MÁRIO ALVES, REVOLUCIONÁRIO

Mário Alves de Souza Vieira, comunista revolucionário baiano e fundador do PCBR, foi barbaramente assassinado em 17 de janeiro de 1970 pela ditadura militar fascista. Mário Alves nasceu em Sento Sé e logo mudou-se com a família para Salvador. Talentoso jornalista e militante dedicado, iniciou sua trajetória no PCB muito cedo, aos 16 anos. Foi eleito para a direção estadual do PCB da Bahia com 22 anos e depois para o Comitê Central, dirigiu as publicações mais importantes do Partidão e fez parte da sua Comissão Executiva. Mário, que visitou a República Popular da China e fez especialização na Escola de Leninismo na URSS, em 1961, seria o primeiro comunista brasileiro a visitar e levar solidariedade para a Cuba revolucionária. A partir do golpe de 1964 Mário Alves liderou com outro baiano, Carlos Marighella, a oposição interna ao reformismo e pacifismo da direção do PCB, articulando a Corrente Revolucionária, da qual participavam também dirigentes como Jacob Gorender e Apolônio Carvalho. Em abril de 1968, após infrutíferos diálogos com Marighella e com o PCdoB, fundam o Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), sendo Mário eleito seu primeiro Secretário-Geral. O PCBR fez parte da chamada “Frente Armada” com a ALN, a VPR, o MR-8 e o MRT, coordenando ações de propaganda armada contra o regime dos generais. Mário Alves foi sequestrado pela repressão no Rio de Janeiro e levado ao quartel da Polícia do Exército (PE) no dia 16 de janeiro de 1970, aos 46 anos. Segundo sua companheira, Dilma Borges Vieira, que empreendeu uma grande peregrinação para obter informações sobre o paradeiro do marido, Mário foi “espancado barbaramente de noite, empalado com um cassetete dentado, o corpo todo esfolado por escova de arame, por se recusar a prestar informações exigidas pelos torturadores do 1° Exército e do DOPS”. No amanhecer de 17 de janeiro de 1970, Mário Alves Vieira, um dos mais importantes comunistas brasileiros, com uma vida intensamente dedicada a causa revolucionária, estava morto nas dependências do DOI-CODI do Rio de Janeiro. MÁRIO ALVES, VIVE E VENCERÁ!  Verbete da #AgendaInsurgente do Editorial Adandé.

COMANDANTE CLEMENTE, VIVE E LUTA!

