Nota de solidariedade à VII Marcha Internacional Contra o Genocídio do Povo Negro

Saudamos as e os combatentes e participantes da Marcha Internacional contra o Genocídio do Povo Negro, que chega a sua 7ª edição mantendo acesa a chama da tradição radical negra na Bahia, saudamos também a iniciativa da Reaja Organização Política e da Escola Winnie Mandela em permanecer na vanguarda da defesa da vida, da liberdade e da justiça para o Povo Negro, e não se dobrar diante da lama da prostituição política e do mar do oportunismo racial de quem se rendeu e se vendeu ao governo genocida de Rui Costa, em troca das migalhas da supremacia branca e da institucionalidade colonial e burguesa. É necessário dizer o que enfrentamos. Os governos petistas na Bahia anteciparam o bolsonarismo com a ampliação do Estado policial, do genocídio negro, do terrorismo de Estado e gestão da barbárie neoliberal. Enquanto Rui Costa, sua base de apoio e linha-auxiliar blefam contra aspectos do governo neonazista de Jair Bolsonaro para efeitos de propaganda, seu governo organiza um holocausto negro na Bahia, ampliando a brutalidade e a letalidade policial, o encarceramento em massa, intensificando as matanças de pretos e pobres nas periferias e favelas da capital e do interior, e de forma descarada esse governo antecipou o genocida Pacote Anti-Crime que torna as execuções extrajudiciais e os crimes cometidos por policiais uma política de Estado, através da Instrução Normativa Conjunta Nº 01, de 8 de julho de 2019. A Polícia Militar da Bahia assume contra a maioria negra e favelada a função de uma tropa neocolonial, covarde e nazista que aterroriza, violenta e assassina um povo desarmado e traído, na capital e no interior. Rui Costa, como um bolsonarista de vermelho ou sua versão caricata, carioca e assumidamente neonazista, Wilson Witzel, governador do Rio de Janeiro, também comemora a morte de pessoas negras e autoriza ataques aéreos contra comunidades pobres. O governo petista-bolsonarista da Bahia também ataca os direitos da maioria negra e pobre, a educação pública e o direito de greve dos/as trabalhadores/as, privatiza serviços, favorece os grandes capitalistas, o agronegócio e os ataques ao meio ambiente, além de antecipar a política de militarização de escolas e organizar um famigerado e camuflado apoio à Reforma da Previdência que vai colocar milhões de trabalhadores/as na miséria, afetando principalmente o povo negro e as mulheres do povo, enquanto enriquece ainda mais os bancos e os patrões. Acreditamos, defendemos e propormos à Reaja, aos grupos e coletivos autônomos, às organizações negras e populares combativas, aos lutadores e lutadoras sinceros da capital e do interior a construção de uma unidade real e revolucionária entre os que não se renderam ao oportunismo e as mentiras da esquerda institucional. Para erguer uma Frente contra o Genocídio do Povo Negro e o Terrorismo de Estado na Bahia que impulsione de forma permanente a mobilização, a ação e a denúncia dos crimes do Estado racista e neocolonial, tendo como caminho a construção de organismos comunitários de proteção e autodefesa negra e popular, para enfrentar a supremacia branca, o Estado genocida e os governos de turno da direta fascista ou da esquerda traidora. REAJA OU SERÁ MORTO, REAJA OU SERÁ MORTA!ABAIXO O TERRORISMO DE ESTADO, O FASCISMO INSTITUCIONAL E O GENOCÍDIO DO POVO NEGRO!ORGANIZAR A AUTODEFESA NEGRA E POPULAR!JUSTIÇA PARA PEDRO HENRIQUE!LIBERDADE PARA DARK MC! Casa da Resistência – FOB – Centro Popular George Américo – Coletivo Carranca – Rede Estudantil Classista e Combativa (RECC) 22 de agosto, Bahia.

