Declaração de Dakar da Plataforma Mundial Anti-imperialista

A 7ª Conferência Internacional da Plataforma Mundial Anti-imperialista (PMAI) e a Mesa sobre o pan-africanismo combativo e o internacionalismo anti-imperialista foram realizadas entre os dias 25 e 27 de outubro em Dakar, capital do Senegal. A Conferência foi organizada pela PMAI, pela Dinâmica Unitária Pan-Africana (DUP) e pelo o Comitê Preparatório Nacional do Senegal, reunindo cerca de 50 delegações de organizações comunistas, progressistas e anti-imperialistas de 35 países. Com uma homenagem ao centenário do revolucionário marxista Amílcar Cabral, a PMAI firmou a Declaração de Dakar como resultado da Conferência, assim como, a nota de conclusão da Mesa sobre pan-africanismo e anti-imperialismo. DEVEMOS FORTALECER A LUTA ANTI-IMPERIALISTA A onda revolucionária contra o imperialismo exigindo a independência dos povos do mundo está se intensificando. A luta anti-imperialista na região do Sahel, na África, que alcançou novos patamares a partir de 2020, resultou na expulsão completa das tropas dos EUA e da França do Níger, do Mali e de Burkina Faso. A retirada dessas tropas, que apoiavam a dominação política e o saque econômico da região pelas potências ocidentais, é mais uma vitória histórica para a luta anti-imperialista no continente africano. Também na região do Sahel, o povo senegalês tem travado uma intensa luta contra o regime pró-imperialista, que aprofundou sua repressão fascista apoiada pelo Ocidente contra as forças populares. A recente vitória eleitoral após 12 anos de intensa luta é uma conquista significativa do movimento popular no Senegal. Por trás das grandes conquistas da luta anti-imperialista na África está o espírito do pan-africanismo combativo e revolucionário. Isso combinou a constante reflexão e a prática de corajosos revolucionários africanos com a grande onda global de luta por libertação nacional que surgiu da histórica vitória sobre o fascismo, alcançada pelas forças socialistas tendo a URSS à frente durante a Segunda Guerra Mundial. Os revolucionários que lutaram pela libertação africana, incluindo Amílcar Cabral, cujo centenário de nascimento celebramos este ano, transcenderam as fronteiras artificialmente criadas pelos imperialistas, destruíram suas táticas divisionistas e levantaram a bandeira da estratégia anti-imperialista e do socialismo como o verdadeiro caminho para a libertação do continente africano do colonialismo e do neocolonialismo. A luta e as atividades dos povos africanos para conquistar dignidade e direitos diante da agressão e do saque do imperialismo por cinco longos séculos confirmam o princípio revolucionário de que as forças imperialistas, cujo objetivo é a dominação e exploração, são os principais inimigos dos povos do mundo, e a verdade imutável de que onde há opressão, haverá resistência. O MUNDO CAMINHA PARA UMA TERCEIRA GUERRA MUNDIAL O campo imperialista está agora aprofundando sua marcha para a Terceira Guerra Mundial ao prolongar a guerra na Ucrânia, intensificar a guerra na Ásia Ocidental (Oriente Médio) e avançar em direção para uma nova guerra na Ásia Oriental e no Pacífico Ocidental. O exército fantoche neonazista ucraniano dos EUA-OTAN tem exigido que seus senhores autorizem mísseis de longo alcance para atingir o território russo, e muitos no campo imperialista querem suspender as restrições ao uso desses mísseis, forçando a Rússia a revisar sua doutrina nuclear de autodefesa. Apesar de perder em todos os principais campos de batalha, as agressivas forças imperialistas continuam provocando a Rússia e estão freneticamente tentando expandir e prolongar a guerra na Ucrânia. Usando seus representantes sionistas, o imperialismo dos EUA está avançando em direção a uma guerra mais ampla na Ásia Ocidental. A máquina de matar sionista, com total apoio dos EUA, da UE e da OTAN, continua massacrando palestinos em sua guerra genocida à Faixa de Gaza. Ao mesmo tempo, os sionistas têm bombardeado Beirute, sul do Líbano, Síria e Irã, assassinando entre outros, o comandante militar do Hezbollah e o presidente do bureau político do Hamas em julho, e seguiram, com o assassinato do secretário-geral do Hezbollah no final de setembro e do líder político-militar do Hamas em outubro. Em 1º de outubro, o Irã lançou a Operação “Promessa Verdadeira 2”, e desde então o Hezbollah tem se envolvido em combates intensos para repelir repetidas tentativas de invasão israelense ao longo da fronteira libanesa. As forças da resistência palestina continuam combatendo as forças coloniais sionistas na Faixa de Gaza, e o “Eixo da Resistência”, a partir da unidade das forças populares e armadas contra o imperialismo e o sionismo na região, anunciou sua intenção de lutar até o fim em caso de uma guerra total na Ásia Ocidental. Há sinais cada vez mais claros de que o campo imperialista em seus estertores está se preparando para uma guerra no Pacífico Ocidental, na qual Austrália e Nova Zelândia também estarão envolvidas, expandindo seus planos de guerra na Ásia Oriental e as provocações por forças militares do Japão, “República da Coreia” (ROK), Taiwan e Filipinas. O campo imperialista tem realizado seu plano de “pacificação” a partir da Cúpula da OTAN em Washington em julho de 2024 por meio de exercícios militares multinacionais em larga escala no Pacífico, nos quais participaram os países beligerantes pró-EUA do Pacífico Ocidental juntamente com membros da OTAN. Os EUA e os países beligerantes vassalos têm conformado blocos e alianças militares agressivas e conduzido exercícios militares conjuntos através dessas “alianças”. É profundamente preocupante que a marcha em direção a uma guerra na península coreana possa desencadear uma guerra mais ampla na Ásia Oriental e no Pacífico Ocidental. Os EUA, o Japão e a “República da Coreia” (ROK) concordaram com um “sistema de segurança coletiva” no mesmo modelo da OTAN, realizando exercícios militares conjuntos para avançar em uma “OTAN do Nordeste Asiático”. O regime fantoche de Yoon Suk-yeol na “ROK” conduziu exercícios militares conjuntos com os EUA visando a RPDC ao longo de agosto, culminando em uma repressão fascista até mesmo contra os partidos políticos constitucionalmente reconhecidos no final deste mesmo mês. Os líderes da oposição na “ROK” chegaram a apresentar evidências de que o governo de Yoon está tramando uma guerra local para justificar a declaração de lei marcial e consolidar seu regime antipovo. Enquanto isso, os EUA estabeleceram um comando unificado com as forças japonesas, que estará operacional no início de