Em 29 de junho de 2019, há dois anos, o saudoso Carlos Eugênio da Paz, nosso Comandante Clemente, nos deixava. Clemente assumiu o comando militar da Ação Libertadora Nacional, a ALN, e fez parte de sua Coordenação Nacional, após o assassinato pela ditadura militar fascista do Comandante Toledo, o Velho, Joaquim Câmara Ferreira, em 23 de outubro de 1970. Com apenas 20 anos, Carlos Eugênio, juntamente com Ana Maria Nacinovic, Paulo de Tarso Celestino, Iuri Xavier Pereira, José Luiz da Cunha, o Comandante Crioulo, e tantos outros homens e mulheres do povo, combatentes da libertação popular formaram a última geração de guerrilheiros da ALN, fundada por Carlos Marighella e a mais importante organização revolucionária que combateu a ditadura empresarial-militar. Sentenciado a 124 anos de prisão pela ditadura e o mais procurado guerrilheiro da última fase da luta armada contra o regime fascista dos generais, o Comandante Clemente, foi retirado do país pela organização, saindo pela Argentina e Cuba, até se exiliar em Paris a partir de 1973/74, conseguindo sua anistia política apenas em 1982. Escreveu dois importantes livros de memórias da luta revolucionária no Brasil: “Viagem à luta armada” (1996) e “Nas trilhas da ALN” (1997). Através de seus depoimentos, generosidade e combatividade fez a ponte entre a geração de revolucionários da ALN e a geração atual. Em sua homenagem publicamos o texto inédito da Ação Libertadora Nacional, que traz um balanço das ações da ALN sob o comando militar de Carlos Eugênio da Paz, publicado no jornal O Guerrilheiro nº 4, de janeiro de 1972: FORTALECER A NOSSA DECISÃO – UM BALANÇO Janeiro de 1972* Estamos cumprindo pouco mais de um ano do assassinato de Toledo, fato que tornou maiores e mais difíceis as responsabilidades assumidas e as tarefas a realizar. Qual era a situação naquela época? A que nos propúnhamos então? O ano de 1970 havia sido, para o movimento revolucionário em geral e para a Organização em particular, um ano da atividade intensa e de pouco desenvolvimento. Com a morte de Marighella e os golpes sucessivos que sofremos naquele período, o inimigo conseguiu tomar e manter a iniciativa, atingindo-nos duramente e evitando que pudéssemos desencadear as ações rurais. Assim, 1970 deveria ser um ano de reconstrução e de reorganização, tarefa difícil em virtude das condições de refluxo e confusão que enfrentávamos. O número de ações reduziu-se consideravelmente, ficando em sua maior parte restritas a São Paulo e possuindo um caráter eminentemente financeiro. A imprensa clandestina praticamente inexistiu, a distribuição de materiais e seu debate foram limitados, a atividade e a penetração política da Organização nas diversas áreas foi muito escassa. Mesmo assim, sob o comando de Toledo, fomos enfrentando tal quadro, buscando cumprir o fundamental de nossas perspectivas, de reorganização e estabilidade da Organização. Mas a morte deste dirigente revolucionário provado e respeitado, líder indiscutível, veio agravar as condições que tínhamos de cumprir estas tarefas. Qual era o quadro que então enfrentávamos? De um lado, sob a orientação de Toledo, vínhamos superando uma série de dificuldades decorrentes da morte de Marighella. As quedas desse período, somadas as do início do ano, criavam uma situação de dispersão e a falta de uma atividade planejada e centralizada. Rompe-se o elo da frente urbana e rural, com todas as consequências disso. Manifestavam-se desvios de todo o tipo (liquidacionismo em relação à luta urbana, visão deformada da luta rural, abandono do trabalho político, etc.). Firme e pacientemente, Toledo dirigia o trabalho de reconstrução da Organização em todos os sentidos: recontata setores e áreas, orienta a abertura de frentes de trabalho político, efetua deslocamentos, organiza, coordena, planeja. Sua direção vai se fazendo sentir principalmente no terreno político: importantes passos se dão no sentido de uma maior aproximação entre as forças revolucionárias, com várias iniciativas concretas, ações conjuntas, etc. No documento “ALN, balanço e perspectivas”, indica as diretrizes fundamentais para nossa atuação, desenvolve novos critérios e sistemas de organização, adequados às novas condições, com base no combate aos desvios, e consolida-se a unidade da Organização. Retoma-se o trabalho rural, já dentro de um planejamento. Na Guanabara, em agosto, havíamos sido vítimas de infiltração, perdemos alguns quadros valiosos e também as condições operacionais. Em setembro, a Organização no Nordeste havia sido golpeada e dispersada, estávamos sem contato com a região. Em Minas possuíamos reduzida penetração e não tínhamos condições para a realização de ações. Em São Paulo ainda nos ressentíamos dos profundos golpes recebidos em 69 e 70. Apesar de ali serem melhores as condições operacionais, a infraestrutura abrangia um número reduzido de setores e a penetração da Organização estava debilitada. Portanto, ao encararmos então o ano de 1971, difíceis se afiguravam os objetivos a atingir, enormes dificuldades a vencer. Hoje, dando um balanço de nossas atividades, os avanços que conquistamos são inegáveis e evidentes os resultados obtidos. A melhor maneira de expressarmos esse avanço, ao resumirmos nossa atuação em 1971, é enumerar de forma sumária o volume de ações desenvolvidas – expressão aberta da existência da ALN (sendo, portanto, do conhecimento do inimigo, sem implicar na violação das normas de segurança). SÃO PAULO Em SP, a Organização realizou no ano de 1971, aproximadamente 75 ações de maior vulto. Destas, 10 foram realizadas em Frente com outras Organizações e grupos revolucionários. Não pretendemos relacionar todas as ações, mas acreditamos ser importante destacar alguns de seus aspectos principais: as de caráter expropriatório-financeiro somam 26, dentre as quais 7 empresas (Mangels, Villares, Ericsson, Vulcan, Pollone, Cima, Coca-Cola). As realizadas visando a fortalecer a infraestrutura chegam a 12, abrangendo principalmente os setores de documentação, imprensa e propaganda. No que se refere às ações de fustigamento do inimigo e aumento da potência de fogo, seu número atinge 10, destaca-se o ataque a 7 rádio-patrulhas. Finalmente, temos um conjunto de aproximadamente 25 ações que abrangem os mais variados setores, com os mais diversos objetivos. Como exemplos, temos as ocupações do restaurante de luxo Hungaria, no dia 1º de maio; de um teatro; do refeitório da PUC; a colocação de uma viatura com fita gravada na USP; uma distribuição

Ivan Seixas, ex-preso político e guerrilheiro do MRT, fala sobre a luta armada contra a ditadura e o justiçamento de Boilesen