Greve Geral contra o terrorismo de Estado e o genocídio nas favelas

A ofensiva sobre os direitos sociais que assumiu sob o governo neofascista e ultraliberal Bolsonaro/Mourão sua face mais cruel, caminha em conjunto com a militarização e controle dos territórios através da brutalidade policial sobre as comunidades pobres e favelas. Estado e capital, partindo de uma lógica supremacista branca, atuam no sentido de ampliar os níveis de exploração e precarização ao mesmo tempo em que aterrorizam territórios de maioria negra e setores marginalizados do proletariado, com uma política de extermínio que se apresenta na forma de guerra racial contra o povo negro e favelado. O neoliberalismo combina a retirada de direitos da classe trabalhadora e ataques aos serviços públicos com a necropolítica, o genocídio e o terrorismo de Estado. Por isso o aprofundamento da crise econômica capitalista possui uma relação direta com a multiplicação dos massacres em favelas e comunidades de maioria negra e não-branca. Em qualquer grande ou média cidade do país cidade é possível observar a relação direta entre os índices de desemprego e precarização com a letalidade policial. O Estado policial que foi ampliado pelas políticas de segurança pública dos governos do PT e PMDB, com o aumento sem precedentes do encarceramento e a até então inédita política de ocupação militar de territórios urbanos racializados com as famigeradas UPPs, foi institucionalizado pela farsa eleitoral legitimada pela esquerda institucional, através de uma descarada fraude que nos conduziu ao governo miliciano de Bolsonaro, sob a tutela militar dos generais que outrora comandavam as tropas da Minustah. A invasão do Haiti sob o comando das tropas brasileiras que completa 15 anos este mês de junho, com o governo petista cumprindo a função de serviçal do imperialismo e conduzindo uma politica de massacres, crimes e atrocidades contra o povo haitiano, serviu também como campo de treinamento para intervenções militares no Brasil. É simbólico que o Comando Militar do Leste treinado no Haiti tenha protagonizado, em abril deste ano no Rio de Janeiro, o episódio bárbaro do fuzilamento com 257 tiros do carro da família do músico Evaldo dos Santos Rosa, assassinando covardemente Evaldo e Luciano Almeida, catador de materiais recicláveis que tentava ajudar a família. A política desastrosa e genocida dos governos petistas em relação ao Haiti e a segurança pública talvez seja o exemplo mais objetivo de como a colaboração de classes serve de antessala do fascismo, e mesmo tentando provar ser capaz de gerir a barbárie neoliberal, o PT foi descartado pela lumpemburguesia brasileira com a naturalidade de quem coloca o lixo para fora de casa todas as noites. O governo Bolsonaro tem uma agenda clara, para além do obscurantismo e do populismo de direita, representa o aprofundamento da agenda neoliberal e anti-povo, na sequência do fim do paraíso do crescimento econômico proporcionado pelo boom das commodities e início da ofensiva do capital a partir da crise capitalista de 2008. Bolsonaro, e sua família de patetas milicianos, representam um tipo de bode na sala em um governo instável e com frações de direita e extrema-direita em uma luta encarniçada pela gestão e pilhagem do Estado apodrecido, ao mesmo tempo em que tentam gerir o país através de um tipo de “equilíbrio catastrófico” e tentativas fracassadas de demonstração de força como os atos do bolsonarismo de 26 de maio. Por um lado, a agenda ultraliberal de Paulo Guedes, os ataques sistemáticos aos serviços públicos, os cortes na educação e a reforma para destruir a previdência e o direito a aposentadoria, de outro os ataques contra indígenas e camponeses pobres, a tentativa de legalizar as milícias e a pistolagem no campo e o “pacote anticrime” do fascista Sergio Moro, para tornar as matanças e massacres nas periferias oficialmente uma política de Estado. A revolta contra esse governo vai tomando seu caminho natural, as ruas. Os grandiosos atos do 15M e 30M por todo o país tendo como pauta principal a luta contra os cortes na educação, mas expressando também todas as insatisfações populares e preparando a Greve Geral de 14 de junho contra a reforma da previdência, abriram o caminho para derrotar os ataques neoliberais e o governo Bolsonaro/Mourão. Mas é preciso construir a Greve Geral e as próximas lutas para além da domesticação e tutela da esquerda da ordem e das burocracias sindicais, ampliar a mobilização de base com assembleias nas categoriais, paralisações, greves e atividades de base nas escolas e nos bairros pobres, com uma política de agitação e propaganda que massifique e sintetize as pautas contra esse governo e amplie a politização para as grandes aglomerações do povo pobre nas periferias, nos terminais de ônibus, feiras livres, filas de desempregados, etc. É fundamental também apostar em uma unidade real entre os setores combativos, que se materialize em blocos autônomos e independentes para se diferenciar das entidades carcomidas como UNE, CUT, CTB e afins; e principalmente imprimir um caráter combativo às ações de rua, para além das passeatas pacíficas com dirigentes, burocratas e políticos profissionais se revezando em discursos hipócritas e falas típicas do cinismo socialdemocrata, que até outro dia conduzia os ataques contra a classe trabalhadora como gerente de turno do capital. A Greve Geral precisa combinar as formas e métodos dos diversos setores da classe, a paralisação da produção, dos serviços e da circulação e ao mesmo tempo superar os métodos da burocracia sindical e partidária, incorporar as demandas e a radicalidade do proletariado marginal, as lutas e revoltas contra a brutalidade policial nas comunidades pobres e periferias. Atacar os bancos, os verdadeiros interessados em destruir a previdência, queimar os símbolos do capital, erguer barricadas e parar o país com métodos combativos. Além dos ataques contra a educação e aposentadoria, para derrotar o governo neofascista a Greve Geral precisa ser também contra o terrorismo de Estado e o genocídio do povo negro nas periferias. Incorporar a favela, sua resistência, duas dores e demandas. É preciso incendiar a casa grande e construir a rebelião, abrir caminho com a ação direta das massas e uma agenda popular e revolucionária para derrotar o capital, para repartir a riqueza e o poder, construir