Carmen Villalba: “Um revolucionário comunista deve acreditar no povo pobre”

Esta é a segunda vez que entrevisto Carmen Villalba, prisioneira política comunista do Exército do Povo Paraguaio (EPP) que está encarcerada há 17 anos. Desta vez cheguei até ela logo depois de escutar um áudio profundamente doloroso, após o regime paraguaio assassinar suas duas sobrinhas, as meninas argentinas Maria Carmen e Lilian Mariana, de 11 anos, que foram torturadas e fuziladas pelo exército, treinado por forças repressoras colombianas. Confesso que minha intenção era descobrir também o que ela pensa, e para além da verborragia e das mentiras da mídia hegemônica, saber as razões que a levaram a militar pela causa comunista, assumindo as consequências de tal decisão em um mundo dominado e aviltado pelo capitalismo. De um poço escuro que destrói qualquer ser humano, a prisão, Carmen Villalba não reclama de sua situação e assinala que ela é semelhante ao “sofrimento e as dificuldades da vida cotidiana do trabalhador, do camponês ou do indígena, que sofre em uma prisão ao céu aberto”. Apesar das dificuldades, ela continua otimista de que um dia, os povos cantarão a vitória.   Carlos Aznárez: Gostaria que nos contasse em que momento da sua vida tomou consciência e por que iniciou sua militância? Carmen Villalba: Quando tinha 13 anos, comecei a me perguntar por que faltava comida em minha casa e nas casas dos meus amigos do bairro. Apesar do trabalho árduo da minha mãe, que fez tudo, ainda não havia comida suficiente. Desde crianças fomos obrigados a sair para trabalhar, o trabalho e os esforços de minha mãe não eram suficientes. Meu irmão Osvaldo tornou-se carpinteiro desde os 7 anos de idade. A negação de direitos, a pobreza, são elementos que induzem um espírito rebelde a se perguntar, a buscar respostas, conduzem a uma consciência crítica, embora isso não seja o único fator determinante para dar um salto para a prática. Como disse José Saramago em A Caverna: “uma pessoa não é uma coisa que se larga num lugar e fica lá, uma pessoa se move, pensa, pergunta, questiona, duvida, investiga, quer saber e se é verdade que, forçada pelo hábito da conformação, acaba, mais tarde ou mais cedo, subjugada, mas não acredita que a sujeição, em todos os casos, é para sempre”. Não somos apenas sujeitos que executamos, mas também sujeitos que pensamos. Cresci em um bairro muito pobre de Concepción, às margens do rio Paraguai, entre pescadores e carpinteiros. A combinação do ambiente político crítico e de pobreza me levou a posições revolucionárias, e com o tempo isso amadureceu e se tornou uma forma de pensar e viver. No âmbito do tema político revolucionário, o elemento que norteou e orientou meus primeiros passos foi exercido pelo meu irmão mais velho, que era politicamente crítico para um ambiente interiorano, e foi também influenciado por alguns religiosos franceses, da Fraternidade dos Pequenos Irmãos de Jesus. Professores da Teologia da Libertação, eles encarnaram sua pregação com coerência, vivendo sua fé ao lado dos trabalhadores ribeirinhos como fabricantes de tijolos e ladrilhos. Eles viviam com seus salários, longe do ambiente abastado e cínico da Conferência Episcopal Paraguaia e da hierarquia católica, cujos votos de pobreza carregam apenas em suas bocas. Nunca esqueço aquela bela comunidade de religiosos, eles moravam em uma pequena casa no bairro operário de Concepción, não tinham móveis, usavam poltronas rústicas para as visitas e sentavam-se em almofadas no chão para dar as aulas de formação e reflexão política, que eu frequentava com pontualidade religiosa. Com eles tive meus primeiros contatos com a ciência proletária, o marxismo-leninismo. Aqueles encontros memoráveis de adolescente marcaram para sempre minha vida e meu pensamento político. Tenho muito a agradecer a essa atmosfera de solidariedade, de ideias críticas e à minha mãe que me deixou crescer com o pensamento livre e crítico, mesmo que ela não concordasse comigo. A IDEOLOGIA Carlos Aznárez: No âmbito da militância em que está envolvida, além da identificação com o marxismo-leninismo, se reivindica Gaspar Rodriguez de Francia. Qual é a razão para esta definição? Carmen Villalba: Em minha cidade natal, Concepción, dei meus primeiros passos de militância na luta estudantil, em minha escola, na criação do centro de estudantes. Nestes espaços entrei em contato com o que mais tarde se tornaria minha primeira experiência política em um partido de esquerda. Meu caráter veemente e meu entusiasmo por ingressar em uma organização revolucionária me fez abandonar a escola assim que terminei meus exames do quinto ano. Em 1991, embarquei em uma viagem desconhecida, migrando para a capital, onde, em uma semana após minha chegada, consegui um trabalho e me instalei em um lugar, na segunda semana ingressei para a corrente Pátria Livre. Após um ano de militância política em dois departamentos do interior, o partido me integrou na célula clandestina que vinha preparando. Vários camaradas carregamos sobre nossos ombros, com convicção e responsabilidade, a orientação do partido. Sabíamos que isso implicava riscos, mas isso não desencorajava nossa disposição em lutar. Enquanto se trabalhava na formação de estruturas clandestinas e na solução do problema financeiro, ocorreu o sequestro de María Edith de Debernardi, nora do ex-homem forte e ministro das finanças de Stroessner. Daí minha prisão e minha sentença de 18 anos, que cumpro integralmente no próximo ano. A luta passou a ser a razão e o sentido de nossas vidas, renunciamos a nossas famílias e nosso passado, as condições da luta futura exigiam entrega, alta disciplina e compartimentação. Fomos todos jovens que abraçamos a luta revolucionária. Isto, relato aqui como uma síntese de uma parte da história da luta de classes. Em 2001, a feroz contraofensiva da burguesia e do Estado encontrou uma liderança reformista, esmagada pelos acontecimentos, não disposta a sustentar um projeto político revolucionário que articulou e organizou, mas do qual acabou desistindo. Depois veio o colapso, a rendição e a liquidação do Partido. A liderança superior do Pátria Livre acabou traindo seus companheiros presos, centenas de quadros e a luta revolucionária no Paraguai. É necessário fazer as críticas e as autocríticas, todos nós temos limitações, ninguém é infalível, é até