No marco dos 50 anos do justiçamento do empresário fascista Henning Albert Boilesen, entrevistamos o camarada Ivan Akselrud de Seixas, jornalista, ex-preso político e guerrilheiro urbano do Movimento Revolucionário Tiradentes, o MRT. Em 15 de abril de 1971, o Comando Devanir José de Carvalho, composto pela ALN, a Ação Libertadora Nacional, e o MRT, justiçou Albert Boilesen na alameda Casa Branca, em São Paulo. Devanir José de Carvalho, o Comandante Henrique, fundador do MRT e homenageado na ação havia sido assassinado pela ditadura no dia 7 de abril de 1971. A ALN, o MRT e outras organizações como a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), o Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR) e o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8) se articulavam na Frente Armada e resistiam a uma brutal repressão no início dos anos 1970. A ação que justiçou Albert Boilesen foi comandada por Carlos Eugênio da Paz, o Clemente, então comandante militar da ALN.     Boilesen, dinamarquês naturalizado brasileiro, era presidente do grupo Ultragaz e um dos organizadores do apoio empresarial ao regime dos generais. Articulava as doações de empresários à Operação Bandeirantes, a famigerada OBAN, acompanhando e participando pessoalmente de sessões de tortura. Na entrevista, o camarada Ivan Seixas nos fala também sobre sua atuação no MRT, a esquerda armada, o papel do PCB, o imperialismo e a relação da burguesia brasileira com a ditadura. CDR: Saudações camarada Ivan, primeiro gostaríamos que se apresentasse aos nossos leitores e falasse um pouco sobre sua trajetória e o Movimento Revolucionário Tiradentes. Ivan Seixas: Sou filho de um casal de comunistas, que se conheceram dentro da sede do Partido Comunista, no Rio de Janeiro. Meu pai era um operário mecânico, paraense, filho de pernambucano com cearense, e minha mãe era uma professora de ensino primário, gaúcha, filha de imigrantes russos, fugitivos dos massacres czaristas. Eu nasci em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, num bairro miserável, quase uma favela, e desde cedo vi meus pais e muitas outras pessoas lutando por condições mínimas de sobrevivência, tais como água, luz, esgoto, transportes, escolas e posto de saúde, entre outras. Meus pais foram expulsos do PCB, em 1953, por criticarem a linha política de uma direção que não tinha como objetivo a tomada do poder. Continuaram a lutar contra a ditadura da burguesia nos movimentos populares e sindicais. As lutas contra a ditadura econômica da burguesia foram agravadas quando houve o golpe militar, em 1964. Todas as pessoas que lutavam por conquistas mínimas de sobrevivência para a classe trabalhadora, passaram a lutar contra a ditadura política implantada pelos militares a serviço da burguesia. À época do golpe de Estado meu pai trabalhava na Petrobras e atuava no sindicato da categoria. Por essa causa perdeu o emprego e passou a constar nas listas sujas, que tinham os nomes dos inimigos da ditadura, que não poderiam ter empregos em nenhuma empresa, pública ou privada. O objetivo era fazer os que lutam passar fome com suas famílias. Meu pai, e por extensão toda a família, passou a fazer parte de organizações clandestinas de luta contra a ditadura. No Rio Grande do Sul, para onde voltamos após o golpe, na tentativa de fugir das listas sujas, meu pai se integrou a um movimento clandestino, que reunia ex-militares brizolistas e comunistas decepcionados com a inação do PCB e sua direção. Era o MR-26 – Movimento Revolucionário 26 de Março, que tinha esse nome por ser remanescente da primeira experiência de luta armada do Brasil pós-golpe, que é conhecida como “Guerrilha de Três Passos”, comandada pelo ex-coronel Jefferson Cardim e que foi deflagrada nesse dia. Em 1970, meu pai foi contatado por um companheiro de Petrobras e do sindicato dos petroleiros, que há tempos tentava esse contato. Trazia um convite dos companheiros do MRT – Movimento Revolucionário Tiradentes, que aglutinava forças na sua luta armada, em São Paulo. O convite foi aceito e nossa família se transferiu para a capital paulista para integrar a luta contra a ditadura. O MRT era uma organização revolucionária composta apenas por operários e trabalhadores de vários segmentos. O comandante da organização, Devanir José de Carvalho, era um torneiro mecânico e fundador do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC paulista, tinha sua base de atuação nessa categoria e nessa região. O segundo comandante era o operário da indústria gráfica Dimas Antônio Casemiro, nascido e atuante na região de Votuporanga, com família de camponeses. O terceiro comandante passou a ser meu pai. Todos comunistas de longa militância e marcados pela divergência com a direção reformista do PCB, desde antes do golpe. O nome do Movimento Revolucionário Tiradentes é uma homenagem ao MRT, braço armado das Ligas Camponesas, criado por Francisco Julião, em 1961. Vários militantes comunistas atuavam nessa organização das Ligas Camponesas como tarefa de seus partidos, notadamente o PCdoB – Partido Comunista do Brasil, que depois romperam com esse partido por ocasião do golpe e foram militar nas organizações de luta armada urbana. Entre esses havia vários que depois foram fundar o MRT em que eu atuei. Era a sinalização de que era uma organização de luta para a tomada do poder. Desde sua origem, o MRT atuou na ação armada e na busca de unidade das várias organizações de luta armada. A sua primeira grande ação foi a captura do cônsul japonês, em São Paulo, feita junto com a VPR – Vanguarda Popular Revolucionária, liderada pelo capitão Carlos Lamarca. A marca da organização sempre foi a dedicação radical e ostensiva na ação contra o inimigo, e a busca da unidade das esquerdas empenhadas na luta armada, numa grande Frente Armada. A linha política central do MRT era marxista-leninista e se definia como um “movimento”, que buscava a reorganização do Partido Comunista, que julgava extinto no Brasil. Por ser leninista, entendia que a luta armada é a forma eficaz e efetiva para a tomada do poder. Por não aceitar a ação armada desgarrada do trabalho político junto às massas trabalhadoras, o grupo dedicado às ações armadas era composto por, no máximo, dez pessoas. Nunca passamos de oito, mas a