Lucy Parsons e o 1º de Maio: Eu sou uma Anarquista

Eu sou uma anarquista. Suponho que vocês tenham vindo aqui, a maioria de vocês, para ver como é uma anarquista de verdade ao vivo. Suponho que alguns de vocês esperavam me ver com uma bomba em uma das mãos e uma tocha em chamas na outra, mas estão desapontados por não ver nem uma coisa nem outra. Se tais têm sido suas ideias sobre anarquistas, vocês mereceram estar desapontados. Anarquistas são pessoas pacíficas, cumpridoras da lei. O que anarquistas querem dizer quando falam em anarquia? Webster [1] dá ao termo duas definições: caos e o estado de existir sem norma política. Nós nos atemos à última definição. Nossos inimigos sustentam que acreditamos apenas na primeira. Você se pergunta por que existem anarquistas neste país, nesta grande terra da liberdade, como vocês amam chamá-la? Vá a Nova York. Ande pelas vielas e becos dessa grande cidade. Conte as miríades [2] famintas; conte os ainda mais numerosos milhares que estão sem teto; numere aqueles que trabalham mais duro do que escravos e vivem com menos e têm menos conforto que o escravo mais humilde. Você ficará perplexo com suas descobertas, você que não prestou nenhuma atenção a esses pobres, salvo como objetos de caridade e comiseração. Eles não são objetos de caridade, eles são vítimas da injustiça de classe que permeia o sistema de governo, e da política econômica que domina do Atlântico ao Pacífico. Sua opressão, a miséria que ela causa, a desgraça a qual dá origem, são encontradas em maior extensão em Nova York do que em qualquer outro lugar. Em Nova York, onde não muitos dias atrás dois governos se uniram para desvelar uma estátua da liberdade, onde uma centena de bandas tocou aquele hino de liberdade, ‘A Marselhesa’ [3]. Mas praticamente a mesma situação é encontrada entre os mineiros do Oeste, que vivem na miséria e vestem trapos, para que os capitalistas, que controlam a terra que deveria ser livre para todos, possam adicionar ainda mais aos seus milhões! Ah, existem muitas razões para a existência de anarquistas. Mas em Chicago eles acham que anarquistas não têm qualquer direito de existir, de forma alguma. Querem enforcá-los lá, legalmente ou ilegalmente. Vocês ouviram sobre um certo encontro do Haymarket. Vocês ouviram sobre uma bomba. Vocês ouviram sobre prisões e mais prisões feitas pelos detetives. Aqueles detetives! Há um bando de homens, pior ainda, bestas! Detetives de Pinkerton! Eles fariam qualquer coisa. Tenho certeza que capitalistas queriam que um homem jogasse aquela bomba no encontro do Haymarket para culpar os anarquistas por isso. Pinkerton poderia ter feito isso para ele. Vocês ouviram bastante sobre bombas. Vocês ouviram que os anarquistas disseram muito sobre dinamite. Lhes disseram que Lingg fazia bombas. Ele não violou nenhuma lei. Bombas de dinamite podem matar, podem assassinar, assim como as metralhadoras. Suponham que aquela bomba tenha sido jogada por um anarquista. A constituição diz que existem certos direitos inalienáveis, dentre os quais estão a liberdade de imprensa, de expressão e de reunião. Aos cidadãos desta grande terra é dado pela constituição o direito de repelir a invasão ilegal destes direitos. O encontro na praça do Haymarket foi um encontro pacífico. Suponham que, quando um anarquista viu a polícia chegar em cena, com um olhar assassino, determinada a dissolver aquele encontro, suponha que ele tenha jogado aquela bomba; ele não teria violado nenhuma lei. Esse será o veredicto de seus filhos. Se eu estivesse lá, se tivesse visto aquela abordagem policial assassina, se tivesse ouvido aquele insolente comando para dispersar, se tivesse ouvido Fielden dizer, ‘Capitão, este é um encontro pacífico,’ se tivesse visto as liberdades de meus compatriotas serem esmagadas, eu mesma teria jogado aquela bomba. Eu não teria violado nenhuma lei, apenas cumprido a constituição. Se os anarquistas tivessem planejado destruir a cidade Chicago e massacrar a polícia, por que teriam apenas duas ou três bombas em mãos? Tal não era a intenção. Foi um encontro pacífico. Carter Harrison, o prefeito de Chicago, estava lá. Ele disse que foi um encontro tranqüilo. Ele disse a Bonfield [Capitão John Bonfield, Comandante da Delegacia Policial de Des Plaines] para colocar a polícia a postos. Eu não me posiciono aqui para me regojizar com a morte daqueles policiais. Eu desprezo o assassinato. Mas quando a bala do revólver de um policial mata é tão assassinato quanto a morte que resulta de uma bomba. A polícia partiu pra cima do encontro quando ele estava por dispersar. O Sr. Simonson falou com Bonfield sobre o encontro. Parsons foi ao encontro. Ele levou sua esposa, duas moças e seus dois filhos [4] junto. Perto do fim do encontro, ele disse, ‘Acho que vai chover. Vamos continuar no Zeph’s hall.’ Fielden disse que já estava terminando sua fala e encerraria por ali. As pessoas estavam começando a se dispersar, mil dos mais entusiastas ainda persistiam apesar da chuva. Parsons e aqueles que o acompanhavam tomaram o rumo de casa. Eles haviam chegado até a delegacia de Desplaines quando viram a movimentação repentina da polícia. Parsons parou para ver qual era o problema. Aqueles 200 policiais partiram para pegar os anarquistas. E então nós continuamos nosso caminho. Eu estava no Zeph’s hall quando ouvi aquela terrível detonação. Seu estrondo correu o mundo. Tiranos estremeceram e sentiram que havia algo errado. A descoberta da dinamite e seu uso por anarquistas é uma repetição da história. Quando a pólvora foi descoberta, o sistema feudal estava no auge de seu poder. Sua descoberta e uso criaram as classes médias. Seu primeiro disparo anunciou a sentença de morte do sistema feudal. A bomba em Chicago anunciou a queda do sistema salarial do século dezenove. Por quê? Porque eu sei que nenhum povo inteligente se submeterá ao despotismo. O primeiro significa a difusão de poder. Digo que nenhum homem o use. Mas foi uma conquista da ciência, não do anarquismo, e serviria para as massas. Eu suponho que a imprensa dirá que eu sou uma traidora. Se eu violei qualquer lei, me prendam, me dêem um

Declaração Internacional sobre o encontro Trump/Bolsonaro na Casa Branca

DERROTAR O NEOFASCISMO E O IMPERIALISMO COM A LUTA POPULAR REVOLUCIONÁRIA, ANTICAPITALISTA E INTERNACIONALISTA Neste dia 19 de março acontece na Casa Branca, em Washington (DC), acontece a cúpula reacionária entre os presidentes dos EUA e do Brasil, Donald Trump e Jair Bolsonaro são representantes da escalada global do neofascismo, produtos da apodrecida democracia burguesa e da ofensiva imperialista e supremacista branca sobre os povos do mundo, para aprofundar a dominação, exploração e subjugação da classe trabalhadora e dos povos oprimidos. O objetivo desse encontro entre as bestas racistas das Américas do Norte e do Sul é ampliar a subserviência do Brasil aos EUA e a ingerência imperialista sobre a América Latina, no contexto da guerra comercial com a China e da ameaça de invasão militar sobre a Venezuela. O governo Bolsonaro institucionalizou no Brasil um Estado policial, genocida e ultraliberal que avança contra os direitos básicos da classe trabalhadora brasileira e promove massacres contra o povo negro nas favelas, ataca camponeses pobres e povos indígenas, mulheres e LGBT’s. Assim como o governo Trump, a gestão desastrosa e patética de Jair Bolsonaro se sustenta em setores neofascistas, corruptos e criminosos, no supremacismo branco e em um discurso conservador, reacionário e neonazista. Como organizações populares revolucionárias dos EUA e do Brasil, repudiamos a cúpula reacionária entre Donald Trump e Jair Bolsonaro, que submete o Brasil ainda mais ao papel de capacho dos EUA na América Latina para fazer avançar os objetivos da guerra imperialista do governo Trump contra os povos do mundo. Acreditamos que apenas a auto-organização popular, a luta internacionalista e o enfrentamento revolucionário contra os governos reacionários podem derrotar o neofascismo e o imperialismo. Convocamos revolucionários/as de todo mundo para repudiar e realizar ações contra as visitas da agenda internacional de Jair Bolsonaro também no Chile (22 e 23 de março) e em Israel (31 de março). DEFEAT NEOFASCISM AND IMPERIALISM WITH THE REVOLUTIONARY, ANTICAPITALIST, AND INTERNATIONALIST FIGHT On March 19, the reactionary leadership of the US and Brazil, led by presidents Donald Trump and Jair Bolsonaro, are meeting in Washington, D.C. As representatives of the global escalation of neofascism, these products of the rotten bourgeois democracy, the imperialist offensive, and white supremacist ideology seek to deepen the domination, exploitation and subjugation of the working class and the oppressed peoples of the world. The objective of this meeting between the racist beasts of North and South America is to expand Brazil’s subservience to the US and its imperialist interference with Latin America in the context of the trade war with China and the threat of military invasion of Venezuela. As we have seen in the past, when far right governments conspire it is always the poor, and the socially maligned who suffer most. The Bolsonaro government has institutionalized a genocidal and ultraliberal police state in Brazil that advances against the basic rights of the Brazilian working class, promotes massacres against the black people in the favelas, and attacks peasants and indigenous peoples, women and LGBT+ people. Like the Trump government, Jair Bolsonaro’s disastrous and pathetic management relies on neo-fascist, corrupt and criminal sectors; white supremacism; and conservative, reactionary, neo-Nazi discourse. As popular revolutionary organizations in the US and Brazil, we repudiate the reactionary leadership between Donald Trump and Jair Bolsonaro, which subjects Brazil even more to the role of US doormat in Latin America in advancing the objectives of the Trump government’s imperialist war against the peoples of the world. We believe that only popular self-organization, internationalist struggle, and revolutionary resistance against reactionary governments can defeat neofascism and imperialism. We call on revolutionaries from all over the world to repudiate and take action against Jair Bolsonaro’s international agenda visits also in Chile (March 22-23) and Israel (March 31). Revolutionary Abolitionist Movement (RAM)Casa da Resistência – FOB Março de 2019, Brasil-EUA.