¡BOLSONARO NUNCA MÁS! Por nuestros muertos, contra el hambre y la destrucción de los derechos del pueblo

Traduzido pelo Movimiento Rebelión Popular El primer turno de las elecciones, contrariando gran parte de las encuestas, consolidó la avalancha reaccionaria del bolsonarismo en las disputas para los gobiernos estatales, senado, cámara federal y asambleas legislativas. Utilizando la maquinaria pública, el abuso del poder y la corrupción institucionalizada mediante el presupuesto secreto, la extrema derecha y el llamado centro consiguieron elegir la mayoría en el parlamento, abriendo incluso la posibilidad de controlar el poder judicial y el ejecutivo en el próximo período, en caso de que Bolsonaro consiga revertir la derrota con el pequeño margen que sacó Lula en el primer turno para las elecciones presidenciales. En un proceso electoral fuertemente marcado por el rechazo a ambos lados y el voto útil, la alianza entre el bolsonarismo y los partidos de la derecha fisiológica amenazan el futuro de Brasil. El gobierno criminal, genocida y deshumano de Jair Bolsonaro, apoyado por políticos deshonestos, militares fascinerosos, sectores de la burguesía y el agronegocio, es responsable por los peores ataques contra el pueblo brasileño en la historia de nuestro país. Las millares de muertes por COVID 19 a causa del negacionismo y del atraso de las vacunas, la vuelta al mapa del hambre, los niveles récord de desempleo e informalidad, la inflación galopante y el alto costo de vida, el desmantelamiento de programas sociales, el favorecimiento de la destrucción ambiental y los ataques a los servicios públicos como la salud, educación y seguridad social son algunas de las atrocidades contra nuestro pueblo cometidas por un gobierno reaccionario, oscurantista y neoliberal. Esta es una elección atípica donde la mayoría del pueblo pobre y trabajador dio la victoria a Lula en el primer turno, demostrando principalmente la insatisfacción y la repulsa popular contra este gobierno de canallas y estafadores. Por otro lado, además de utilizar la máquina de noticias falsas y comprar votos con dinero público, usar las iglesias evangélicas para promover terror psicológico, hacer una campaña racista contra nordestinos, patrones y gestores ligados al bolsonarismo se han movido en el sentido de dificultar que el pueblo vote por Lula y derrote a Bolsonaro en las urnas. Considerando que en esta coyuntura especial la táctica electoral de las organizaciones revolucionarias y movimientos combativos no pasa por incentivar la abstención, bajo el riesgo de cumplir el papel de línea auxiliar del fascismo bolsonarista. Debemos tener en cuenta que el circo electoral de esta falsa democracia tiene como función principal alternar gobiernos de turno y ajustar los niveles de miseria y explotación de nuestra gente. El proceso electoral para el pueblo trabajador no es sino una elección de cuáles de sus enemigos van a gerenciar el estado capitalista. La clase trabajadora brasileña, desmovilizada por décadas de hegemonía petista y por los gobiernos de conciliación, se encuentra en una situación defensiva. Desorganizado y fragmentado nuestro pueblo batalla diariamente para sobrevivir, pero sin los instrumentos de lucha colectiva y sin capacidad de organización para enfrentar los ataques de los de arriba, pues fue desarmado por las direcciones traidoras de las centrales sindicales y por los dirigentes conciliadores de la izquierda domesticada y electoralista. Un posible segundo mandato de Bolsonaro, sumado a la profundización de la crisis capitalista que despunta internacionalmente, puede sumir en poco tiempo a nuestro país en una situación de completa barbarie, con ampliación del hambre y la miseria, la destrucción de los pocos derechos sociales que nos quedan, el fin de los servicios públicos y las privatizaciones criminales. Por todo eso, la lucha contra el bolsonarismo en el segundo turno debe tomarse de forma objetiva, además de la movilización de base, la organización de autodefensas y de las intervenciones de propaganda; la defensa del voto pragmático en Lula contra Bolsonaro sin que eso signifique comprar las ilusiones colaboracionistas vendidas por el petismo y mucho menos avalar el programa neoliberal del frente amplio formado en torno de la candidatura de Lula. Es preciso barrer el bolsonarismo de vuelta a la cloaca, y más allá del proceso electoral es fundamental avanzar en la organización y la movilización, construyendo un programa popular y revolucionario para luchar por las urgencias de nuestra gente y por la justicia social, apuntando como camino a la construcción de los organismos de poder popular, de los instrumentos de autodefensa popular y de la revolución socialista como nuestro horizonte y única solución. Como nos enseñó Marighella: “por el camino del voto, el pueblo brasileño jamás conseguirá su liberación”. ¡DERROTAR EL BOLSONARISMO! ¡MUERTE AL FASCISMO! ¡ORGANIZAR Y RADICALIZAR LAS LUCHAS DEL PUEBLO! UNICA SOLUCION, REVOLUCION! Movimento de Unidade Popular – MUP Octubre de 2022 – Brasil.