VIVA OS 50 ANOS DO JUSTIÇAMENTO DE BOILESEN

Em 15 de abril de 1971, há 50 anos, o Comando Devanir José de Carvalho, formado pela Ação Libertadora Nacional (ALN) e pelo Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT) justiçava o sádico empresário dinamarquês, naturalizado brasileiro, Henning Albert Boilesen. A heroica ação mostrou ao mundo a relação direta e umbilical entre a ditadura militar fascista, o empresariado brasileiro e as multinacionais. Albert Boilesen era presidente do Grupo Ultragaz e fundador do Centro de Integração Empresa Escola (CIEE), um dos organizadores do apoio dos empresários à Operação Bandeirante, a OBAN, embrião do DOI-CODI e composta por membros da Aeronáutica, Marinha, Polícia Federal, SNI e órgãos do Governo de São Paulo, que torturou e assassinou centenas de trabalhadores e militantes revolucionários. O Grupo Ultragaz, foi uma das cerca de 80 empresas brasileiras e multinacionais que forneciam apoio ou suporte direito à repressão, entre elas a Volkswagen, FIAT, Chrysler, Ford, General Motors, Toyota, Scania, Rolls-Royce, Mercedes Benz, Brastemp, Telesp, Kodak, Caterpillar, Johnson & Johnson, Petrobras, Camargo Corrêa, Embraer, Monark e outras. Boilesen, assim como, Paulo Henrique Sawaya Filho e Geraldo Resende Matos faziam parte do Grupo Permanente de Mobilização Industrial, frequentando assiduamente o DOPS paulista, participando pessoalmente das sessões de tortura e organizando a relação direta entre industriais como Nadir Dias de Figueiredo da FIESP, bancos e multinacionais com os centros de tortura, a repressão e os assassinatos políticos coordenados pelos delegados Romeu Tuma e Sérgio Paranhos Fleury, que dirigia também o Esquadrão da Morte. O auge da repressão no governo do general Emílio Garrastazu Médici, entre 1969 e 1974, após o AI-5, era uma resposta a ascensão das lutas do povo brasileiro contra a ditadura militar-empresarial, com as grandiosas manifestações estudantis, principalmente a Passeata dos Cem Mil no Rio de Janeiro, e as combativas greves operárias de 1968, como em Contagem (MG) e Osasco (SP), e ao avanço das ações das organizações da luta armada. Diante do imobilismo e da covardia da direção do Partido Comunista Brasileiro (PCB) em construir a resistência ao golpe de Estado de 1964 que derrubou João Goulart e a ditadura militar que se seguiu, um primeiro setor ligado ao trabalhismo e militares nacionalistas perseguidos iniciou a luta armada, primeiro com a Guerrilha de Três Passos (1965) e depois com a Guerrilha do Caparaó (1966-67). Com a radicalização de parte da esquerda cristã através da Ação Popular (depois Ação Popular Marxista Leninista), a saída de parte importante da direção do Partidão que ainda em 1962 formou o PCdoB maoísta, setores da POLOP (Organização Revolucionária Marxista Política Operária) favoráveis a luta armada e os rachas no PCB que deram origem ao Agrupamento Comunista de São Paulo, depois ALN, ao PCBR e as Dissidências Internas a partir de 1967, formou-se um amplo campo de setores que defendiam diferentes concepções de luta armada no Brasil e também atuavam nas lutas operárias, camponesas e estudantis. Em 1968, no auge das lutas populares combativas e ações armadas a esquerda brasileira conseguia balançar o poder da ditadura. Carlos Marighella, em sua “Mensagem aos operários do Brasil através da Rádio Havana – Cuba”, em 1967, durante sua partição na Conferência da Organização de Solidariedade Latino-americana, a OLAS, quando seria expulso do PCB, definia a situação histórica da seguinte forma: “É um círculo vicioso. O movimento de massas avança, em seguida é detido pelo golpe militar. Passa-se algum tempo de ditadura, mais ou menos duradouro, que nada resolve para o povo. Vem a desmoralização dos ditadores. Surgem os líderes burgueses que pleiteiam eleições e democracia para salvar o país (Lacerda, Frente Ampla, etc.). O movimento de massas cresce mais uma vez. Em seguida vem um novo golpe militar e tudo recomeça. É que por meio de eleições ou pela via pacífica jamais o povo brasileiro se libertará. Não há outro caminho para os trabalhadores senão conquistar o poder pela violência e destruir o aparelho burocrático militar do Estado, substituindo-o pelo povo armado.” Com o AI-5 em dezembro de 1968, a atuação ainda mais direta do imperialismo norte-americano nas ações militares e o governo Médici a partir de 1969, a repressão foi tomando contornos cada vez mais brutais e se ampliando também para setores da cultura, da classe média progressista e até mesmo da pequena-burguesia. Do outro lado, as organizações armadas que enfrentavam e resistiam à ditadura com a violência revolucionária formam a Frente Armada, articulando a ALN (maior organização guerrilheira e que havia perdido seus dois principais dirigentes, Marighella em 1969 e Joaquim Câmara Ferreira em 1970), o MRT, a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), o Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8, a antiga Dissidência Interna da Guanabara) e outras com menor participação. É nesse ambiente de aumento da repressão que Devanir José de Carvalho, o Comandante Henrique, operário guerrilheiro e fundador do Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT) é sequestrado em 5 de abril, barbaramente torturado e assassinado pela ditadura no dia 7 de abril de 1971, quando a ALN e o MRT decidem executar Boilesen, que havia sido reconhecido por militantes torturadas. A ação que justiçou Albert Boilesen foi comandada por Carlos Eugênio da Paz, o Clemente, então comandante militar da ALN. A execução de Boilesen teve importância fundamental por revelar a participação direta e financiamento da empresários vinculados à Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) nas torturas e assassinatos políticos. O dinamarquês era responsável pelo caixinha dos empresários, e além de “cobrar ingresso” para outros empresários acompanharem sessões de tortura, fornecia instrumentos aos torturadores, um deles ficou conhecido como a “pianola Boilesen”. A ação do Comando Devanir José de Carvalho ocorreu na alameda Casa Branca, em São Paulo, mesmo rua onde Marighella havia sido executado em 4 de novembro de 1969, e deixou muito evidente o papel dos empresários não só na articulação com a ditadura militar, como no sadismo em participar das sessões torturas de militantes da luta armada e de trabalhadoras e trabalhadores, visto que as empresas que participavam e apoiavam a ditadura usaram também a repressão, os métodos de torturas e assassinatos políticos contra seus