Matança, violência e genocídio na Bahia

Sangue escorrendo nas ruas, corpos alvejados e dezenas de famílias destruídas. O saldo da matança que fez Feira de Santana viver um clima de terror entre a tarde do último sábado e a noite de domingo é de 17 homicídios segundo os dados oficiais subnotificados, mas com informações dando conta de pelo menos 21 assassinatos nesses dois dias, que ocorreram na sequência da morte de um policial militar, após a tentativa de evitar um assalto na saída de uma festa na madrugada de sábado. Pedra do Descanso, Rua Nova, Campo Limpo, SIM, Sítio Mathias, Cordeirópolis e outras comunidades pobres e de maioria negra registraram mortes violentas, a maioria com características de execuções sumárias, típicas da ação de grupos de extermínio que operam por dentro da Polícia Militar da Bahia, entre as vítimas estão menores de idade, quase todos jovens negros e boa parte sem antecedentes criminais, repetindo o fim de semana de terror em Salvador e região metropolitana onde foram registrados 31 assassinatos (segundo os dados oficiais), também após a morte de um policial. O revide policial, onde policiais produzem matanças como forma de vingar a morte de algum outro policial, se tornou uma normativa no acionar das policiais militares, e para além de acusar grupos de extermínio que operam clandestinamente como organizações paramilitares de extrema-direita, é preciso afirmar o óbvio, a própria Polícia Militar como instituição e tropa neocolonial que conduz uma guerra reacionária e racista contra o povo é em si, um grupo de extermínio. O governo de Rui Costa (PT), o fascista que governa a Bahia em uma gestão supostamente de “esquerda”, em aliança com reacionários de toda espécie e sob o manto de lideranças corrompidas e movimentos cooptados, deu sequência e ampliou uma política de “segurança pública” genocida e criminosa, colocando a Bahia nas primeiras posições de todos os quadros estatísticos nacionais e internacionais de homicídios e letalidade policial, mesmo com o governo e a secretaria de segurança pública tentando esconder e camuflar os registros de assassinatos. Maurício Teles Barbosa, o carniceiro e responsável direito pelo holocausto e guerra racial que se produz no estado, atravessou os governos Jaques Wagner e Rui Costa na pasta da segurança e é provavelmente o secretário de segurança pública com mais mortes em uma gestão de secretária na história recente, com números reais que ultrapassam as 30 mil mortes. A brutalidade policial que se justifica falsamente em um mentiroso combate ao tráfico de drogas e facções criminosas, produtos do narcoestado, é na verdade um mecanismo racista de controle militar e guerra contra um povo desarmado que se relaciona diretamente com a negação de direitos sociais, a dominação burguesa e a ofensiva neoliberal, conectado diretamente com a manutenção dos níveis de exploração e superexploração da classe trabalhadora e do proletariado marginal, ou seja, a guerra racial que atinge a maioria negra é um instrumental brutal e bárbaro necessário ao capitalismo em crise, que amplia suas formas de domínio e controle através da necropolítica. Na Bahia, em termos concretos, isso se traduz no maior índice de desemprego do país, e ao mesmo, no maior número absoluto de assassinatos. É necessário denunciar e enfrentar o governo de Rui Costa e sua política de segurança racista e genocida, sustentada por chacinas, massacres e terrorismo racial. É urgente levantar uma campanha contra o terrorismo de Estado e em defesa da vida do nosso povo, reafirmando os métodos combativos e a independência para combater qualquer que seja a gerência do Estado burguês e supremacista, assim como, romper qualquer ilusão com o canto da sereia vindo da linha auxiliar e suas distrações, que também é responsável por sustentar esse governo. A Polícia Militar tem que acabar, uma corporação brutal e racista cuja função é conduzir uma guerra contra o povo não pode ser reformada ou humanizada. Organizar nosso povo e construir organismos de autodefesa popular, como nos mostra a experiência das polícias comunitárias e indígenas no México, continua sendo a única tarefa e saída possível para pôr fim ao massacre e a guerra reacionária, e como diz a rima do Contenção 33, “mostrar pros fí de Hitler que o gueto sabe dar o troco”. 