A agonia do imperialismo: nota sobre o conflito militar entre a Federação Russa e a OTAN/EUA

A operação militar russa na Ucrânia tomou conta dos noticiários e debates nas últimas semanas. Toda a grande mídia capitalista repete insistentemente a propaganda de guerra dos Estados Unidos e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) em uma avalanche de desinformação e mentiras contra a Rússia, ao mesmo tempo em que tenta promover o presidente-comediante Volodymyr Zelensky e os bandos neonazistas ucranianos à condição de heróis. Uma onda russofóbica, acompanhada pela demonização da figura de Vladimir Putin e censura às mídias russas, se espalha pelo ocidente e o conflito militar pode tomar grandes proporções na Europa, incluindo a utilização de armas nucleares em caso de envolvimento direto da OTAN. O tema de fato é importante, pois as sanções impostas pelos EUA e pela União Europeia contra a Federação Russa devem aprofundar a crise capitalista global, e consequentemente, afetar o cotidiano das classes trabalhadoras por todo o mundo. No Brasil, as péssimas condições de vida da maioria do povo que foram ampliadas com os efeitos da pandemia, da crise ambiental e da gestão genocida e neoliberal do miliciano Jair Bolsonaro, devem ser agravadas com uma nova alta nos preços dos itens básicos e dos combustíveis, com o aumento da inflação e do custo de vida. O governo neofascista de Bolsonaro, que adotou uma posição dúbia em relação ao conflito, em conjunto com o Congresso Nacional de ladrões tem utilizado o tema da escassez de fertilizantes vindos da Rússia e de Belarus para avançar no projeto que libera a mineração em territórios indígenas, atacando os povos originários. Essa situação para a qual a Rússia foi empurrada pela OTAN/EUA, após diversas advertências e tentativas frustradas de negociações diplomáticas, tem como interesse escuso ampliar a guerra econômica contra o país, com a Ucrânia sendo usada como palco para o conflito. Na operação militar russa, que possui um caráter defensivo após a OTAN e o governo ucraniano iniciarem a preparação de uma operação para invadir e retomar o Donbass e cujo objetivo anunciado e concreto é “desnazificar e desmilitarizar” o regime de Kiev, se joga o fim da hegemonia absoluta dos EUA sobre o mundo e uma nova ordem multipolar. A vitória russa sobre a OTAN e os neonazistas armados por ela, que mataram milhares de civis ao longo desses últimos oito anos na região do Donbass, é fundamental para todos os povos. Nenhuma nação poderá ser plenamente soberana, e muito menos, qualquer revolução socialista verdadeira poderá avançar, enquanto o imperialismo norte-americano, principal inimigo da humanidade, for a polícia do mundo. Por isso, mesmo considerando todas as contradições que envolvem o conflito e o próprio caráter conservador em muitos aspectos do nacionalismo grão-russo de Vladimir Putin, a defesa intransigente da derrota da OTAN e do regime nazi-fascista ucraniano, assim como, o triunfo das repúblicas populares de Donetsk e Lugansk, é a única posição coerente e anti-imperialista que deve adotar o campo socialista e revolucionário. A Ucrânia é uma nação que vive décadas de uma profunda divisão interna. O país que integrou a antiga União Soviética até sua dissolução em 1991, é fortemente polarizado entre sua parte ocidental, que reivindica um pertencimento a Europa, e todo o seu leste, que possui uma importante identidade político-cultural com a Rússia. Em 2014, violentos protestos contra o presidente eleito pela maioria pró-russa, que ficaram conhecidos como Euromaidan, derrubaram o governo de Viktor Yanukovych e um golpe de Estado de caráter fascista se consolidou com o novo governo do bilionário Petro Poroshenko. A população do leste passou a ser fortemente reprimida e o Massacre de Odessa, quando 42 antifascistas foram queimados vivos na Casa dos Sindicatos se tornou um símbolo dessa brutalidade nazi-fascista. Em referendo, a região semiautônoma da Crimeia decidiu se desmembrar da Ucrânia e retornar à Federação Russa. As organizações comunistas foram colocadas na ilegalidade, enquanto as forças armadas ucranianas, tendo à sua frente batalhões neonazistas e milícias banderistas (ideologia que faz referência a Stepan Bandera, um colaborador de Hitler na Segunda Guerra que chefiou a Organização dos Nacionalistas Ucranianos), passaram a atacar a população civil identificada com a Rússia por todo o país. Entre estes setores, que consideram os povos eslavos como uma sub-raça que deve ser dizimada, se destacaram os batalhões neonazistas de Azov e Aidar, a milícia supremacista Centúria, a confederação de organizações nazi-fascistas Pravy Sektor e o partido nazista Svoboda. O governo de Volodymyr Zelensky, que assumiu em 2019, seguiu ampliando esses ataques e desrespeitando o Tratado de Minsk, incorporando os setores neonazistas ao Estado e aumentando a presença da OTAN/EUA, além de proibir a língua russa no país. A OTAN, que insuflou e apoiou a “revolução colorida” de 2014 no país, após o golpe de Estado passou também a treinar e armar a extrema-direita ucraniana, implantando inclusive laboratórios para produção de armas biológicas, enquanto parte do povo do leste, muito identificado com o passado soviético, nessa região conhecida como Donbass, se levantou contra o governo fascista e os bandos neonazistas. Com a destacada participação dos sindicatos de trabalhadores e das organizações de esquerda foram fundadas as repúblicas populares de Donetsk e Lugansk, contando com o apoio russo e para onde confluíram também brigadas internacionais antifascistas. Essa região do leste da Ucrânia foi historicamente, durante a grande revolução socialista e a guerra civil russa (1917-22), o território livre autogovernado por operários e camponeses que ficou conhecido como Makhnovtchina, por conta do líder do Exército Revolucionário Insurgente que venceu a contrarrevolução, o camponês anarquista Nestor Makhno. A Rússia é atualmente um país cuja economia é baseada na exportação de commodities, principalmente de petróleo e gás natural para a Europa, mas que possui suas áreas estratégicas nacionalizadas e uma importante capacidade militar, em grande parte herdada da URSS. Com o fim do governo vassalo ao imperialismo de Boris Iéltsin, que sucedeu o desastroso colapso da União Soviética, a ascensão do nacionalismo grão-russo de Putin e o início da recuperação econômica do país a partir dos anos 2000, tiveram início as hostilidades entre a Federação Russa e os EUA. A OTAN, organização fundada após

O internacionalismo deve ser prioridade: o exemplo guevarista para a esquerda revolucionária