Devanir José de Carvalho: homenagem a um operário militante

No dia de hoje, 5 de abril, quero prestar uma homenagem a um operário, torneiro mecânico, trabalhador da Vilares, que deu sua vida pela classe trabalhadora e nunca traiu sua classe ou decepcionou seus filhos, sua companheira e seus companheiros. É um exemplo a ser seguido. No dia 5 de abril de 1971, caiu meu Comandante Henrique, Devanir José de Carvalho, que foi levado ao DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) para ser barbaramente torturado pela equipe do Esquadrão da Morte, do delegado Sérgio Fleury, militares do DOI-CODI e pelo Cônsul dos EUA, em São Paulo, Claris Howley Halliwell. Comandante Henrique não forneceu aos torturadores nem mesmo seu nome. “Quando chegou aqui, Henrique deu uma cusparada na cara do Doutor Fleury. Não falou nem mesmo o nome dele”, me contou o torturador Carlinhos Metralha para me amedrontar sobre o que me esperava lá naquele lugar de torturas e extermínio. Quando Henrique caiu, eu ainda estava solto e atuando no grupo de ação do MRT – Movimento Revolucionário Tiradentes. Para salvar Henrique das terríveis torturas, organizamos às pressas a captura do presidente da FIESP, Teobaldo de Nigris, que financiava e presenciava sessões de torturas junto com Henning Boilesen. Seria uma troca um por um. A vida do presidente da FIESP, entidade patrocinadora das torturas e da perseguição aos operários de São Paulo, pela vida do Comandante de quase todas as ações contra a ditadura em São Paulo. Não deu tempo. As torturas se prolongaram por quase 3 dias seguidos e no dia 7 de abril, por volta das 19 horas, Fleury, o capitão Ênio Pimentel Silveira, capitão Dalmo Lúcio Muniz Cirilo, o major Carlos Alberto Brilhante Ustra e o cônsul dos EUA em São Paulo, Claris Howley Halliwell, entre outros, executaram Devanir José de Carvalho sem que ele tivesse fornecido seu nome. Quando estávamos na porta da casa de Nigris, recebemos a informação de dentro do DOPS de que Fleury e cambada haviam assassinado Devanir “para não fazer dele um segundo Bacuri”. Essa mesma frase ouvi do torturador Carlinhos Metralha, numa referência ao Comandante Bacuri, Eduardo Collen Leite, torturado por longos 109 dias e assassinado dentro da Fortaleza dos Andradas, do Exército, na Baixada Santista. Os militares de hoje, que mantém o genocida delinquente presidencial, querem manter a impunidade para seus colegas de farda, que torturaram Devanir e tantos brasileiros e brasileiras, que lutavam contra a outra ditadura, instalada sob o patrocínio, orientação e manutenção de uma potência estrangeira, os EUA, do senhor Claris Howley Halliwell. Os mesmos militares que assassinaram Eduardo Collen Leite, o Comandante Bacuri, dentro da fortaleza do Exército, na Baixada Santista. Os nomes de Devanir José de Carvalho, Comandante Henrique, operário e gênio militar, de Eduardo Collen Leite, Comandante Bacuri, e tantos outros e outras militantes da luta contra a ditadura e pela libertação da Classe Trabalhadora da exploração capitalista, sempre serão lembrados pelo nosso povo. Já essa rastaquera que assaltou o país não. DEVANIR JOSÉ DE CARVALHO, PRESENTE! ABAIXO A DITADURA, DO PASSADO E DO PRESENTE! Por Ivan Seixas, jornalista, ex-preso político, guerrilheiro e militante do Movimento Revolucionário Tiradentes – MRT.

Motim contra a Fome e o Desemprego de 1983: uma rebelião contra a carestia e exemplo de ação direta

Em 4 de abril de 1983, diante da grave crise econômica, desemprego e demissões em massa, carestia de vida, inflação galopante e a situação de miséria da classe trabalhadora brasileira que marcaram o período do fim da ditadura empresarial-militar fascista, estourava na zona sul de São Paulo, em Santo Amaro, o movimento que ficou conhecido como Motim Contra a Fome e o Desemprego. A rebelião que arrancou importantes conquistas foi marcada pela ação direta popular e mobilização de base a partir do Comitê de Luta contra o Desemprego e do Movimento contra a Carestia, com saques e manifestações combativas se alastrando também para o Rio de Janeiro e Minas Gerais entre os dias 4 e 8 de abril de 1983. Com saques de lojas e supermercados, em São Paulo a manifestação seguiu em direção ao Palácio dos Bandeirantes que foi atacado, com a exigência que o movimento fosse recebido pelo então governador Franco Montoro. Cerca de 100 manifestantes foram feridos e 70 presos pela PM, com mais de 400 lutadores sendo enquadrados na famigerada Lei de Segurança Nacional (LSN). O Movimento Contra o Desemprego e a Carestia arrancou do Estado a criação de 40 mil vagas de empregos em frentes de trabalho. O general fascista e então presidente da ditadura João Baptista Figueiredo foi a TV aberta acusar o movimento de atrapalhar o “processo de abertura”, uma transição pactada entre militares e a oposição burguesa para proteger os assassinos e torturadores do regime e seus patrocinadores, o empresariado e agentes do imperialismo. Os governadores de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro também vieram  à público pedir o fim da violência e calma ao povo faminto.                  Com a inflação oficial de 35% no início do ano e alimentos essenciais da cesta básica subindo até 400%, demissões em massa, cortes de investimentos públicos, situação de pobreza e miséria generalizada, a crise de 1983 tem muitos paralelos com a nossa conjuntura, assim como, os governos autoritários de Figueiredo e Bolsonaro. Elementos que hoje, agravam-se ainda mais com a Covid-19, a guerra biológica contra o povo pobre e trabalhador e a gestão desastrosa e genocida do atual governo. A disposição heroica, e em parte desesperada, do povo em luta pela sua sobrevivência é um exemplo para os dias atuais. A mobilização de massas, organização de base e os métodos insurgentes do Comitê de Luta contra o Desemprego e do Movimento contra a Carestia, assim como, a unidade de ação de diversas organizações da esquerda combativa, devem servir de guias para nossa ação nos dias de hoje, construindo comitês de base para agitação e propaganda de massas, mobilização direta e unidade de ação para avançar até a Greve Geral e a rebelião de massas, necessárias para derrotar o governo genocida Bolsonaro/Mourão, defender a vida e conquistar uma vida digna para nosso povo.         VIVA O MOTIM CONTRA A FOME E O DESEMPREGO! RETOMAR A LUTA COLETIVA, RADICAL E COMBATIVA CONTRA GOVERNOS E PATRÕES! AÇÃO DIRETA CONTRA A AGENDA NEOLIBERAL E O GOVERNO BOLSONARO/MOURÃO!   