O assassinato de Malcolm X e o nascimento dos Panteras Negras

Em 21 de fevereiro de 1965, domingo, Malcolm X se dirigiu para ao Audubon Ballroom, em Manhattan, para um evento promovido pela Organização para a Unidade AfroAmericana (Organization of Afro-American Unity – OAAU), um dos grupos que fundara recentemente, após deixar a Nação do Islã (Nation of Islam – NOI). O rompimento fora hostil: ao descobrir o comportamento hipócrita do líder da NOI, Elijah Muhammad, que mantivera relações adúlteras com várias jovens mulheres da organização, Malcolm o confrontara; isso havia acentuado uma tensão que já se arrastava há tempos, devido ao comportamento cada vez mais independente de Malcolm. Desde que deixara a organização, ele admitira publicamente que vinha recebendo ameaças de morte. Uma semana antes do evento, sua casa fora atingida por bombas, no meio da noite. O evento no Audubon Ballroom estava planejado para começar às duas da tarde, mas só havia cerca de 40 pessoas presentes nesse horário – inclusive um homem identificado como pertencente à NOI, sentado na primeira fila, que ostentava na lapela um pin da organização. Um dos seguranças da OAAU tentou persuadi-lo a ir para o fundo do salão; o homem reclamou e, após retirar o pin, sentou-se no mesmo lugar. Por insistência de Malcolm X, que não quisera incomodar o público, ninguém naquela noite seria revistado, e seus próprios seguranças não deveriam portar armas, à exceção do chefe da equipe. Às duas e meia, o público estava impaciente. O ministro-assistente de Malcolm na Muslim Mosque, Inc. – o outro grupo fundado por ele após deixar a NOI, de orientação religiosa – fez uma fala introdutória; quando já havia mais de duzentas pessoas presentes, perto das 3 horas, Malcolm finalmente subiu ao palco. Ele apenas proferira a saudação islâmica – “Assalamu alaikum” –, prontamente respondida pela plateia, quando houve uma confusão na sexta ou sétima fileira de cadeiras: alguém gritou “Tire suas mãos dos meus bolsos!”, e dois homens começaram a brigar. A equipe de seguranças da OAAU avançou para conter a briga, e o próprio Malcolm, deixado sozinho no palco, tentou restaurar a normalidade, gritando do palco. Nesse momento, o homem da primeira fileira se levantou, caminhou em direção ao palco, pegou uma escopeta de cano serrado escondida sob seu casaco e a descarregou na direção do líder negro. Uma quantidade imensurável de pretos estadunidenses sentiu a morte de Malcolm X como uma perda pessoal. Entre eles, estava um jovem negro que nascera em uma família pobre, no Texas, filho de um carpinteiro e de uma dona de casa, que agora estudava no Merritt College; seu nome era Robert George Seale, alcunhado “Bobby”. Para Bobby Seale, não havia dúvida: Malcolm fora assassinado pela CIA, por ordem do presidente Lyndon Johnson. Embora até hoje não haja provas nesse sentido, sabe-se que tanto a CIA quanto o FBI monitoraram por anos a vida de Malcolm X, estudando estratégias para prendê-lo e alimentando seus conflitos com a NOI; e há relatos segundo os quais Malcolm temia, de fato, que a CIA tentasse matá-lo. Revoltado, Seale reagiu da forma como era possível a um jovem preto em sua situação: saiu pelas ruas, arremessando tijolos em carros dirigidos por homens brancos. Todavia, não tardou a perceber que essa revolta solitária não passava de um gesto emocional, e se recolheu por uma semana, a fim de se recompor. Ao longo desse período, tomou uma decisão: embora também visse Martin Luther King Jr., líder na luta pelos Direitos Civis, como um herói, Seale faria de si mesmo um novo Malcolm X. Com isso em mente – e com uma cópia de Os Condenados da Terra, de Frantz Fanon, em mãos –, procurou um outro jovem negro, também estudante do Merritt College, que considerava articulado e conhecedor da história dos negros, a fim de fundar uma nova organização; seu nome era Huey Percy Newton. Nascido em Monroe, Louisiana, Huey era o mais jovem dos sete filhos de um agricultor ligado à igreja Batista. Aos 3 anos, a família se mudara para Oakland, na Califórnia, onde Newton vivera uma infância conflituosa: fora expulso de diversas escolas públicas – às vezes, de propósito, para ocultar suas próprias dificuldades de aprendizado; segundo David Hilliard, que o conheceu na adolescência, Huey conviveria com o estigma de ser considerado um analfabeto, com QI 79. Quando foi para o Merritt College, Huey finalmente começou a desenvolver confiança intelectual, tornando-se um ávido leitor de obras filosóficas e literárias – de W. E. B. DuBois a James Baldwin; de Frantz Fanon a Søren Kierkegaard. Huey também desenvolveria uma notável capacidade para decorar a localização de passagens em páginas e parágrafos de livros. Bobby Seale encontrara Huey pela primeira vez no início dos anos 1960, em uma das manifestações de rua contra o embargo dos Estados Unidos a Cuba, e ficara impressionado com sua capacidade de argumentar a partir de questões básicas e práticas, não deixando ao interlocutor outra escolha que não encarar os fatos. Nesse primeiro momento, contudo, Newton rejeitou a ideia de fundar uma nova organização; a seu ver, a tarefa seria impossibilitada pelo fato de que os pretos não conheciam suficientemente bem a sua própria história. Não se deixando abalar pela recusa, Bobby Seale decidiu agir por conta própria. Criou um grupo de estudos africanos e afroamericanos no Merritt College, inicialmente denominado Black History Fact Group, depois rebatizado Soul Students Advisory Council, que conseguiu incluir a história dos negros no currículo da instituição. Em 1966, Seale organizou um evento no Merritt College que incluía um protesto contra a Guerra do Vietnã; 700 pessoas compareceram, lotando o auditório. Huey chegou no final do evento e, impressionado com a quantidade de pessoas que Seale conseguira mobilizar, decidiu unir-se ao grupo. Não demorou muito a ressurgir a ideia de fundar uma nova organização. Em setembro de 1966, considerando que chegara o momento de fazê-lo, Bobby Seale e Huey Newton se entregaram a essa tarefa no Centro de Serviços de North Oakland, onde trabalhavam. No escritório de assistência jurídica, Huey encontrou a legislação da Suprema Corte da Califórnia, que determinava

Lançamento da edição brasileira do livro Anarquismo e Revolução Negra

A Casa da Resistência e o Coletivo Editorial Sunguilar convidam para o lançamento da edição brasileira do livro Anarquismo e Revolução Negra, do irmão e inspiração Lorenzo Kom’boa Ervin, ex-pantera negra e militante da Black Autonomy Federation, além do debate sobre os 10 anos de fundação do grupo anarquista Vermelho e Negro e lançamento da edição especial do boletim Estratégia Libertária. A atividade é no dia 30 de janeiro, sábado, ás 15h, na Casa da Resistência, que fica na rua César Martins da Silva, nº 35, no centro de Feira de Santana. O livro Anarquismo e Revolução Negra pode ser baixado gratuitamente bit.ly/1lwrfki.