Por J. Nascimento, na coluna Debate MUP* Hoje existem várias iniciativas de articulação internacional mantidas pela esquerda revolucionária e anti-imperialista no mundo, algumas mais orgânicas e outras puramente voluntaristas. Das mais orgânicas podemos citar a Liga Internacional de Luta dos Povos (ILPS) e o Movimento Comunista Internacional como iniciativas de partidos maoístas, algumas das muitas frações trotskistas que reivindicam a continuidade da Quarta Internacional, a Confederação Internacional do Trabalho (CIT/ICL), uma articulação de organizações sindicalistas revolucionárias e anarcossindicalistas, ou mesmo, articulações do campo reformista ou apenas sindical, como é o caso do Encontro Internacional de Partidos Comunistas e Operários (IMCWP), da Federação Sindical Mundial (WFTU), da Via Campesina e da Coordenação Latino Americana de Organizações do Campo (CLOC). As de caráter voluntarista se traduzem principalmente em campanhas pontuais ou comitês como os que existem em solidariedade a Rojava e ao povo curdo, a causa palestina e contra o Estado de Israel ou ao Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) e o Congresso Nacional Indígena (CNI), por exemplo. Apesar de todas estas iniciativas serem importantes, é notável a falta de capacidade para gerar alguma resposta política conjunta neste período de crise pandêmica, social e política. A atual crise mostra que é preciso resgatar a solidariedade ativa e o internacionalismo proletário para o campo da ação política, pois somente os fóruns de discussão ou as notas públicas não dão conta dos desafios da atual fase da luta de classes. Especialmente no Brasil, iniciativas de articulação internacional parecem ignorar a necessidade de construção de elos mais sólidos com nossos vizinhos. Os mesmos setores que fazem campanhas e vibram com a resistência armada no distante Curdistão, com maoístas na Índia e nas Filipinas, ou mesmo fazem uma espécie de “adesão poética” aos zapatistas no México, ignoram os homens e mulheres em armas que combatem em nas selvas e zonas rurais sul-americanas, principalmente na Colômbia com o Exército de Libertação Nacional (ELN), no Paraguai com o Exército do Povo Paraguaio (EPP) e, em menor escala, com a insurgência mapuche mantida pela Coordinadora Arauco-Malleco (CAM) no Chile. O interesse pelas lutas em outros países parece ser orientado de acordo com os vínculos ideológicos, a repercussão midiática e o fetiche pequeno-burguês com as “minorias”, por vezes benevolente e quase sempre descompromissado, ou seja, critérios nem um pouco objetivos. Nos dias 11, 12 e 13 de fevereiro foi realizado o XIII Encontro Guevarista Internacional em Montevidéu, Uruguai. O encontro contou com representações de países da América do Sul em um momento oportuno, pois a desorientação política impera nos meios de esquerda, o oportunismo reformista e o progressismo neoliberal ganham mais fôlego a cada dia. O encontro teve como objetivo o alinhamento político da militância revolucionária espalhada pelo nosso continente para combater as burguesias nacionais, o avanço imperialista e a conciliação dentro dos movimentos da classe trabalhadora. Este espaço de unidade e troca de experiências entre diferentes organizações revolucionárias, além de ser extremamente necessário neste período de avanço do conservadorismo e do oportunismo de esquerda, também cumpre o papel de manter vivo o legado do internacionalismo latino-americano, que foi fundamental para resistência contra as ditaduras militares à serviço de Washington nas décadas de 1960/70 e nas lutas anticoloniais pelo mundo, por isso, todos devemos nos espelhar e saudar esse importante encontro. Experiências impulsionadas pelos ventos da Revolução Cubana e do guevarismo como a OSPAAAL (Organização de Solidariedade com os Povos da Ásia, África e América Latina), a Organização Latino-Americana de Solidariedade (OLAS), e depois, a Junta de Coordenação Revolucionária (JCR), devem servir para inspirar novas redes internacionais de solidariedade na América Latina e o apoio ativo às lutas insurgentes de nossos povos. Um encontro como esse num momento de crise global, onde na maior parte do mundo os trabalhadores encontram-se esmagados pelo capital, mesmo pequeno, aponta a articulação internacional entre a esquerda revolucionária como uma das saídas para a atual impotência política. Mas também serve de estímulo para os revolucionários brasileiros entenderem de uma vez por todas que se tratando de América do Sul, o Brasil é um país determinante no que diz respeito à economia, política e poder militar, sendo assim a relação internacional com nossos vizinhos deve ser uma prioridade estratégica e não uma questão de simpatia ideológica ou uma simples manifestação de solidariedade. O slogan “trabalhadores do mundo, uni-vos!” imortalizado pela Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT), significou muito mais do que um princípio ou ideologia reivindicada pelos trabalhadores do mundo em luta contra o capital, foi uma necessidade de resposta à aliança internacional da burguesia, seus Estados e aparelhos ideológicos. Contudo, mais do que uma necessidade, representava estratégias revolucionárias distintas dentro do movimento proletário internacional. Para os discípulos de Marx os países mais desenvolvidos ocupavam papel central na estratégia de conquista poder, por esses países concentrarem maior contingente do proletariado industrial e em tese possuírem um maior grau de consciência de classe. Já para os partidários de Mikhail Bakunin, os países periféricos eram o foco da estratégia, pois a exploração nas margens do capitalismo era a base de sustentação dos países centrais e os trabalhadores estariam, em tese, menos domesticados pela institucionalidade burguesa. O fato é que independente da melhor estratégia ou dos objetivos finais distintos, ambas as escolas socialistas tinham como horizonte revolucionário a destruição do poder estatal-burguês, além de contribuírem para a expansão das ideias socialistas pelo globo. Um exemplo disso é que graças a estratégia bakuninista de construção da periferia para o centro, assimilada por diferentes correntes anarquistas, o sindicalismo combativo se expandiu para além da Europa e da América do Norte, constituindo as raízes de praticamente todo movimento operário latino-americano. Com o declínio da União Soviética e a cristalização da hegemonia do reformismo na esquerda, houve o abandono progressivo das perspectivas de tomada de poder. Se na Primeira Internacional as divergências estratégicas sobre o internacionalismo residiam em diferenças de base teórica, pois mesmo Marx e Engels apontando como útil a disputa eleitoral, tal tática era subordinada ao objetivo de organizar as massas para uma ruptura violenta, algo que pode ser constatado