Lutar contra o Estado policial e o terror institucional que permanecem

Em 1º de abril de 1964, generais mercenários com apoio direto do imperialismo norte-americano, da elite reacionária católica, de políticos fascistas, de grande parte da burguesia brasileira, da mídia corporativa e de setores da classe média consumavam o Golpe de Estado que institucionalizou o terror no país. Derrubado o governo de João Goulart que tentava avançar em reformas estruturais de base, sem qualquer tipo de resistência por parte do trabalhismo e da direção covarde do Partido Comunista Brasileiro (PCB), que confiavam em parte dos militares e na aliança com setores da burguesia, a brutal repressão se iniciou com assassinatos de militares que se recusaram a participar e colaborar com o golpe e se estendeu contra todos que ousaram lutar contra o novo regime de terror institucionalizado. Mas a repressão não ficou sem reposta e as lutas combativas do povo avançaram. A partir de 1968, diversas greves operárias insurgentes, grandiosas manifestações estudantis e ações heroicas das organizações armadas revolucionárias desmoralizaram e desesperaram o regime dos carrascos militares. Com a decretação do Ato Institucional Nº 5 (AI-5), em dezembro de 1968, a ditadura acabou até mesmo a oposição consentida e estendeu a repressão também contra artistas, personalidades públicas e a classe média.   Em mais de duas décadas de regime de terror a ditadura militar-empresarial corrupta e obscurantista assassinou, torturou, estuprou e sequestrou centenas e centenas de combatentes do povo, crianças, familiares de guerrilheiros também foram vítimas, mas não somente. A violência institucional e os crimes contra a humanidade foram generalizados. Enquanto fazia propaganda do seu “milagre econômico”, o regime aprofundou e produziu uma desigualdade social brutal, com carestia de vida e arrocho salarial, a dívida externa brasileira aumentou 30 vezes e os serviços públicos foram destruídos. A ditadura matou milhares de camponeses e criou diversos campos de concentração para pobres, negros, indígenas e “desajustados”, com assassinatos em massa, como no Holocausto de Barbacena, e bombardeio de povos indígenas com napalm. O regime de terror dos generais fascistas no Brasil assassinou dezenas de milhares de pessoas, muito além dos assassinatos políticos de cerca de 500 militantes e figuras públicas, que constam nos registros oficiais. No fim dos anos 1970 um novo ascenso da luta de massas com importantes greves operárias desafiaram a ditadura e os patrões, mesmo com sindicatos dominados, além de radicalizadas lutas contra a carestia de vida e o desemprego com métodos insurgentes e a fundamental participação das mulheres das periferias desgastaram o regime em crise. No início dos 1980, sob uma grande crise econômica e fortes protestos populares, o país inicia a transição negociada entre os militares e a oposição burguesa, que garantiu a impunidade para os carrascos da ditadura e seus patrocinadores e manteve a estrutura de um Estado policial sobre os pobres e a maioria negra, produzindo essa democracia dos massacres, com governos de turno e gerencias neoliberais da “direita civilizada” e da “esquerda traidora” que seguiram usando instrumentos como a Lei de Segurança Nacional, a GLO, o encarceramento em massa e a brutalidade policial, abrindo o caminho para agora sermos governados novamente por militares mercenários e genocidas, milicianos, corruptos e apologistas da ditadura.                            Nesses 57 anos do Golpe de Estado de 1º de abril, que instituiu o terror, criou e deu forma ao  Estado policial e ao fascismo institucional que permanecem nos dias de hoje, é necessário lembrar dos nossos heróis e mártires, assim como, combater o mito de que a ditadura foi enfrentada principalmente por setores progressistas da classe média e artistas, pois quem dirigiu a luta revolucionária e armada contra o regime foram os melhores filhos e filhas do povo pobre e trabalhador brasileiro, operários, camponeses e estudantes que dedicaram suas vidas à causa do povo, entres eles, Carlos Marighella, Joaquim Câmara Ferreira, Virgílio Gomes da Silva, Clemente, Iuri Xavier Pereira, Luiz José da Cunha, Osvaldão, Helenira Preta, Devanir José de Carvalho, Mário Alves, Ângelo Arroyo, Pedro Pomar, Emmanuel Bezerra, Manuel Lisboa, Manoel Aleixo, Carlos Lamarca, Zequinha Barreto, Iara Iavelberg, Luís Antônio Santa Barbara e centenas de outros militantes revolucionários que integraram organizações como a ALN, VPR, AP-ML, MR-8, MRT, PCBR, COLINA, VAR-Palmares, PCdoB/FOGUERA, Ala Vermelha e outras.     Saudamos também nesse mês de abril, a memória histórica dos 50 anos da ação de justiçamento do sádico empresário Albert Boilesen, que financiava e acompanha sessões de torturas e assassinatos de militantes, por um comando da Ação Libertadora Nacional e do Movimento Revolucionário Tiradentes, em 15 de abril de 1971. É necessário retomar o caminho da luta revolucionária e radical contra a ditadura que permanece, o Estado policial genocida e a falsa democracia dos riscos. A luta é mesma porque a ditadura é mesma, como afirmava nosso querido Carlos Eugênio da Paz, o Comandante Clemente, da ALN. JUSTIÇA POPULAR PARA OS CARRASCOS DA DITADURA E CAPITALISTAS! ABAIXO O ESTADO POLICIAL E A DEMOCRACIA GENOCIDA! TODO PODER AO POVO!   VIVA OS 50 ANOS DO JUSTIÇAMENTO DE BOILESEN! Comitê de Solidariedade Popular – Feira de Santana – Casa da Resistência – FOB – Coletivo Carranca – RECC – FOB-BA