O papel das linhas auxiliares na manutenção da supremacia branca

Apontamentos estratégicos sobre a luta contra Genocídio do Povo Negro (II)  “Nós não amamos nossos opressores, não queremos agradá-los e esmolar seus cargos e editais. Estamos criando na prática autogestionária, autonomista, pan-africanista, uma ferramenta de autodefesa que tem criado incômodo nos comandos das policiais, nas tropas, nos governos genocidas de esquerda e direita e nos ativistas que veem seu projeto governista afundar. Que afundem sozinhos, que mergulhem com sua mágoa entre vocês. Abandonem-nos.“ Hamilton Borges Walê [1] Já estamos em 2016 e dizem por aí que Oxalá vai reger o ano.  É verão e estamos nas ruas sangrentas da Bahia de Rui Costa (PT), onde, segundo dados subnotificados da Central de Telecomunicações das Polícias Civil e Militar da Bahia (Centel) [2], trinta pessoas foram assassinadas na cidade de Salvador no segundo fim de semana do ano. Interior adentro o rastro de sangue continua; três pessoas assassinadas no primeiro dia do ano em Cruz das Almas. Sete pessoas assassinadas em seis dias na cidade de Feira de Santana. Estamos na Bahia, terra desgraçada onde a cada cinco pessoas assassinadas pela polícia, cinco são negras. Os dados são apenas números, tabulações e curvas de nível, não dão conta de dimensionar o terror racial nas ruas, muito menos o assombro que causam os miolos espalhados no asfalto, a dor dos ossos quebrados em torturas e da carne lacerada por disparos de arma de fogo. Os dados não mensuram a neurose. Você fica em uma neurose tá ligado cêro. Aquela sensação, quase uma certeza, que será o próximo corpo abatido.  Aí você sai de casa e tem a convicção que pode não voltar. A neurose do motor à diesel e giroflex. Trombou de frente com a tático na madruga já sabe; entrou na mala, amanheceu na vala, no Cia ou na Estrada das Águas, todo picotado e embalado para viajem pro fundo da represa. Há também uma atmosfera de medo. O medo da morte prematura; de deitar na cova rasa, seja por bala ou pela maca. O medo de ser impedido de criar seu rebento; ou de nunca ter. O medo de não brincar com seus netos. O medo de nunca mais ver a pessoa que ama, de nunca mais sentir o cheiro dela ou de não sentir o peso de suas coxas sobre seu corpo.  O medo de burlar a ordem natural das coisas e ser enterrado por sua mãe. O medo de adormecer; dos repetidos pesadelos, torturado na mata; chute no saco, costela quebrada e tiro na cara. Você começa a ver os rostos deformados dos pivetes bagaçados; ouvir as súplicas das tias por justiça e o clamor por vingança dos país. O medo de não cumprir a simples tarefas de contabilizar e nominar os corpos. A neurose do arrebento. Estamos na Bahia, onde está lotado o Quartel dos Aflitos, o mais antigo quartel da Polícia Militar do Brasil. Aqui a polícia que mais mata no mundo ainda ganha gratificação financeira. Jovens negros são assassinados todos os dias prematuramente por disparos de arma de fogo.  Há um aumento exponencial de mulheres negras que tem se matado por não suportarem a dor de terem que enterrar seus filhos em sua idade mais produtiva.  Homens negros, despedaçados psicologicamente por não conseguiram salvar seus rebentos da besta, tem consumido endemicamente drogas pesadas; crack, cachaça e cocaína.  As famílias negras estão sendo fraturadas e aniquiladas. A cena é triste e por mais que os hippies planejem “rebeliões” pelas redes sociais e se sintam “chocados” com os pivetes bagaçados com 68 ou 111 tiros, não há espaço para afetação ideológica. Diante desse quadro de holocausto nós da Campanha Reaja ou Será Morta/o há mais de 10 anos estamos enfrentando o terror racial nas ruas e colocando por terra a etiqueta racial da submissão. Nos inserimos como combatentes nesse cenário de guerra. Para quem não sabe, e triste do negro/a que não saiba, na Bahia há uma guerra racial de alta intensidade contra a comunidade negra. Essa guerra de alta intensidade tem sido a principal estratégia utilizada pela supremacia branca, de esquerda e direita, para perpetuação, ramificação e interiorização dos multifacetados dispositivos estatais e paraestatais que compõem o continuum Genocídio do Povo Negro. É uma guerra em todos os termos; nos disparos, nos calibres, nas perfurações e na idade prematura dos assassinatos. Uma guerra que possui múltiplas dimensões; físicas, psicológicas, químicas e afetivas. Essa guerra racial contra negros/as tem se intensificado nos últimos 13 anos diante da intrincada teia de dispositivos militares do governo supremacista branco do PT. Dispositivos diretos e indiretos, diretos como a crescente legitimação institucional de chacinas e massacres como modus operandi na ação policial [3]. Ou dispositivos indiretos; cooptação racial, neutralização e vigilância de organizações radicais negras. Nesses termos na análise que segue trataremos especificamente de um desses dispositivos: as linhas auxiliares da supremacia branca. O tema das linhas auxiliares foi um debate tático em variados contextos insurrecionais radicais negros, seja de libertação nacional ou na luta por direitos fundamentais. Usualmente o debate se encaixa no contexto da teoria política pan-africanista das elites negras [4], tendo em obras como, Declaramos Guerra ao Inimigo Interno e África deve unir-se, como algumas de nossas referências clássicas para análise em tela. De maneira geral as elites negras; financeiras, intelectuais e burocráticas, mantém o seu status quo racial, às custas de serem mantenedores de uma etiqueta racial da subjugação, que busca a incorporação com as estruturas de poder branco e não sua demolição por completa. Como alerta o antigo líder da organização nacionalista negra Nação do Islã: “A chamada elite negra, subsiste das migalhas da filantropia branca e do que pode ser espremido ou extorquido do magro rendimento dos operários negros.” (Elijah Muhammad, O Poder Negro) Diante dessa conjuntura, para os fins organizacionais da presente análise, entendemos por linhas auxiliares ou forças auxiliares, o conjunto de instâncias estatais, paraestatais e da iniciativa privada, que compõem a intrincada rede política de alianças da supremacia branca no contexto específico de uma guerra racial de alta intensidade. As linhas auxiliares sustentam o projeto civilizacional da supremacia branca em momentos de crise. Além de controlar ideologicamente a opinião pública; seja legitimando o projeto genocida em curso; ou subdimensionando o impacto da guerra racial na comunidade negra. No contexto específico da guerra