Palestina: Massacre Sionista e Nova Intifada

O Estado sionista de Israel iniciou uma nova ofensiva contra o povo palestino, são ataques covardes à Faixa de Gaza, utilizando inclusive bombardeios com armas químicas, que já mataram pelo menos 90 palestinos, incluindo 20 crianças. Esta nova onda de violência israelense ocorre nos últimos dias do mês sagrado muçulmano do Ramadã. Os eventos tiveram início com a repressão na Mesquita de Al-Aqsa e a resistência palestina contra os despejos no bairro de Sheikh Jarrah, em Jerusalém Oriental. A polícia israelense deixou mais de 300 palestinos feridos na Esplanada das Mesquitas, centenas de nazi-sionistas marcharam nas ruas gritando “morte aos árabes” e o massacre se estendeu até a Porta de Damasco, entrada do bairro muçulmano Sheikh Jarrah, onde famílias palestinas resistem a mais uma invasão de colonos israelenses. Desde o início do Ramadã, a polícia israelense tenta impedir que palestinos celebrem seu mês sagrado, o que gerou protestos em Jerusalém, Haifa, no norte de Israel, e nas proximidades de Ramallah, na Cisjordânia. A Mesquita de Al-Aqsa é o terceiro local mais sagrado do Islã e os conflitos se intensificaram com a celebração anual sionista da conquista de Jerusalém Oriental e da Cidade Velha por setores da extrema-direita israelense, que chamam a data de “Dia de Jerusalém”. Da repressão em Jerusalém e em Sheikh Jarrah, e a exigência pela resistência palestina pelo fim dos massacres, da repressão e das prisões, o governo israelense do corrupto e nazi-sionista Benjamin Netanyahu iniciou uma suposta vingança contra foguetes lançados pelo Hamas, com ataques aéreos contra Gaza e disparos de tanques e navios de guerra por todo o território, atingindo residências palestinas, escolas, entidades civis, fábricas e plantações. Nessa madrugada de 12 de maio, Israel bombardeou a Faixa de Gaza com fósforo branco, arma química que tem uso proibido internacionalmente. Tudo isso ocorre com a complacência do governo democrata de Joe Biden nos EUA, e mesmo diante da condenação da comunidade internacional, tudo indica que Israel deve seguir com seus ataques e com o holocausto que promove contra o povo palestino. Desde a Nakba (catástrofe, em árabe) em 1948, o povo palestino resiste heroicamente ao Estado sionista de Israel. São 73 anos de apartheid com a negação de direitos aos palestinos, expropriação de terras e expulsão forçada, despejos arbitrários, demolição de casas, bombardeios aéreos, invasões de tanques de guerra, assassinatos deliberados, ataques a refugiados, imposição do exílio e ocupação militar. Mesmo diante de tudo isso, Israel, que impede também o acesso palestino às vacinas contra a Covid-19, tenta pintar a resistência do povo palestino e o movimento internacional de apoio à causa palestina como antissemita, utilizando-se de um gigantesco lobby judaico que compra diversos setores para tentar pintar o sionismo como vítima do próprio massacre que promove, organizando uma espécie de 4º Reich contra os territórios palestinos e repetindo os métodos da Alemanha nazista contra judeus, visto também que o sionismo parte do mesmo princípio de “povo escolhido” usado pelos arianos. Israel é uma peça fundamental do genocídio transnacional, o Estado fantoche do imperialismo norte-americano, exporta sua tecnologia e inteligência militar para as polícias e a repressão dos Estados em todo o mundo, por isso mesmo, o genocídio do povo negro e pobre aqui no Brasil tem uma relação direta com o holocausto palestino promovido por Israel. O povo palestino em mais de 7 décadas de resistência heroica merece nossa solidariedade permanente para que avance até uma nova intifada contra Israel. Defender a Palestina é nossa obrigação internacionalista e humanitária. As intifadas, termo que pode ser traduzido como rebelião, revolta ou insurreição, ocorreram em 1987 e 2000, e duraram alguns anos. A situação atual indica uma nova insurreição palestina contra Israel, que precisa ter a solidariedade ativa de lutadores e lutadoras de todo o mundo, ampliando os movimentos de boicote, os atos internacionalistas e a agitação e propaganda em apoio à resistência contra Israel. A causa e bandeira palestina devem tremular nas ações, lutas e atividades dos movimentos populares. A luta palestina em Gaza, Cisjordânia e nos territórios ocupados pelo nazi-sionismo de Israel é a luta da humanidade contra a barbárie. TODO APOIO À RESISTÊNCIA DO POVO PALESTINO CONTRA OS COVARDES ATAQUES ISRAELENSES!

Colômbia: parar o massacre com a Revolução Social

A Greve Geral iniciada em 28 de abril que tomou contornos insurrecionais na Colômbia vai chegando há uma semana ininterrupta, com as ruas tomadas pela revolta do povo em luta em diversas cidades e departamentos do país. O Paro Nacional convocado pelas organizações sindicais, populares, estudantis e indígenas derrotou a reforma tributária anti-povo e o governo narcoterrorista do uribista Iván Duque respondeu às mobilizações radicalizadas com uma brutal repressão. Foram até o momento diversos massacres, com cenas bárbaras de manifestantes sendo fuzilados nas ruas, além de um decreto para a militarização das cidades. A polícia nacional e o ESMAD (Esquadrão Móvel Anti-Motim) assassinaram, segundo as informações mais atualizadas, pelo menos 35 pessoas e prenderam mais de 400 lutadores do povo, além de registros de estupros e ferimentos graves de centenas de manifestantes pela repressão. A resistência heroica do povo colombiano segue nas ruas, com a continuidade da Greve Geral e a unidade popular das organizações de trabalhadores, indígenas e afro-colombianas para derrotar o governo fascista de Iván Duque. O protagonismo e a coragem da juventude combativa no enfrentamento à repressão e a autodefesa popular são importantes elementos das mobilizações. A convergência entra as mobilizações radicalizadas, a Greve Geral e os movimentos insurgentes que atuam no país é agora fundamental e podem fazer a luta do povo colombiano avançar até a derrubada do governo uribista e o início de um processo revolucionário com tomada do poder pelo povo em luta. VIVA A GREVE GERAL INSURGENTE!ABAIXO O GOVERNO NARCOTERRORISTA DE IVÁN DUQUE!MORTE AO URIBISMO!PARAR O MASSACRE COM A REVOLUÇÃO SOCIAL!