Mianmar: golpe, massacre e resistência popular

Mianmar, a antiga Birmânia, é um país asiático que se libertou da dominação colonial inglesa apenas em 1948. Com uma população de cerca de 55 milhões de habitantes, o país que possui maioria budista e mais de 130 grupos étnicos faz fronteira com Bangladesh, Índia, República Popular da China, Laos e Tailândia. Nos anos 1950, enfrentando diversos conflitos separatistas, a rebelião dos karenes e uma guerra popular dirigida pelos comunistas, o governo foi derrubado com a liderança do militar nacionalista e anticolonialista Ne Win. O Partido do Programa Socialista da Birmânia iniciou um processo de transformação e nacionalização que ficou conhecido como a “Via birmanesa para o socialismo”, fundando em 1974 e com uma ideologia própria a República Socialista da União de Birmânia. Isolado do social-imperialismo da URSS e afastado dos países não alinhados, sob fortes tensões étnicas e com o país em colapso econômico, o governo foi derrubado por um novo golpe militar das Tatmadaw em 1988, as forças armadas do país, inaugurando uma nova fase de massacres e repressão brutal do regime, que em 1989 mudou oficialmente o nome do país para União de Myanmar e da capital de Rangum para Yangon, depois de esmagar o levante popular e estudantil que ficou conhecido como Levante 8888 do Poder Popular, por ter acontecido em 8 de agosto de 1988. Apenas em 2011, depois de terem derrotado outro movimento popular em 2007 que ficou conhecido como a “Revolução do Açafrão” e por fortes pressões e sanções do imperialismo norte-americano, os militares iniciam uma abertura democrática com a legalização da Liga Nacional pela Democracia (LND), partido pró-imperialista da líder opositora e Nobel da Paz de 1991, Aung San Suu Kyi. A LND participa das eleições de 2012 e finalmente ganha a maioria no parlamento em 2015, repetindo seu domínio eleitoral no último pleito de 2020, que o Partido da Solidariedade e Desenvolvimento da União (PSDU) ligado aos militares não aceitou o resultado, dando iniciando ao golpe de Estado. O golpe de 1º de fevereiro inaugura uma nova fase da linha dura militar em Mianmar, mesmo com o governo da Liga Nacional pela Democracia organizando massacres contra as minorias étnicas, gerindo o país segundo os interesses dos EUA e dos próprios militares que redigiram a constituição atual em 2008. As lutas entre as frações de poder e as disputas por regiões étnicas no país envolvem também os interesses e disputas internacionais na região, principalmente entre Japão e China. Os militares golpistas, que não aceitaram os resultados eleitorais, pondo fim as ilusões democrático-burguesas do partido de Aung San Suu Kyi, prenderam os principais ministros do governo e líderes do partido, desligaram os serviços de telefonia e cortaram a internet do país. Desde o início de fevereiro o povo e a classe trabalhadora de Mianmar resiste ao golpe nas ruas do país e luta contra uma repressão brutal. As organizações de trabalhadores permanecem em uma grande Greve Geral, com importante participação da Federação Geral dos Trabalhadores de Mianmar, a FGWM (na sigla em inglês). Os assassinatos de manifestantes e opositores que vem ocorrendo abertamente desde o golpe tiveram um ápice nesse sábado, dia 27 de março, após a Junta Militar ameaçar “atirar pelas costas e na cabeça” de quem fosse para as ruas protestar no Dia das Forças Armadas. Grandes manifestações combativas e heroicas tomaram mais de 40 de Mianmar e o exército deu início aos massacres, assassinando cerca de 120 pessoas, incluindo crianças. As mobilizações de massa no país que tendem a ganhar maiores volumes e combatividade diante desse novo massacre brutal e que tem uma fundamental participação da juventude birmanesa, vão tomando cada vez mais uma proporção revolucionária e aliada às organizações da classe trabalhadora podem derrotar o golpe militar fascista e superar as ilusões burguesas e o colaboracionismo da LND com os militares. Toda solidariedade internacionalista e proletária à rebelião popular em Mianmar nesse momento de dor e resistência heroica é necessária. O povo vencerá! 

