da Bahia de 1919, que havia sido precedida de intensas mobilizações combativas contra a carestia da vida que deixaram operários feridos e mortos pela repressão em agosto de 1917, foi coordenada pelo Comitê Central de Greve e paralisou os serviços, a produção e a circulação de mercadorias da capital até o recôncavo, arrancando dos patrões e do governo diversas conquistas para a classe trabalhadora e a maioria negra na Bahia. Inspirada pela Greve Geral de 1917 e pela Insurreição Operária 1918 no Rio, alguns fatores são chaves para entender a Greve Geral de 1919 na Bahia. A crise econômica derivada da Primeira Guerra Mundial, a crise política proveniente das lutas interoligárquicas baianas por conta das eleições estaduais e federais de 1919, o grande ascenso do movimento operário neste período e suas disputas internas, e principalmente a disposição revolucionária e combativa de pedreiros, padeiros, carpinteiros, empregados dos bondes, tecelãs e diversas outras categorias, foram elementos determinantes para as conquistas obtidas pela Greve Geral, ainda que temporárias, como as oito horas de trabalho, liberdade de organização sindical, fim do trabalho infantil e igualdade salarial para homens e mulheres, em diversas categorias. O processo da Greve Geral de 1919 e suas conseqüências representaram no contexto baiano um considerável avanço na organização e na consciência de classe, em um movimento operário dividido entre o sindicalismo reformista, que possuía certa força no estado, e o nascente sindicalismo revolucionário baiano, pautado pela ação direta e pela solidariedade proletária. Documentos históricos, relatos e pesquisas podem ser vistos em A Greve Geral de 1919 na Bahia. Reproduzimos a seguir um trecho da pesquisa feita pelo historiador Aldrin Castellucci, autor de “Salvador dos Operários: Uma historia da greve geral de 1919 na Bahia”: No final de maio de 1919, após uma série de paralisações setoriais ocorridas desde o início do ano, com destaque para a greve nacional dos marítimos, o Sindicato dos Pedreiros, Carpinteiros e Demais Classes desenvolveu uma intensa propaganda na imprensa local, convocando todos os trabalhadores, sem distinção de ofício ou categoria profissional, para que assistissem, em sua sede social, a uma conferência de propaganda sindical a ser proferida no final da tarde de domingo, 1º de junho de 1919. Em seu apelo, dizia que “o mundo trabalhador já não pode suportar a opressão dos sugadores e detentores do bem-estar da humanidade” e convocava a classe operária a “conhecer o caminho por onde vos haveis de libertar das misérias que vos traz o jugo patronal”. O conferencista era nada menos que Agripino Nazareth, um advogado socialista que havia participado de vários movimentos pelo Brasil afora, entre os quais a Insurreição Anarquista de novembro de 1918 no Rio de Janeiro, e que dali em diante exerceu uma indubitável liderança sobre o movimento operário baiano. Ao ser pronunciado e perseguido pelo chefe de polícia carioca, Aurelino Leal, juntamente com dezenas de outros militantes libertários e reformistas, Agripino Nazareth refugiou-se no estado do Espírito Santo e em seguida veio para Salvador, porto em que só teria conseguido entrar usando nome falso. A preocupação de Agripino Nazareth não era infundada, pois já em janeiro de 1919 o chefe de polícia Álvaro Cova oficiara a Gambeta Spínola, inspetor da polícia do porto de Salvador, orientando-o a exercer uma fiscalização mais rígida sobre as embarcações e passageiros que chegassem e impedindo o desembarque de “elementos indesejáveis e perniciosos”. Em sua cruzada contra as chamadas classes perigosas, a autoridade policial fez constar em sua lista os mutilados, incapazes para o trabalho, mendigos, loucos sem acompanhantes, cafetões, ladrões, anarquistas, apaches e passageiros da terceira classe em trânsito, procedentes do Rio da Prata. A conferência de Agripino Nazareth foi uma faísca sobre um combustível de há muito instável que, na segunda-feira, 2 de junho de 1919, explodiu. Nutrida pelo profundo rancor associado às privações acumuladas ao longo dos anos de guerra, favorecida pela nova fase de prosperidade econômica e pela crise interoligárquica e, finalmente, fortalecida em sua organização sindical, a classe operária partiu para a ofensiva. Naquele dia, o Sindicato dos Pedreiros, Carpinteiros e Demais Classes realizou uma assembléia na Praça Rio Branco durante o horário do almoço, momento em que os operários da construção civil assumiram o papel de vanguarda do movimento, paralisando o trabalho nas obras da Biblioteca Pública do Estado, do Palácio do Governo, do Tesouro do Estado e outras construções, portando flâmulas nas quais exigiam “respeito aos seus direitos”, aumento salarial de 20 por cento e adoção da jornada de trabalho de oito horas. Depois, realizaram uma passeata pelas ruas do Centro da cidade até a Ladeira da Barra, dando “vivas ao operariado baiano”. Em seguida, fizeram o percurso oposto, passando pelo Relógio de São Pedro e Praça Castro Alves, finalizando na sede do sindicato, na rua do Maciel de Cima, quando o número de adesões já chegava a mais de mil. Dali em diante, o incêndio rapidamente se alastrou, convertendo-se numa greve geral que paralisou toda a cidade, que à época possuía, segundo dados do Censo Demográfico e Industrial de 1920, 283.422 habitantes, dos quais 45.653 (26.955 homens e 18.698 mulheres), ou seja, 16,1 por cento, eram artesãos e operários de oficinas, manufaturas e fábricas e do setor de extração, 3.212 (1,1%) eram trabalhadores dos transportes marítimos e fluviais e 5.770 (2,0%) eram trabalhadores dos transportes terrestres, perfazendo uma classe trabalhadora de 54.635 pessoas, isto é, 19,2 por cento da população soteropolitana. Este número era, contudo, ainda maior, pois não contabilizava a atividade comercial e financeira, que empregava 15.780 (5,6%), a administração pública, com 3.406 (1,2%), a administração particular, com 1.185 (0,5%) e o sacerdócio e profissões liberais, com 5.932 (2,0%), setores geralmente tipificados como de classe média, mas que tinham muitos dos seus membros vivendo em situações muito semelhantes ou até inferiores às dos trabalhadores manuais. As estatísticas mostram, ainda, que a classe operária soteropolitana era