Cherán K´eri, autogoverno e exemplo para os povos

No último dia 15 de abril, o autogoverno popular-indígena de Cherán K’eri, município do planalto purhépecha no estado de Michoacán, no México, celebrou os 10 anos do levante armado que libertou a cidade, expulsou o crime organizado, a polícia e os partidos políticos institucionais, dando origem ao autogoverno local baseado em conselhos comunitários de decisão coletiva, que funcionam segundo os próprios usos e costumes do povo purhépecha.   Em 2011, em um processo de libertação dirigido pelas mulheres indígenas, os cerca de 20 mil habitantes se ergueram contra os cartéis do crime organizado e as autoridades locais cúmplices do corte clandestino de árvores, da devastação dos bosques e dos assassinatos e sequestros pelo narcotráfico. Caminhões usados para o transporte de madeira foram incendiados, barricadas levantadas nas entradas da cidade, e o presidente municipal do PRI, cargo equivalente ao de prefeito, foi expulso da cidade, com o Palácio Municipal sendo ocupado pelo povo em armas. A assembleia comunitária para as discussões e decisões coletivas deu origem ao Concejo Mayor de Gobierno de Cherán K’eri, organismo de autogestão local que coordena 8 conselhos populares e administra as quatro zonas de Cherán. A Ronda Comunitária, formada por homens e mulheres, é o organismo de autodefesa popular, que funciona como uma polícia comunitária e patrulha os bairros da cidade purhépecha. Um organismo de justiça popular também foi instalado para julgar crimes locais, que se relacionam principalmente com o abuso de álcool. Os níveis de violência foram quase reduzidos à zero nesse período de autogoverno. Em fevereiro de 2012, o povo de Cherán apelando para leis internacionais conseguiu o direito legal na justiça mexicana à autodeterminação social e política, sendo o primeiro município autogovernado legalmente e reconhecido no México, inspirando outros povos indígenas do país. A conquista de Cherán como “município indígena”, assim como, a legalidade do seu governo comunitário a partir dos “usos e costumes”, está baseada nos artigos 5 e 6 do Convênio 169 da OIT, ratificado no México em 1990, assim como nos artigos 18 e 19 da Declaração das Nações Unidas sobre os Diretos dos Povos Indígenas, assinada em 2007. As mesmas fogueiras que foram instaladas no levante de 15 de abril de 2011 nas rotas dos caminhões dos talamontes (como são chamados os madeireiros ilegais ligados ao narcotráfico), continuam servindo hoje, 10 anos depois, como pontos de reuniões comunitárias onde ocorrem as assembleias de bairro, se tratam dos problemas locais e se decidem os representantes perante outras instâncias. Simbolizam também o “deus do fogo”, principal entidade espiritual dentro da cosmovisão purhépecha. A gestão eleita para o período de 2018-2021 do Concejo Mayor de Gobierno organizou neste mês de abril de 2021 uma grande programação de atividades para celebrar os 10 anos de autogoverno comunitário de Cherán. Durante a pandemia de Covid-19 os conselhos comunais organizaram também campanhas de saúde e prevenção. Cherán K’éri, a partir de seu autogoverno popular-indígena, da defesa do meio ambiente, do protagonismo das mulheres, da valorização da ancestralidade e dos organismos comunitários de autodefesa e justiça popular, representa hoje a esperança dos povos em decidir o próprio destino e o exemplo de autogestão e autodeterminação. Cherán, após 10 anos, segue resistindo e em alerta contra os cartéis que atuam em dos municípios próximos, apontando o caminho da libertação.     

Manifesto do 1º de Maio Global – UM MUNDO, UMA LUTA!

Em todo o mundo, nós, trabalhadoras e trabalhadores, somos submetidos a níveis de superexploração para aumentar as taxas de lucro dos capitalistas e seu sistema de produção. Independentemente do nosso lugar de residência, de nosso gênero, sexualidade e nacionalidade, querendo ou não, estamos envolvidos em uma mesma luta. Os cortes nos serviços públicos e sociais, a precarização do trabalho, o arrocho salarial, as privatizações, o aumento do custo de vida, assim como a mercantilização da educação e a destruição dos ecossistemas e do meio ambiente, são apenas alguns dos sintomas do sistema econômico global. Um sistema baseado na exploração e na competição, que impõem a mercantilização de todos os aspectos de nossas vidas. Vivemos em uma situação crescente de exploração, assim como, de alienação de nossas necessidades e relações de trabalho. Isso ocorre tanto com trabalhadores como com os estudantes, e cada vez mais com jovens e crianças. A lógica dos mercados e dos Estados capitalistas impõem a produtividade e a competição acima do desenvolvimento humano. A reivindicação por uma Renda Básica Universal em nível global pode ser o primeiro passo para avançar na superação das relações de superexploração dos trabalhadores. Não pretendemos apenas parar, pretendemos impor nossas demandas. Considerando a natureza transnacional do sistema capitalista, também é necessário a articulação de trabalhadores e trabalhadoras em nível global. Conectando-nos através das fronteiras e das as relações globais que definem nossas condições locais, fazendo visíveis nossas lutas. Dessa forma, se abrem novas potencialidades e possibilidades de ação na luta contra a exploração e as condições de vida e trabalho precários. A capacidade de luta dos trabalhadores aumenta muito com a unidade como classe trabalhadora internacional. Especialmente em tempos de chauvinismo e racismo, desejamos uma luta comum, e nos negamos a sermos jogados uns contra os outros. Por uma vida digna para todos e todas! Abaixo as fronteiras! Nota sobre a pandemia de Coronavírus O mundo segue atravessando a grave pandemia de Covid-19. Como em todas as crises, os trabalhadores e pobres são os mais afetados. Diversas empresas obrigam a continuar produzindo sem condições sanitárias, negando o direito à quarentena. Se aprofundam as demissões em massa e os trabalhadores autônomos e ambulantes não possuem qualquer assistência social. Imigrantes e refugiados vivem sem locais dignos e condições sanitárias mínimas. Nós, lutamos por: – Garantia de renda e necessidades básicas para todos trabalhadores e trabalhadoras do mundo; – Condições sociais e sanitárias dignas para todos e todas; – Garantia do acesso livre e gratuito as vacinas contra a Covid-19 para todo o mundo; – Imediata suspensão dos pagamentos de água, energia, gás, aluguéis, telefone e internet. Que os ricos paguem por sua crise! Participam da iniciativa do 1º de Maio Global 2021: SAC – Suécia ∙ CGT – Espanha ∙ IWW – Reino Unido ∙ IWW – Alemanha ∙ FAU – Alemanha ∙ GWTUC – Bangladesh ∙ FOB – Brasil ∙ IP – Alemanha ∙ SR1M – Alemanha ∙ IWW – Irlanda Leia a chamada original em inglês e outros idiomas em globalmayday.net/gmd2021