Isis Dias: estudante do povo e revolucionária

Isis Dias de Oliveira foi uma militante da Ação Libertadora Nacional (ALN), estudante do povo e guerrilheira urbana que enfrentou a ditadura militar-empresarial no Brasil. Cursou Ciências Sociais na FFLCH da Universidade de São Paulo (USP), foi moradora do CRUSP e educadora popular. Sequestrada, torturada e assassinada brutalmente pela repressão em 1972. Isis recebeu treinamento em Cuba e se transferiu para o Rio de Janeiro, onde participou de ações de propaganda armada e expropriações de bancos, além de editar o jornal Ação, da ALN da Guanabara. Sequestrada no dia 30 de janeiro de 1972 junto com o militante Paulo César Massa, quando o DOI/CODI estourou um aparelho da ALN carioca, teve seu assassinato confirmado algum tempo depois por sua família, assim como Paulo César e outros dez militantes desaparecidos. Isis Dias, assim como outros estudantes do povo, fez parte da geração combativa e revolucionária de estudantes que confluíram para a luta armada contra a ditadura e o imperialismo, integrando a ALN e outras organizações revolucionárias. Abaixo reproduzimos um documento inédito, o manifesto da Frente Estudantil pela Luta Armada – FELA convocando os estudantes para ações de apoio e integração a luta revolucionária para derrubar a ditadura militar-empresarial. A FELA atuou entre 1969 e 1970 como uma frente estudantil da ALN, até ser desmantelada pela repressão e ter a maioria de seus militantes presos. COMPANHEIROS O processo revolucionário está instalado no Brasil. O papel que cabe a nós estudantes é dar todo apoio aos revolucionários. As ações revolucionárias desenvolvidas pelos guerrilheiros urbano e rurais precisam continuar em todas as frentes. A universidade é um campo de lutas dos estudantes, é uma das frentes de luta dos estudantes. A luta dos estudantes dentro da Universidade – em suas ações revolucionárias será a continuidade das lutas dos guerrilheiros – a vanguarda do processo revolucionário brasileiro. O nosso inimigo é comum, a burguesia (com sua ditadura militarista) e os imperialistas norte-americanos. A burguesia através de sua ditadura militar está tentando manipular a universidade para seus interesses. As reformas que ele tenta desenvolver na universidade através de órgãos reacionários como o Conselho Universitário, Reitoria, Conselhos Estadual e Federal de Educação, etc. tem como objetivo efetivar seus interesses monopolistas. A burguesia através de sua ditadura militar quando abalada e impedida na sua política utiliza-se da repressão e da propaganda mesquinha para impor seus princípios: é assim que assistimos impassíveis a invasão do CRUSP; a invasão e prisão de vários colegas e professores nas escolas; a cassação dos nossos professores; a imposição de cursos e conferências reacionárias ministradas por militares aos colegas de Odontologia, Medicina, Farmácia, Bioquímica, etc. Mas não será a ditadura militar, e nem os lacaios imperialistas que irão impedir o desenvolvimento da nossa revolução: ela é irreversível. Chegou agora a vez dos estudantes. Contra a força, usaremos a força e a sagacidade. Agora é o brado de alerta: olho por olho dente por dente. Aqueles que não são por nós são contra nós – e que não tentem impedir nossa passagem, pois, serão massacrados. As ações revolucionárias desenvolvidas no Campus da CUASO são gritos de alerta contra a burguesia espoliadora. Isso é só o começo. Muitas outras ações virão, pois nós representamos os interesses dos estudantes. Devemos apoiar os guerrilheiros urbanos e rurais, pois em nós estudantes está a continuidade da luta nas cidades, atacando e rasgando as poltronas dos cinemas que expõem cartazes dos companheiros revolucionários; ameaçar com telefonemas anônimos os postos de gasolina e entidades públicas e privadas que representam os interesses da burguesia e dos imperialistas americanos; fazer propaganda de todas as formas possíveis da guerra revolucionária; dar caça sem trégua aos dedo-duros que infestam a Universidade; lutar em todas as classes, laboratórios, escolas, teatros, etc. contra as imposições da ditadura; discutir incessantemente as ações revolucionárias; e quer em grupos, quer isoladamente, colaborar com essas ações revolucionárias, etc. Isto é o mínimo que nós estudantes poderemos fazer para a Revolução. TODO APOIO AOS REVOLUCIONÁRIOS!LUTA SEM TRÉGUA CONTRA A BURGUESIA NA UNIVERSIDADE!CAÇA E MORTE AOS DEDO-DUROS! Frente Estudantil pela Luta Armada – FELAOutubro de 1969, São Paulo – SP. Veja o documento original publicado pela FELA.

Joselito Amorim queima no inferno

Joselito Falcão de Amorim, prefeito imposto pela ditadura empresarial-militar após o golpe fascista de 1964 que derrubou Chico Pinto da prefeitura, morreu ontem, dia 4 de outubro. O criminoso Joselito Amorim, interventor local e artífice da ditadura que torturou, sequestrou, estuprou, perseguiu e assassinou milhares de pessoas no país, inclusive diversos/as feirenses, gozou de impunidade por toda sua vida, sem nunca ter pagado por seus crimes e sendo diversas vezes homenageado por seus iguais, como agora pelo prefeito Colbert Martins Filho após morrer neste domingo em decorrência da Covid-19, aos 101 anos. Ex-militar, o udenista Joselito Amorim governou Feira de Santana entre 1964 e 1967, sendo um articulador do golpe empresarial-militar e partícipe dos crimes contra a humanidade cometidos pela ditadura. Justiça popular aos criminosos do regime empresarial-militar fascista. Honra e glória à memória de todos os mártires, mortos e desaparecidos que ousaram enfrentar a ditadura fascista. Que Joselito Amorim queime no inferno. Na imagem, foto da visita do general fascista Castelo Branco, em 1966, a Feira de Santana, acompanhado de Joselito Amorim, Ernesto Geisel, Lomanto Júnior e outros criminosos, e abaixo registros de companheiros/as torturados/as e assassinados/as pelo regime.