CHACINAS, MASSACRES E TERRORISMO RACIAL NA BAHIA

“Você cria um ódio, você cria uma carga emocional e vai juntando marcas no corpo por conta das agressões dos policiais nas abordagens violentas, cicatrizes de tiros e o medo, o pânico, o assombro, o alcoolismo, o abuso de drogas, doenças próprias de quem vive em guerra.” Hamilton Borges Walê No último dia 30 de novembro, o governador das chacinas, Rui Costa (PT), anunciou um projeto de lei para aumentar o Pagamento de Prêmio de Desempenho Policial (PDP), segundo o governador: “isso significa, de forma clara e objetiva, prioridade na Segurança Pública, compreendendo que o papel dos polícias civis e militares é fundamental para a redução da violência no nosso estado”. Na prática, um eufemismo para gratificação faroeste. Ou seja, prêmio em dinheiro para o batalhão que mais mata pretos durante o semestre. Serão cerca de R$ 42 milhões investidos através do Pacto Pela Vida em mais um novo dispositivo de massacre racial, que tem como objetivo incentivar financeiramente, moralmente e institucionalmente, os batalhões. Sobretudo, as Companhias Independentes a empreender um padrão operacional policial centrado em chacinas e massacres de negros/as. Há mais de 10 anos a Campanha Reaja ou Será Morta/o vem organizando um movimento intracomunitário negro, centrado em uma ação estratégica de enfrentamento ao Genocídio do Povo Negro, especificamente em suas formas mais diretas: o assassinato em massa de jovens negros e o encarceramento em massa do nosso povo. Nossa organização tem batido de frente com a política de segurança pública da Bahia, evidenciando sua estrutura supremacista branca, seus dispositivos operacionais de massacre racial e a institucionalização das chacinas como modus operandi formal na ação policial. Há uma guerra racial de alta intensidade em curso que tem trazido terror às comunidades negras na Bahia. Cabe a nós, a linha de defesa do nosso povo, construirmos estratégias de sobrevivência, recrudescermos nossas tecnologias de autodefesa comunitária e desvendarmos as manobras militares do inimigo. A guerra racial em curso contra os negros na Bahia, nada mais é que uma das dimensões do conjunto de dispositivos estatais e paraestatais que constituem o processo de Genocídio que o Povo Negro está submetido no Brasil. Nesses termos a análise que segue é, sobretudo, ou tão somente, a tentativa de codificar três aspectos centrais na política de segurança pública genocida protagonizada pela Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) nos últimos 12 anos: a política de subnotificação dos dados de homicídios de negros/as na Bahia como tática para invisibilizar o Genocídio em curso, incorporação das Chacinas com modus operandi público-institucional da corporação policial, a perseguição política e conluios planejados pela SSP-BA para assassinar militantes de nossa organização. No dia 15 de outubro, foi divulgado pela Secretaria Nacional de Segurança Pública dados do relatório Diagnósticos no Brasil: Subsídios para o Pacto Nacional pela Redução de Homicídios. Segundo o relatório, a região com a maior taxa de homicídios dolosos do país é o Nordeste (33,76), acompanhada da região Norte (31,09) e do Centro-Oeste (26,26). As regiões Sudeste e Sul apresentam taxas menores, 16,91 e 14,36 respectivamente.  Ainda, segundo o mesmo documento, a Bahia tem o maior número de homicídios do país e apenas em 2014 cerca de 5.450 baianos foram assassinados. Esses dados podem ser novidade para mídia de rapina, entretanto, já no ano de 2014 a própria SSP-BA, tornou público, mesmo que de maneira pouco divulgada, os dados de morte na guerra racial na Bahia. Segundo a SSP-BA (2014), apenas em Salvador 1.320 pessoas foram assassinadas no ano de 2014 e 450 pessoas assassinadas ao somarmos os números de óbitos por assassinato em regiões metropolitanas como Lauro de Freitas e Simões Filho. Mais adentro no sertão a governabilidade da morte negra se recrudesce, como no caso de cidades como Feira de Santana (430 assassinatos), Itaberaba (35) e Vitória da Conquista (161). Sabemos que o montante de corpos negros abatidos na Bahia é ainda mais catastrófico, por não dimensionar os óbitos ocasionados pelos grupos de extermínio, esquadrões da morte e milícias que espalham terror nas comunidades negras, na capital e no interior da Bahia. Ou dos homicídios praticados por policiais em serviço, sobretudo, aqueles ligados aos pelotões de elite da polícia militar e civil. A Chacina tornou-se publicamente o padrão operacional nas ações das Companhias Independentes de Policiamento Tático. As Companhias Independentes de Policiamento Tático tem ocupado um papel central na política de segurança pública Genocida do ex-governador Jacques Wagner (PT) e do atual governador Rui Costa (PT). Não é por acaso que o Programa Pacto Pela Vida elegeu as Companhias Independentes; Caatinga, Litoral Norte, Cerrado, Peto, Rotamo, Rondesp, dentre outras, para investir frondosos recursos financeiros, logísticos, tecnológicos e em seu arsenal bélico. A Rondesp, por exemplo, surge a partir de uma operação do antigo Comando de Policiamento da Capital em 2002, que na época possuía uma única viatura operacional. Hoje possuí sede própria na capital baiana, carga de armamento bélico, helicóptero, viaturas padronizadas, efetivo próprio e há poucos meses instalou uma nova base operacional em Feira de Santana. O fortalecimento logístico-institucional das Companhias Independentes tem tornado as Chacinas e Massacres uma prática pública, amplamente divulgada e institucionalizada na ação policial na Bahia. Temos o entendimento organizacional que esse padrão operacional policial alicerçado na morte prematura de famílias negras tem como papel central uma guerra racial de alta intensidade contra os negros na Bahia. A governabilidade centrada na morte prematura e violenta da comunidade negra na Bahia tem estabelecido tecnologias institucionais de legitimação das chacinas e massacres cometidos por policiais em serviço. Esses dispositivos de convencimento da “opinião pública” tem a noção de guerra às drogas um aspecto central. Há também dispositivos jurídicos, como no caso da absorção política dos policiais envolvidos na Chacina do Cabula. Segundo cruzados os dados entre o Anuário Brasileiro de Segurança Pública e os boletins divulgados pela SSP-BA, apenas na gestão de Mauricio Teles Barbosa, pelo menos, 17 chacinas foram contabilizadas.   Recentemente, no último dia 17 de outubro, 9 jovens negros foram executados por policiais militares em serviço na cidade de Sento Sé, no interior da Bahia. Assim como na internacionalmente conhecida Chacina do Cabula, a justificativa da execução foi uma suposta tentativa de assalto a banco. Nossa organização tem analisado e sentido na pele como a SSP-BA tem, nos últimos anos,