Haiti: por uma nova Revolução Negra contra a ditadura neoliberal

O povo haitiano protagonizou a primeira revolução libertadora latino-americana, abolindo a escravidão e conquistando a independência do país. A vitoriosa rebelião negra de São Domingos, liderada por Jean-Jacques Dessalines na abertura do séc. XIX (1791-1804), sacudiu o Caribe colonial, aterrorizou senhores de escravos e inspirou diversas rebeliões negras em todo o mundo. Mas desde sua libertação do domínio colonial francês, o país passa por um interminável ciclo de governos despóticos, intervenções estrangeiras, golpes, tiranicídios, rebeliões e profunda pobreza. Nos últimos meses o Haiti vive uma situação de rebelião popular permanente, com mobilizações massivas nas ruas contra o governo neoliberal de Jovenel Moïse, a corrupção e as condições sociais do povo, e ao mesmo tempo, entrou em uma nova uma espiral de caos e violência reacionária. A situação política se deteriorou ainda mais, quando em 7 de fevereiro desse ano o presidente reacionário Jovenel Moïse consumou um novo Golpe de Estado. Membro do partido neoliberal Tèt Kale (PHTK), o corrupto Moïse tem 52 anos e é empresário. Chegou ao poder em meio a acusações de fraude e após eleições com apenas 21% de participação, em 2016. A crise do seu governo teve início com o esquema de corrupção que desviou mais de 2 bilhões de dólares do fundo da Petrocaribe e das agressivas medidas neoliberais aplicadas, impostas após um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), que acabaram com os subsídios dos combustíveis e iniciaram a privatização do setor elétrico do país. Com o Golpe de Estado, Moïse tenta manter seu mandato indefinidamente usando a violência política paramilitar e a repressão contra o povo e a oposição, contando com o apoio de potências imperialistas, principalmente dos Estados Unidos, Canadá e França. O legislativo foi fechado em janeiro, após os parlamentares entregarem seus mandatos e agora o governo golpista quer alterar a constituição através de um referendo em 25 de abril organizado pelo Conselho Eleitoral Provisório (CEP), cujos membros foram indicados pelo próprio Moïse, e que tem o apoio da Organização das Nações Unidas (ONU) e da OEA. As centrais sindicais do país, organizações de trabalhadores rurais e urbanos, movimentos de mulheres, diversas agrupações da diáspora, além do próprio judiciário, parlamentares, câmaras empresariais, a Conferência Episcopal, setores evangélicos e a ordem dos advogados conformam a oposição e se colocam contra essa nova ditadura neoliberal, dando início a uma situação de duplo poder, já que o governo Moïse mantém o controle do Estado haitiano – em particular as suas forças repressivas – enquanto a grande maioria dos setores da sociedade civil decidiram nomear um presidente provisório – o juiz Joseph Mécène Jean Louis – com o objetivo de comandar o que chamam de “transição de ruptura” e convocar eleições a médio prazo. Esse presidente provisório tem o apoio de toda oposição, que inclui setores progressistas e liberais, assim como, nacionalistas e anti-neoliberais que se articulam no polo de oposição mais radical chamado de Fórum Patriótico Popular. O setor conservador da oposição, por sua vez, compete pelo apoio da Embaixada dos EUA. O grande número de fundações, agências de cooperação, ONGs coloniais e igrejas neopentecostais norte-americanas tentam cooptar e desmobilizar os movimentos de trabalhadores rurais e urbanos, mas isso não foi suficiente para impedir que o povo haitiano fosse para as ruas protestar em mobilizações radicalizadas e massivas contra o Golpe de Estado, a violência estatal, a corrupção e a ingerência estrangeira. As grandes mobilizações nacionais continuam nesse mês de abril. Em fevereiro, trabalhadores paralisaram o país com uma Greve Geral e outra foi convocada no último dia 15 de março. A longa tradição combativa e de luta pela vida do povo haitiano é marcada também por tragédias. Em 2010 um terremoto deixou cerca de 300 mil mortos e mais 300 mil feridos, destruindo parte da capital, Porto Príncipe. Após o terremoto, uma epidemia de cólera tomou conta da ilha afro-caribenha, que tem cerca de 10 milhões de habitantes e é um dos países mais pobres do mundo. Os governos imperialistas, principalmente os EUA, intervém e ocupam militarmente o Haiti por décadas, com a desculpa de realizar “missões humanitárias”. As últimas ações militares se deram com a ocupação da MICIVH (1993) e depois com a sanguinária Minustah (2004-2017), quando o país foi ocupado por tropas da ONU lideradas pelo Brasil durante os governos do PT/PMDB e coordenadas por figuras como carcomido e fascista general Augusto Heleno, atual ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do governo genocida Bolsonaro/Mourão. A ocupação militar do Haiti pela Minustah, com massacres, estupros e diversas violações de direitos humanos prepararam as tropas brasileiras para a inédita política de ocupação militar de territórios urbanos no Brasil, as Unidades de Polícia Pacificadora, as famigeradas UPPs, implementadas pela política de segurança pública genocida dos governos do PT/PMDB. Desde 1957 todos os governos haitianos tiveram intervenção do imperialismo norte-americano, que também patrocinou os golpes que derrubaram o governo do ex-padre progressista Jean-Bertrand Aristide, primeiro em 1996 e depois em 2004. O povo negro haitiano segue com uma disposição heroica de luta e resistência nas ruas, em um país destruído economicamente, esgotado pela pobreza extrema, tragédias ambientais, corrupção, políticas neoliberais e intervenções imperialistas. Apenas a unidade anti-imperialista e a aliança entre trabalhadores da cidade e do campo, a juventude combativa e as organizações populares podem derrotar a ditadura neoliberal de Jovenel Moïse e garantir a construção de um futuro digno para o sofrido povo haitiano. ABAIXO A DITADURA NEOLIBERAL DE MOÏSE E O IMPERIALISMO NO HAITI!TODO PODER AO POVO! POR UMA NOVA REVOLUÇÃO NEGRA E LIBERTADORA!