Caveirão e UPP’s na Bahia: o governo Wagner como antessala do fascismo

“E os mais de mil meninos e meninas assassinados, também eram pistoleiros do crime organizado?” Carta do Sub Marcos, EZLN, sobre a “guerra ao narcotráfico” no México (2011). Governos de colaboração de classes, como o de Jaques Wagner na Bahia, serviram historicamente para preparar o campo para formas mais violentas de dominação, como o fascismo. Pois bem, em dezembro do ano passado o governador Wagner, na sua escalada por um Estado policial como resposta à questão social, veio a público mais uma vez para anunciar novidades na política de segurança pública da Bahia. Contudo, dessa vez, para além dos frequentes investimentos volumosos do governo para equipar a Polícia Militar da Bahia (leia-se, aumentar seu poder de repressão), Wagner anunciou que a PM-BA passará a utilizar o carro blindado (Veículo de Apoio Tático) em suas incursões, chamado de “Caveirão” no Rio e apelidado pela polícia baiana de “Miseravão”; e também que adotará o modelo das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP’s) nas periferias de Salvador, que serão chamadas aqui, ironicamente, de Bases Comunitárias de Segurança. Tarefas assumidas pelo novo secretário de Segurança Pública, Maurício Telles. Essas medidas confirmam o avanço das formas de criminalização da pobreza e da limpeza sociorracial na Bahia, inseridas no contexto de programas como o PAC e o Pronasci; e na realização dos megaeventos no próximo período, como a Copa do Mundo de 2014. Copa para os ricos. Violência e extermínio para os pobres A invasão do Complexo do Alemão e da Vila Cruzeiro (RJ) pelo BOPE e pelas forças armadas, com ares de barbárie televisionada, foi apenas a ponta do iceberg de uma escalada em nível nacional, sem precedentes, de repressão e criminalização da pobreza e dos movimentos sociais da cidade e do campo. No que tange as cidades, esta ofensiva combinada e orquestrada pelo Estado, pelas elites e sua mídia, se materializa, por exemplo, nas práticas de extermínio por parte das polícias, principalmente da juventude negra nas periferias das grandes cidades, nos cada vez mais freqüentes despejos de ocupações urbanas, nas remoções de comunidades pobres e na perseguição e extermínio da população de rua. Não por acaso, estas práticas se concentram nas cidades que irão sediar os jogos da Copa do Mundo de 2014. O avanço da política de limpeza dos centros urbanos, funcionando como uma verdadeira “faxina” sócio-racial, segue a velha fórmula de tratar a questão social como caso de polícia, mas se insere nacionalmente num novo contexto de preparação das cidades para os megaeventos do próximo período (Copa e Olimpíadas) e de programas do governo federal como o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e o Pronasci (Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania) que por detrás do discurso social-liberal, de inclusão e cidadania, carregam consigo o projeto perseguido há muito pelas elites brasileiras e assumido pelo governo do PT e seu grande leque de aliados (de sociais-democratas à fascistas) do “Brasil potência”, capaz de levar à cabo as mais sujas tarefas internas e externas, como os sucessivos massacres ao povo haitiano, sob comando da Minustah. Tarefas estas assumidas por um Estado sub-imperialista, que na esfera latino-americana tem em sua agenda o Plano IIRSA (Iniciativa para a Integração da Infra-estrutura Regional Sul-Americana), como complemento aos TLC’s (Tratados de Livre Comércio) em substituição a fracassada tentativa de implantação da ALCA. É nessa vaga, de ofensiva do Estado e do capital, que se inserem as políticas adotadas pelo governo baiano, em especial a política de segurança pública, que se traduz, principalmente em Salvador, como um verdadeiro genocídio da juventude pobre e preta das periferias da capital, personificado nos covardes assassinatos diários praticados pela polícia que o Estado chama de “auto de resistência”. Política que traduzida em números chega a 1.130 assassinatos em operações policias entre o início do governo Wagner em 2007 e setembro de 2010, segundo o jornal “A Tarde” (25/10/10). Um Estado cada vez mais policial É de conhecimento geral que a Bahia foi governada com mão-de-ferro pela corja Magalhães por 16 anos seguidos, e que esse ciclo de sucessivos governos do carlismo se encerrou com a vitória de Jaques Wagner (PT) ao governo do estado, no 1° turno das eleições de 2006, que foi re-eleito em 2010 para um novo mandato, também no 1° turno. Contudo, contrariando as esperanças de quem acreditou no canto da sereia, o governo do PT permeado por diversos ex-aliados da corja-família-partido-quadrilha do finado Malvadeza deu continuidade a muitos dos métodos utilizados por seus antigos adversários (criminalização das lutas, privatizações…), e com o agravante de ser um governo de colaboração de classes, social-liberal, que se utiliza de diversas formas de cooptação e domesticação de setores populares, diminuindo assim, a capacidade de enfrentamento e resistência dos movimentos sociais. Serão pelo menos 50 Bases Comunitárias de Segurança até 2012, segundo o próprio governo, que afirma estarem garantidas no total 162 bases através de uma parceira com o Governo Federal e juntamente com a utilização dos “Veículos de Apoio Tático”, se inserem no marco de um programa que o governo Wagner chama cinicamente de “Pacto pela Vida”, inspirado no modelo utilizado pelo Estado terrorista e paramilitar colombiano. O mais irônico (ou trágico) desta história é que a primeira base será instalada no Nordeste de Amaralina, bairro de Salvador onde a polícia baiana assassinou o garoto Joel da Conceição Castro, de apenas 10 anos, em uma ação em novembro de 2010. O fortalecimento das forças de repressão no estado e a adoção de políticas como a das Bases de Segurança e do “Miseravão”, simbolicamente doado pelo governo do Rio de Janeiro, que é atualmente o laboratório do Estado policial no país, abrem uma possibilidade histórica perigosa para os setores subalternizados, pois, prepara o Estado para responder com repressão e extermínio (como já vem fazendo) de forma ainda mais agressiva as contradições de classe e aos problemas sociais existentes. O que resta é apostar na capacidade de resistência e de auto-organização popular para enfrentar o avanço dos mecanismos de dominação e manutenção da ordem burguesa-estatal-racista na Bahia. Por Feira de Todas as Lutas, fevereiro de